Já passavam cinco minutos da meia noite quando o autocarro do Benfica abandonou o Estádio Cidade de Coimbra. Antes falou Carlos Vinícius, ainda no relvado, e Nelson Veríssimo, nas entrevistas rápidas e na sala de conferências. Os jogadores receberam as medalhas de finalistas vencidos da Taça de Portugal, agruparam-se num ambiente que era visivelmente pesado, esperaram que o FC Porto levantasse o troféu e abandonaram o campo. As expressões dos encarnados eram demasiado evidentes, dos suplentes no banco após os dois golos de Mbemba a todos os elementos do staff posicionados na bancada que iam ouvindo os portistas funcionarem quase como claque. No final, o clube sofreu a décima derrota da época, tantas como em 2018 e em 2019. Mas esta teve um peso diferente.

Mbemba, um herói cada vez mais provável que acabou mais um dia a pensar pela própria cabeça (a crónica da final da Taça de Portugal)

Depois da vitória com goleada a abrir a temporada na Supertaça, frente ao Sporting, e de uma primeira volta quase perfeita com 16 triunfos e apenas uma derrota na receção ao FC Porto, o Benfica acabou a campanha europeia com uma eliminação nos 16avos da Liga Europa diante do Shakhtar após um terceiro lugar nos grupos da Champions, caiu a pique no Campeonato, viu Bruno Lage sair cedendo o lugar ao adjunto Nelson Veríssimo e acabou agora com mais uma derrota na final da Taça de Portugal com dois golos sofridos de bola parada, aumentando para 18 o número de golos consentidos nesse tipo de lances. O que mudou, como mudou e onde mudou?

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“Começámos bem, tivemos altos e baixos mas agora já passou, há que fechar esta época e pensar na próxima. Troca de treinador? É normal no futebol, não foi por aí. Seja com qualquer treinador, o Benfica joga sempre para ganhar. Há que fechar esta época e pensar na próxima”, repetiu Carlos Vinícius na zona de entrevistas rápidas da RTP, antes de falar sobre a expetativa que podia ter de começar como titular: “Entrámos para ganhar, controlámos o jogo mas sofremos dois golos de bola parada. Depois houve muitas paragens mas também faz parte. Agora há que pensar em nós e na próxima época. Se esperava entrar de início? Não só eu, como todos. Todos querem estar lá dentro. Já ajudei a equipa depois de sair do banco. Não é por aí. Já passou e é pensar na próxima época”.

Em quatro perguntas, Vinícius falou três vezes na próxima época, tentando fechar uma temporada onde o Benfica voltou a não conseguir ganhar ao FC Porto entre os dois jogos do Campeonato e a final da Taça de Portugal. Uma época que vai começar em termos oficiais na próxima segunda-feira, com a apresentação de Jorge Jesus como novo treinador, e que terá um arranque atípico não só pela acumulação de jogos em setembro mas também pelo período eleitoral que os encarnados terão até outubro. E também essa parte voltou a mexer esta noite.

“Para quem é do Benfica e nada ganha com os negócios do Benfica, cada insucesso é um duro golpe na alma. Que o perder – mais uma vez, contra uma equipa falida, sem qualidade, e hoje com apenas dez – nos convença a todos que o Benfica não é negócio, mas paixão! A paixão pode necessitar do negócio para crescer, mas o negócio não vive sem paixão. O Benfica é paixão e essa paixão é feita de sucesso desportivo. Hoje não foi um dia bom, mas com aqueles que, como nós, não precisam do Benfica para mais do que ser felizes e ganhar jogos, estaremos juntos em outubro. Porque, após as eleições, o Benfica deixará de estar amarrado a esta alegada elite que se serve do clube, ao invés de servir o nosso clube”, escreveu Rui Gomes da Silva após a derrota com os dragões.