Em 2001/02, há quase 20 anos, o Bayer Leverkusen ganhou uma nova alcunha. Para isso, só precisou de perder tudo ao longo de apenas 11 dias e numa altura em que estava à beira de completar uma das melhores temporadas de sempre de um clube alemão. Em maio de 2002, o Bayer deixou escapar a liderança da Bundesliga para o Borussia Dortmund, perdeu a final da Taça da Alemanha para o Schalke 04 e foi derrotado na final da Liga dos Campeões pelo Real Madrid graças a um golo mítico de Zidane. No verão, Michael Ballack, a estrela da companhia, saiu para o Bayern Munique e intensificou o sentimento de perda. E o Leverkusen, na Alemanha, passou a ser o Neverkusen.

A alcunha passou a ser recordada sempre que o clube perde algum troféu: foi recuperada depois da final da Taça, perdida para o Werder Bremen em 2009, e no fim da época 2010/11, quando ficaram em segundo no Campeonato, novamente atrás do Dortmund. Os falhanços da equipa liderada por Ballack e orientada por Klaus Toppmöller, que contava com Lúcio, Zé Roberto e Berbatov, eternizaram um apelido que tem o objetivo de ilustrar que o Bayer é o clube do quase — quase campeão, quase vencedor, quase triunfante. E esta quinta-feira, na Alemanha, a esperança do Glasgow Rangers era de que o Bayer Leverkusen voltasse a ficar apenas pela metade.

Os escoceses, orientados por Steven Gerrard, tinham a difícil tarefa de dar a volta à vantagem alemã conquistada ainda em março, na primeira mão dos oitavos de final da Liga Europa. A segunda mão, cinco meses depois, motivava o encontro entre uma equipa que fez o último jogo oficial há 40 dias, quando acabou a Bundesliga, e outra que viu a liga escocesa terminar prematuramente fora dos relvados e a nova temporada começar no passado sábado. Mas mais do que isso, este era também o encontro entre dois dos jovens jogadores mais promissores do atual futebol europeu.

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De um lado, Kai Havertz, médio alemão de 21 anos que leva 17 golos e nova assistências esta temporada e já terá um princípio de acordo para reforçar o Chelsea no próximo ano. Do outro, Ianis Hagi, outro médio ofensivo de 21 anos, filho do histórico Gheorghe Hagi que assinou em definitivo com o Rangers depois de ter estado emprestado pelos belgas do Genk da época passada. Entre Havertz e Hagi, só um poderia estar na final eight da Liga Europa — onde o adversário, conhecido logo à partida, seria o Inter Milão, que esta terça-feira afastou o Getafe.

O Bayer Leverkusen entrou melhor, com as duas primeiras oportunidades a pertencerem a Kai Havertz: o médio alemão acertou na barra (16′) e rematou ao lado quando já só tinha o guarda-redes pela frente (23′) e esteve perto de abrir o marcador ainda na primeira parte. O Rangers foi para o intervalo sem ter feito qualquer remate e estava a apresentar um futebol muito curto para poder sequer sonhar com o apuramento para a final eight. O início da segunda parte, porém, não poderia ter sido pior para os escoceses.

Sem que nenhum dos treinadores tivesse feito qualquer alteração ao intervalo, Moussa Diaby só precisou de pouco mais de cinco minutos para desbloquear o nulo. Aránguiz descobriu o francês em movimento e o ala, na passada, dominou no peito para depois rematar rumo ao topo da rede da baliza de McGregor (51′). Havertz voltou a ter uma boa oportunidade para marcar, ao aparecer novamente na cara do guarda-redes mas permitir a defesa (54′), e Gerrard decidiu mexer pela primeira vez para lançar Hagi, Jordan Jones e Scott Arfield. Até ao fim, Goldson ainda cabeceou com selo de golo mas Tapsoba, antigo defesa do V. Guimarães, evitou o golo dos escoceses com um bom corte (71′).

O Bayer Leverkusen voltou a bater o Rangers e garantiu a passagem à final eight da Liga Europa, onde vai encontrar o Inter Milão, que esta terça-feira eliminou o Getafe. Steven Gerrard foi à Alemanha à procura do típico Neverkusen mas encontrou uma equipa de Peter Bosz que é bem organizada, bem estruturada e bem orientada — e que tem em Havertz, de apenas 21 anos, um autêntico maestro.