O presidente executivo indigitado do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, classificou esta sexta-feira os lucros de 42,6 milhões de euros como um resultado bom, dada a conjuntura económica associada à pandemia de Covid-19. Situação atual da banca “não tem nada a ver” com a da crise de 2008, diz Oliveira e Costa, considerando o sistema financeiro melhor preparado para a crise associada à pandemia de Covid-19.

“Quando refiro que os resultados são bons, é preciso pôr em contexto que quando esta crise começou, o nível de incerteza era muito grande, e o impacto do mundo onde nós temos taxas de juro negativas, uma enorme pressão nas comissões e um abrandamento da atividade como não tínhamos antes, era expectável que os resultados fossem piores”, disse João Pedro Oliveira e Costa na conferência de imprensa de apresentação de resultados do BPI, que decorreu no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

O sucessor de Pablo Forero sustentou a sua argumentação com o facto de que “o banco aumenta a margem financeira, os depósitos, o crédito, ou seja, aumenta o volume de negócio, e ganha quota nos negócios principais onde está”.

“Eu tenho que sentir que os resultados, no contexto atual, são bons”, disse o presidente executivo indigitado do BPI, que admitiu, porém, que “gostaria que fossem muito melhores” se não fosse o surgimento da pandemia de Covid-19.

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O BPI teve lucros de 42,6 milhões de euros no primeiro semestre, menos 68% do que no mesmo período do ano passado, tendo registado 83 milhões de euros em imparidades, divulgou esta sexta-feira o banco em comunicado ao mercado.

Lucro do BPI caiu 68% para 42,6 milhões de euros. Até junho foram aprovados 73 mil pedidos de moratória

As imparidades criadas entre janeiro e junho foram de “caráter preventivo”, segundo o banco detido pelo grupo espanhol Caixabank, relacionadas com a crise económica desencadeada pela Covid-19.

Na atividade em Portugal, o lucro foi de 6,5 milhões de euros, menos 92,6% face a período homólogo.

Oliveira e Costa ainda aguarda aprovação de idoneidade para assumir formalmente BPI

João Pedro Oliveira e Costa confirmou esta sexta-feira em conferência de imprensa que ainda aguarda o processo de confirmação de idoneidade pelo Banco Central Europeu para suceder formalmente a Pablo Forero.

“Relativamente ao ‘fit and proper’ (aprovação de idoneidade), nós aguardamos a conclusão do processo que temos em curso, aguardamos serenamente, está nas mãos do regulador e estamos em permanente ligação”, disse João Pedro Oliveira e Costa durante a conferência de imprensa de apresentação dos resultados do BPI (lucros de 42,6 milhões de euros), que decorreu hoje no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

O ainda indigitado presidente executivo do BPI foi escolhido pelo Conselho de Administração do banco para suceder a Pablo Forero no dia 4 de maio.

“O Presidente da Comissão Executiva do Banco BPI, Senhor Pablo Forero, 64 anos, comunicou ao Conselho de Administração do Banco BPI a sua decisão de se reformar no final do seu mandato. O Conselho de Administração do Banco BPI, reunido em 04 de maio de 2020, tomou conhecimento desta intenção e decidiu indigitar para o mandato 2020-2022, em substituição do senhor Pablo Forero, o Dr. João Pedro Oliveira e Costa, 54 anos, atual vogal do Conselho de Administração e da Comissão Executiva”, podia ler-se na informação comunicada ao mercado, através da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

O BPI acrescentou que a eleição de João Pedro Oliveira e Costa apenas se iria concretizar “depois da necessária aprovação das autoridades de supervisão”.

“Banca está melhor preparada para a crise”

Começando por saudar os níveis de “solidez” e “liquidez” e “de risco” do BPI, João Pedro Oliveira e Costa alargou o comentário ao sistema bancário nacional, dizendo que “não tem nada a ver a situação em que o setor financeiro português está com aquilo que enfrentou quando começou a crise de 2008”.

O responsável do BPI referiu “o esforço muitíssimo grande que fez na redução da sua carteira de malparado, mas também um esforço de redução de custos, transformação do modelo de negócio, digitalização, transformação em termos do formato com que estava a operar em cada uma das linhas de negócio”.

“O que nós verificamos hoje, nos vários indicadores, é que todo o setor financeiro português está muito bem, e basta ver os comentários que as próprias agências de ‘rating’ fazem relativamente à banca portuguesa”, referiu, quando questionado precisamente acerca de vários ‘avisos’ das agências quanto à exposição do sistema bancário nacional à crise associada à pandemia de Covid-19.

João Pedro Oliveira e Costa disse que “a banca portuguesa está preparada para apoiar a economia, para enfrentar o que vem pela frente”.

“É preciso dar esse voto positivo à banca portuguesa, deixando muitas vezes de ser o foco em muitos comentários que eu considero desnecessários”, afirmou o presidente executivo indigitado do BPI.

Na quinta-feira, a Fitch considerou que o choque sem precedentes desencadeado pela crise pandémica é um risco para o “rating” dos bancos portugueses e que uma crise mais longa é uma ameaça ao setor.

Segundo a agência de “rating”, o setor bancário português mostrou alguma resiliência no primeiro trimestre deste ano, ainda que com aumentos das provisões para perdas com crédito, mas a pressão ter-se-á intensificado a partir do segundo trimestre, com alguns bancos provavelmente com prejuízo ou pelo menos em “breakeven” (ponto de equilíbrio entre ganhos e perdas), prevendo que a recuperação gradual das operações seja improvável antes de 2022.

“Uma crise mais longa do que atualmente esperamos ameaçaria a viabilidade do setor bancário e reverteria os significativos progressos alcançados desde 2016”, afirma a Fitch.

No imediato, diz a Fitch, a crise é um risco para a avaliação que faz das métricas dos bancos, desde logo, porque os bancos com mais ativos problemáticos e menos capitalizados “estão mais vulneráveis”, o que pressiona os “ratings” atribuídos.

Contudo, sugere, a pressão sobre os “ratings” poderá ser mitigada com os pacotes de apoio das autoridades públicas (governo, banco central, fundos europeus), minimizando o efeito da crise económica sobre o setor bancário.