Nem scudetto, nem Campeonato, nem Serie A. Do que se falava nesta penúltima jornada da Serie A, já depois das vitórias do Inter frente ao Nápoles e da Atalanta diante do Parma? Capocannoniere. Só isso interessava. E após quatro horas de futebol, nesta prova onde a Juventus já é campeã, a Lazio tenta chegar à melhor classificação sabendo que tem acesso garantido à próxima Champions e a única dúvida passa por saber se desce o Génova ou o Lecce a par de Brescia e SPAL, até essa discussão parece estar arrumada em definitivo. Vamos por horas.

Como Ronaldo tornou uma partida em falso num photo finish perfeito: e pode acabar por ter uma das melhores épocas dos últimos anos

18h30-19h20. A Lazio entrou com a artilharia toda frente a um Brescia a tentar jogar apenas pela dignidade mas a evidenciar fragilidades próprias de quem se quer mostrar em termos individuais mas que não consegue passar de uma manta de retalhos em termos coletivos. No quarto de hora inicial, Ciro Immobile, avançado que tinha todos os holofotes, conseguiu encontrar espaço à entrada da área para dominar, rematar mas ver a bola passar ao lado. Aos 17′, o golo inaugural, numa fantástica jogada ofensiva com assistência de Immobile para Correa rematar cruzado. Mais umas oportunidades, uma tentativa de Immobile à figura, uma grande defesa de Andrenacci a cabeceamento do avançado transalpino, na sequência de um cruzamento largo da esquerda por Jony (40′ e 41′).

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19h35-20h25. O Brescia ainda teve um primeiro quarto de hora da segunda parte com relativa capacidade para equilibrar um encontro que foi sempre desequilibrado mas a partir daí quebrou e começou o festival dos golos falhados entre bolas nos ferros também dos visitantes. Immobile, claro, esteve em quase todos os lances – ou não estivessem Correa, Luís Alberto, Milinkovic-Savic, Jony e Lazzari a jogarem para a principal referência ofensiva. Aos 73′ o remate acabou por bater nas malhas laterais, aos 81′ a bola saiu a rasar o poste quando estava isolado descaído sobre o lado esquerdo, aos 82′ marcou mesmo com assistência de Correa, no período de descontos ainda viu Andrenacci evitar por mais duas ocasiões o golo. Ainda assim, um dado estava confirmado: Immobile tinha ultrapassado Lewandowski como melhor marcador das ligas europeias (35-34). Faltava Ronaldo.

20h45-21h35. Maurizio Sarri promoveu várias alterações na equipa inicial da Juventus depois de ter assegurado o título, ainda que parte por motivos físicos e com a ausência por esse motivo de Dybala logo à cabeça. Assim, e além do regresso de Buffon à baliza, Cuadrado e Rugani entraram para os lugares de Danilo e De Ligt; Betancur e Muratore fizeram companhia a Pjanic no meio-campo em vez de Rabiot e Matuidi; e Bernardeschi e Higuaín entraram na frente com Ronaldo, com o italiano a aproveitar o recuo de Cuadrado para lateral. O que ganhou a equipa? Pouco ou nada: além de ter sofrido numa boa jogada a abrir com cruzamento de Faragó, assistência de Mattiello e desvio final de Gagliano (8′), pouco ou nada fez no plano ofensivo e viu o Cagliari chegar ao 2-0, por Giovanni Simeone, filho de Diego Simeone, que encarou Bonucci e rematou cruzado (45+2′). Ronaldo viu um golo bem anulado (16′), teve um remate com perigo ao lado (45′) mas não foi muito melhor do que a equipa.

Ronaldo chega aos 31 golos na Serie A, bate recorde com 72 anos, falha penálti mas oferece nono título consecutivo à Juventus

21h50-22h40. Sarri optou por não mexer na equipa, a equipa continuou sem mexer muito e até foi o Cagliari a mexer mais no ataque, com o antigo jogador do Estoril João Pedro Galvão a ficar muito próximo do 3-0. A meio da segunda parte, começava a ser notório que Ronaldo, não tendo bola no último terço face à nulidade do jogo pelos corredores laterais da Vecchia Signora, optou por sair para espaços mais afastados da área para arriscar a meia distância, como aconteceu de pé esquerdo para defesa apertada de Alessio Cragno (67′). Ainda houve um livre direto na barreira, um remate cruzado perigoso para nova intervenção difícil (78′) mas esta não era mesmo a noite de Cristiano Ronaldo nem da Juventus, que somou a sexta derrota no Campeonato de forma justa.

Depois de ter marcado na vitória frente à Sampdória que selou a conquista do título, naquele que foi o 31.º golo nesta edição da Serie A (e de ter estado no golo de Bernardeschi, marcado após defesa incompleta a um remate do português), Ronaldo aproveitou para descansar no seu iate com a família, na zona norte de Itália, mostrou a frescura física do costume mas voltou a não contar com a equipa para manter acesa a luta pelo título de melhor marcador do Campeonato e, por inerência, pela Bota de Prata que só com um cataclismo poderá fugir a Immobile. Ainda assim, entre várias marcas, o capitão da Seleção foi o mais rápido de sempre a chegar aos 50 golos na Serie A, o terceiro a marcar 30 ou mais golos no Campeonato nos últimos 60 anos e o primeiro jogador com 35 anos a chegar a esse registo dos 30 golos numa grande liga europeias desde 1948 (entre outros recordes).

Segue-se um duelo com a Roma para fechar o Campeonato (além de um Atalanta-Inter e de um Nápoles-Lazio) e a Liga dos Campeões. O Lyon, que discute esta sexta-feira a Taça da Liga de França com o PSG, é uma incógnita pela longa paragem depois do fim da Ligue 1 mas chega à segunda mão dos oitavos da Champions, a 7 de agosto, com um golo de vantagem. E olhando para esta Juventus, que sofreu muitos mais golos ao longo da temporada do que nos anos anteriores em que foi campeã, só mesmo com uma grande mudança em termos coletivos e com mais Ronaldo em termos individuais (assim tenha bola para isso) poderá ir longe na Champions, naquela que é a maior ambição de Andrea Agnelli e restante administração desde que contratou o avançado ao Real Madrid.