Quando se fala de Ronaldo, o mais certo é não acrescentar a palavra impossível. Muito difícil sim, improvável ainda vá, impossível é um risco demasiado grande quando na mesma frase está o avançado. E o melhor exemplo disso passa pela luta pelo “título” de melhor marcador de seleções de sempre, que parecia ser um objetivo inalcançável tendo em conta o hiato enorme para o iraniano Ali Daei e a média de golos por ano mas que se tornou uma meta com tanto de complicada como de alcançável, naquele que é um dos poucos registos grandes que ainda lhe faltam no plano individual. No entanto, se antes da última jornada da Serie A parecia impossível o português marcar os quatro golos para chegar a melhor marcador do Campeonato, antes do jogo essa “expetativa” esfumou-se.

Se Ronaldo não tivesse falhado aquela grande penalidade no jogo da consagração frente à Sampdória ou mesmo se tivesse marcado na última partida com o Cagliari, ainda era possível que fosse a jogo com a Roma. Assim, e tendo em vista os encontros que se seguem a contar para a Liga dos Campeões, o avançado ficou fora da convocatória de Maurizio Sarri para o derradeiro compromisso da Serie A que tinha neste primeiro dia de 38.ª jornada o aliciante de ver a classificação final entre Inter, Atalanta e Lazio entre o segundo e o quarto lugar (até a equipa de Paulo Fonseca também assegurou de forma matemática a quinta posição, com a vitória frente ao Torino). Ponto final na discussão pelo capocannoniere da época, a confirmação oficial: Ciro Immobile foi o artilheiro do ano.

Contas feitas, naquela que foi a segunda época em Itália, Ronaldo marcou 31 golos em 33 jogos, tornando-se um dos quatro jogadores a superar a barreira dos 30 golos na Serie A nos últimos 60 anos e superando o registo de jogador mais velho a atingir a marca numa das principais ligas europeias, que datava já de 1948 (Ronnie Rooke, do Arsenal). Em paralelo, foi o mais rápido a marcar 50 golos no Campeonato transalpino, com quase menos dez jogos do que Shevchenko, e o primeiro a atingir o registo em Inglaterra, Espanha e Itália. Recordes atrás de recordes que empurraram a Juventus para o scudetto mas que têm como grande objetivo para a época a Champions. Para Ronaldo, para Sarri, para Agnelli e para os próprios adeptos, o sucesso interno já começa a ser curto.

“Vamos ver quem joga ou não entre hoje e a manhã de amanhã [sábado], vai depender de quem necessite de parar e de quem esteja bem para jogar. Entre este jogo e o da próxima sexta-feira [Lyon para a Champions] vai existir uma grande diferença em termos de mentalidade e teremos de recuperar de forma rápida todas as energias. Em relação ao Cristiano, vamos ver como se sente. É um dos jogadores que esteve em toda a temporada. Ramsey pode voltar à equipa e jogar depois a Champions, o Dybala continua com o departamento médico, a recuperar bem, mas ainda não temos estimativa para o regresso”, comentou Sarri na antecâmara do jogo.

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Confirmou-se mesmo a ausência que pairava nas palavras do técnico e o Juventus-Roma resumiu-se a perceber se a Vecchia Signora melhorava em relação aos últimos jogos e se os romanos conseguiam dar continuidade ao bom final de temporada depois de um regresso pós-pandemia que hipotecou as possibilidades de discutir ainda uma vaga na próxima edição da Champions. Já em Nápoles, entrava o Bota de Ouro da Europa em 2019/20.

Foi em Roma, pela Lazio, que Immobile construiu aquilo que o levaria a esta distinção, já depois de ter marcado 29 golos na Serie A de 2017/18 e ter sido o capocannoniere da Serie A em 2013/14, então ao serviço do Torino e com “apenas” 22 golos. Depois de ter começado no modesto Sorrento, acabou a formação na Juventus, onde fez a estreia como sénior antes de empréstimos a Siena, Grosseto e Pescara, em 2011/12, onde deixou patente pela primeira vez a veia goleadora. Daí para a frente, saltos em ligas distintas e temporadas que prometiam muito mas acabavam sem os frutos esperados: Génova, Torino, B. Dortmund, Sevilha, de novo Torino. Em 2016, pela Lazio, encontrou a sua zona de conforto e os resultados chegaram mesmo, não só no plano individual como em termos coletivos com uma Taça e duas Supertaças de Itália, três dos cinco títulos conquistados na carreira.

Na despedida, e apesar de a Lazio não ter saído do quarto lugar apesar da derrota da Atalanta em Bérgamo com o Inter (que podia ter valido a terceira posição), Immobile marcou mais um golo no desaire frente ao Nápoles de Gattuso, que venceu com Fabian Ruíz (9′), Insigne (54′) e Politano (90+3′). Ao todo, foram 36 golos na Serie A.

Já em Turim, a Juventus até começou da melhor forma com um golo de Higuaín na sequência de um canto com assistência de Rabiot (5′) mas voltou a ter mais uma exibição demasiado má para quem quer ser candidato à Liga dos Campeões (mesmo com as várias ausências nas opções iniciais, entenda-se), aproveitada da melhor forma por uma Roma com Zaniolo inspirado e que conseguiu a reviravolta ainda na primeira parte com golos de Kalinic (23′, na sequência de um canto) e Perotti (44′, de grande penalidade) antes de confirmar um triunfo justo que até podia ter conhecido outros números com bis do internacional italiano após uma grande combinação ofensiva (52′). Na bancada por castigo, Maurizio Sarri tirava notas e gesticulava mas nada de bom acontecia; na bancada por lesão e opção, Dybala e Ronaldo iam sendo focados pelas câmaras a discutir tudo o que de mau estava a acontecer, antes de descerem já equipados ao relvado para receberem as medalhas e a taça de campeões nacionais.