O futuro dos automóveis passa pela motorização eléctrica, sendo que a questão é de onde é que vai sair a energia. Hoje, a maioria dos construtores de automóveis considera que a melhor solução é armazenar a energia numa bateria, recarregável a partir da rede. Mas há sobretudo dois fabricantes, a Toyota e a Hyundai, que apostam que, no futuro, nem todos os automóveis eléctricos serão alimentados por bateria. Isto porque defendem que a produção a bordo de electricidade através de células de combustível a hidrogénio, vulgarmente conhecidas como fuel cells, poderá vir a constituir uma alternativa cheia de potencial.

Para quem se lembra das experiências que realizávamos na escola, a electrólise da água (H2O), que consistia na separação da molécula de hidrogénio (H2) do oxigénio (O), era conseguida se fornecêssemos um pouco de energia. Pois bem, as fuel cells realizam a função inversa, juntando o hidrogénio (que transportam num depósito a 700 bar) ao oxigénio (que retiram do ar), de que resulta um pouco de água quente e energia. Ora, é essa mesma energia que é utilizada para alimentar o motor eléctrico.

O princípio é simples, mas ainda é caro de produzir, com a Toyota a afirmar que mesmo a segunda geração das suas fuel cells ainda custa cerca de 60.000€ para um modelo como o novo Mirai. E isto já é uma evolução face à primeira geração.

A situação na Hyundai não deverá ser muito diferente, com ambos os fabricantes a terem a certeza que, assim que incrementem a produção, os preços descerão proporcionalmente. As vantagens das fuel cells é serem mais rápidas de abastecer pois, no mesmo período em que se atesta um depósito de gasolina ou gasóleo, é possível realizar a mesma operação num depósito de 6 ou 9 kg de hidrogénio pressurizado.

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Uma surpresa chamada Tesla

Consciente destas vantagens, a Hyundai tem-se concentrado ultimamente nos veículos a fuel cell, tanto automóveis como camiões, isto apesar de ter excelentes modelos eléctricos a bateria, como o Ioniq e o Kauai. Mas, segundo a Reuters, o fabricante sul-coreano admite a surpresa pela facilidade com que a Tesla lidera o mercado local, o que a leva a colocar em causa a estratégia de apostar nas fuel cells em vez de nas baterias, tentando evitar o erro da Kodak, que continuou a apostar no filme em vez de apostar na fotografia digital.

Em 2019, o mercado consumiu 7707 veículos eléctricos a fuel cell e 1,68 milhões de eléctricos a bateria, o que torna evidente de que lado é que estão as preferências dos clientes, movidos por critérios como o preço, entre outros “pormenores”. Ainda assim, a Hyundai e a Kia comercializaram 86.434 modelos a bateria, acima dos 73.278 da VW, mas abaixo dos 367.500 da Tesla. Tudo aponta para que a Tesla ultrapasse o meio milhão de veículos em 2020, apesar da pandemia, com a VW a apontar um pouco acima da fasquia das 100.000 unidades, cerca de metade do que pensa conseguir em 2021.

Face a estes resultados, a Hyundai anunciou que está a considerar lançar dois novos modelos a fuel cell até 2025, mas a grande aposta será nos eléctricos a bateria, com 23 novos veículos a estarem previstos para os próximos cinco anos. O número é avassalador e só possível pelo construtor sul-coreano estar a prever estrear duas novas linhas de produção. A primeira entrará ao serviço já em 2021, para a segunda surgir em 2024.