A quebra das horas trabalhadas no primeiro trimestre do ano devido à pandemia de Covid-19 foi quase o dobro da registada no mesmo período de 2009, após a crise financeira mundial, divulgou esta quarta-feira o Banco Central Europeu (BCE).

“Apesar das medidas de contenção na maioria dos países da zona euro só ter começado a meio de março, o total de horas trabalhadas, tal como registado nas contas nacionais, caiu 3,1% no primeiro trimestre de 2020 face ao anterior, em linha com o declínio real de 3,6% do PIB (Produto Interno Bruto) no mesmo trimestre”, pode ler-se numa caixa do Boletim Económico do BCE hoje divulgado.

O texto assinala que “o declínio nas horas trabalhadas foi quase o dobro da registada no primeiro trimestre de 2009”, em plena crise financeira mundial, sublinha o BCE.

“No primeiro trimestre de 2020, a média de horas de trabalho decresceu 2,9% face ao trimestre anterior, ao passo que o declínio no emprego permaneceu relativamente estável em plena mudança de ambiente económico, nos 0,2%”, pode também ler-se no documento.

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Segundo o BCE, o contributo da redução das horas trabalhadas (90%) e do emprego (10%) para o declínio no total de horas trabalhadas “contrasta com o observado no primeiro trimestre de 2009, onde ambas as componentes contabilizaram cerca de metade do declínio do total de horas trabalhadas”.

O Boletim Económico do BCE assinala também que “o aumento na taxa de desemprego até ao final de maio foi mais baixo do que poderia ser esperado, baseado na sua relação com o PIB”, comparando ainda o decréscimo de 19,5 milhões de trabalhadores e o aumento em 9,8 pontos percentuais da taxa de desemprego nos Estados Unidos com os números da zona euro, que permaneceram pouco alterados.

“A reclassificação de algumas pessoas como estando inativas pode estar a afetar as estatísticas do desemprego”, salienta o BCE, dado que a definição de desemprego da Organização Internacional do Trabalho não contempla pessoas que perderam o seu emprego ou estavam anteriormente desempregadas, caso não estejam ativamente à procura de trabalho ou não disponíveis a curto prazo.

Segundo o BCE, “uma outra diferença-chave é que nos Estados Unidos, trabalhadores em layoff são considerados desempregados, ao passo que na zona euro as pessoas afetadas por sistemas de trabalho curto ou layoff permanecem, na maior parte dos casos, nas folhas de salários das empresas e portanto não são consideradas desempregadas”, pode também ler-se no texto.

No total, as estimativas dos trabalhadores em layoff e esquemas semelhantes pela zona euro dão conta que 10,6 milhões de pessoas ficaram abrangidas por estes mecanismos na Alemanha, o que representa 26% do total de trabalhadores no país.

Em França, o valor foi de 12 milhões (47% dos trabalhadores), 8,1 milhões de pessoas em Itália (42%), 3,9 milhões em Espanha (23%), e 1,7 milhões nos Países Baixos (21%). “Se se tiver em conta o número de trabalhadores em mecanismos de trabalho temporário e layoff, a taxa de desemprego na zona euro teria atingido números muito maiores”, vinca o BCE.

Segundo Frankfurt, os mecanismos laborais em causa “podem apoiar uma recuperação mais rápida do mercado de trabalho, já que permitem às empresas e aos trabalhadores retomar a atividade sem o custoso e moroso processo de procura e seleção que teria de ocorrer uma vez perdida a relação laboral”.

“Ainda assim, é esperado que nem todos os trabalhadores em mecanismos de trabalho temporário ou layoff possam regressar aos seus trabalhos anteriores. Como consequência, um aumento do desemprego na zona euro é esperado no curto prazo”, conclui o texto.