O primeiro-ministro, António Costa, considerou que Portugal tem “uma bazuca” e não se pode queixar “de falta de poder de fogo” com os 6,7 mil milhões que terá para executar por ano vindos de fundos europeus, considerou em entrevista à revista Visão. Apesar do “enorme esforço” que irá exigir “por parte da Administração Pública, por parte dos agentes económicos”, é preciso “aproveitar bem aquilo que a Europa disponibilizou”.

“Só podemos queixar-nos se não formos capazes de definir um bom plano de batalha e se não acertarmos bem agora a nossa pontaria”, disse.

Questionado sobre se este quadro financeiro será suficiente para evitar a austeridade, o primeiro-ministro explicou que já afastava este cenário antes mesmo de ter esta garantia europeia. “E o Orçamento Suplementar e tudo o que disse desde o início da crise é o contrário da austeridade“, lembrou. Este quadro financeiro é “uma oportunidade extraordinária” para o país. “Portugal vai ter mais de 50% do que teria num quadro financeiro normal”, disse, adiantando que as visitas que fez antes do Conselho Europeu ao primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, e ao primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, foram “particularmente importantes”.

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Sobre o Orçamento do Estado (OE), António Costa apelou a que não se acrescente uma crise política à crise sanitária, à crise económica e à crise social que “já bastam” e, por isso, pede que o OE seja feito “no quadro de diálogo”. “Tanto o Bloco de Esquerda como o PCP mostraram disponibilidade para que isso aconteça”, disse, considerando que seria “importante para o país” que houvesse um “compromisso sólido para o horizonte da legislatura”, entre os vários parceiros.

“O Bloco Central é a mesma coisa que andar à procura de gambozinos. É um mito urbano”

O primeiro-ministro afirmou que a Geringonça “é para manter”. “O mandato que o PS recebeu foi o de prosseguir com a Geringonça. E o mandato que o PCP e o Bloco receberam também foi esse”, apontou, acrescentando:

Acho que ninguém compreenderia que, sendo claro para todos que a resposta a esta crise não é a austeridade, não fosse com aqueles com quem virámos a página da austeridade que fizéssemos agora este caminho”.

Questionado sobre se o PSD seria um possível parceiro, Costa começou por defender que “a vitalidade da democracia depende da existência de alternativas”, explicando que acredita mesmo que “uma das razões pelas quais o país tem sido bastante resiliente à emergência de populismos é o facto de ter sido possível encontrar alternativas”. “Procurar o Bloco Central é a mesma coisa que andar à procura de gambozinos. É um mito urbano, mas que não está aí para se concretizar”, disse o primeiro-ministro, considerando que o PSD é “um partido que se foi afastando dos setores mais dinâmicos e inovadores” e que “chega sempre atrasado à História”.

Pode ouvir o essencial da entrevista de António Costa no Noticiário da Rádio Observador:

Primeiro-ministro desfaz “mito do bloco central”: “É como procurar gambozinos”

Sobre o fim dos debates quinzenais, António Costa recusou comentar as declarações de Rui Rio e a decisão em si que “só” tem de “respeitar”, mas defende que este mecanismo “reforça o escrutínio do Governo” e a “existência de debates temáticos” permite “aprofundar muito mais os temas”. “Um debate com o PM, por mais bem informado que esteja, sobre educação ou sobre saúde nunca será tão aprofundado como se for com um dos seus ministros da Educação ou da Saúde”, explicou, considerando ainda que o modelo dos debates quinzenais “estava desenhado para ser um duelo”. “E os duelos só têm uma regra simples: ou mata um ou mata outro. Ao primeiro ainda se acha alguma graça, ao segundo mais ou menos e ao terceiro o caldo está entornado”, disse ainda.

A sucessão também foi um tema na entrevista à Visão, com António Costa a reconhecer que “qualquer militante do PS tem a liberdade, o direito e a legitimidade para, se entender que deve concorrer, poder fazê-lo”. “O PS tem, felizmente, muitas soluções nas novas gerações. Quem diz que não pode ser uma mulher?“, questionou.

“Hoje estamos mais bem preparados para enfrentar uma segunda vaga do que estávamos em março”

O primeiro-ministro deixou ainda a garantia de que há uma melhor preparação “para enfrentar uma segunda vaga” do que havia “em março”, embora reconheça que “surgirá um período de maior risco”. E justifica: “As nossas imunidades são mais frágeis no período de inverno”.

Questionado, António Costa explicou que o SNS está a ser robustecido para que se “possa responder confortavelmente a um acréscimo de pedidos”: aumentando, por exemplo, o número de camas nos cuidados intensivos e a capacidade de resposta nos cuidados primários.