O secretário-geral das Organização das Nações Unidas (ONU) apontou esta quinta-feira o exemplo do Vale do Côa para afirmar que o encontro de culturas e a multiculturalidade são riqueza e não ameaça para a sociedade.

António Guterres foi esta quinta-feira homenageado por há 25 anos ter decidido parar a construção da barragem do Côa e preservado as gravuras património da Humanidade, que usou como exemplo para falar dos conflitos sociais no mundo.

António Guterres homenageado no Museu do Côa por ter travado a construção da barragem

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O antigo primeiro-ministro português aproveitou a oportunidade para fazer uma reflexão sobre a identidade, uma palavra que considerou “tem sido muito mal usada, recentemente, por alguns líderes políticos de várias partes do mundo, como um fator de divisão e de discriminação”.

“Em nome da identidade têm-se manifestado formas irracionais de nacionalismo, por vezes mesmo de xenofobia e de racismo”, sustentou. António Guterres defendeu que a identidade está na “diversidade” e as gravuras (do Côa) são uma componente dessa diversidade.

Tal como as gravuras testemunham outra cultura, António Guterres, entende que a história da Humanidade mostra que a identidade “sempre foi feita num encontro de culturas, de civilizações e é uma identidade baseada na diversidade e a diversidade não é uma ameaça, é uma riqueza”.

“E todos os responsáveis políticos têm de saber valorizar essa riqueza, em vez de usarem a identidade como fator de divisão, particularmente em períodos tão difíceis como aqueles que hoje o mundo atravessa com a Covid-19”, vincou.

É também nestes momentos difíceis que António Guterres observa “com alguma tristeza, que há uma tendência em períodos de austeridades para começar por sacrificar áreas como a Ciência e a Cultura.

“É um erro”, considerou, defendendo que são áreas que “deviam ter uma prioridade nas políticas e afetação de recurso”.

Pensar que, em período de austeridade, se poupa dinheiro poupando na Ciência ou na Cultura é um erro grave e espero que em Portugal esse erro nunca mais seja cometido e é importante que isso se verifique também por toda a parte”, declarou.

Lamentou ainda que “numa fase tão difícil” como a que atravessa atualmente o mundo, “infelizmente se verifica que alguns dos valores essenciais com que a Europa contribuiu para a civilização universal, estão a ser postos em causa”.

“Há uma emergência da irracionalidade, dos populismos, dos nacionalismos estéreis, há uma emergência de formas de divisão que se caracterizam à escala global e que explicam porque é que o Covid-19 está a ser combatido de uma forma tão lamentável com uma total desagregação dos esforços que deviam existir”, afirmou.