Não parece que foi ontem mas vá, como se tivesse sido anteontem. Afinal, já lá vão 25 anos. Foi uma das melhores campanhas do V. Guimarães, com um treinador carismático como foi sempre Quinito, com uma equipa de tração à frente com olhos na baliza onde se destacam elementos como Pedro Barbosa, Zahovic, Gilmar, Ziad, Dane, Quim Berto, N’Dinga ou José Carlos. A esses juntavam-se dois nomes que ainda hoje ouvimos, mesmo que não tenhamos a tentação para fazer de imediato a ligação: Nuno Espírito Santo era o guarda-redes, Pedro Martins um dos médios mais posicionais. Ambos titulares, ambos treinadores, ambos no estrangeiro, ambos na Liga Europa. Pelo menos até esta quinta-feira, altura em que um cairia e outro iria seguir em frente para a Final Eight da prova.

Os caminhos de Nuno Espírito Santo e Pedro Martins cruzaram-se apenas uma época, em 1994/95, mas a ligação entre ambos manteve-se mesmo entre caminhos opostos: o guarda-redes que percorreu todas as camadas jovens das seleções e chegou a ser chamado à Seleção B foi uma das primeiras transferências de Jorge Mendes quando saiu em 1997 para o Deportivo, voltou a Portugal via FC Porto com algumas cedências em Espanha pelo meio, saiu para o Dínamo de Moscovo, rumou ao Desp. Aves e acabou no Dragão, em 2010; o médio transferiu-se com Pedro Barbosa para o Sporting em 1995, esteve três anos em Alvalade, passou depois por Boavista e Santa Clara e fez as últimas quatro temporadas no Alverca, onde terminou em 2004. O primeiro ganhou tudo o que havia para ganhar, o segundo ficou-se por uma Supertaça. Como treinadores, estão ainda no arranque da carreira mas o segundo já se sagrou campeão na Grécia esta temporada e o primeiro ganhou o Championship em 2018.

Os antigos companheiros de equipa e hoje adversários representam as caras que fazem dos treinadores nacionais dos mais valorizados em termos europeus. O Wolverhampton, que há dois anos estava no escalão abaixo, acabou a Premier League no sétimo lugar batendo o recorde de pontos da última época, ficou a três golos de ficar garantido na próxima Liga Europa mas chegava com ambição de tornar a temporada ainda mais memorável com mais história nas provas europeias. Já o Olympiacos, que reconquistou o Campeonato e está ainda na final da Taça da Grécia, olhava para a Liga Europa como um prolongamento de um ano de “regresso” ao estatuto ganho ao longo dos anos em território helénico visando também o gradual crescimento no plano europeu como aconteceu no ano passado com o triunfo frente ao AC Milan e, agora, com a eliminação do Arsenal em Londres.

“Conheço muito bem o Pedro, jogámos juntos, fomos companheiros e somos bons amigos. Claro que manteremos sempre a distância social mas vamos pôr a conversa em dia, antes e depois do jogo. É uma pessoa fantástica, aquilo de que vou sentir falta é de lhe dar um grande abraço. É alguém de quem gosto e que admiro. Costumamos estar juntos e encontrarmo-nos em Portugal, fizemos os mesmos cursos de treinadores e estivemos juntos também em alguns seminários. Vai ser bom jogarmos, queremos ambos que as equipas estejam bem e joguem bom futebol. No final veremos mas a amizade vai continuar. Temos todos os jogadores disponíveis, comprometidos e prontos para irem a jogo”, destacou Nuno Espírito Santo, num lançamento de um jogo onde foi também referida a vitória do Arsenal na final da Taça de Inglaterra que “custou” aos Wolves a presença na próxima Liga Europa.

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“O Wolverhampton é uma equipa muito boa. Costumo dizer que são muito eficazes porque estão preparados em todos os momentos. O Nuno está a fazer um trabalho fantástico e penso que vai ser um jogo muito bom taticamente, muito interessante de se ver. A nossa maior preocupação durante a pandemia era mais com o lado mental e com os danos que pudesse ter, por isso garanti que contactava os jogadores diariamente. Muitos vêm de outros países e não têm famílias, namoradas ou mulheres com eles. Estão sozinhos. A nossa preocupação foi controlar o dano mental, por isso estivemos sempre em contacto, e preparámos-lhes refeições”, contou Pedro Martins numa entrevista ao The Guardian, sendo que à Associated Press admitiu também que gostava de um dia chegar à Premier League, “que tem o futebol em estado puro e que é a melhor liga do mundo”.

Mas não foram apenas os treinadores a representar Portugal neste duelo quase nacional na Liga Europa. Havia Rui Patrício, Rúben Neves, João Moutinho e Podence, juntaram-se depois Rúben Vinagre, Diogo Jota e Cafú. No final, quem decidiu acabou por ser o mais baixo e aquele que, curiosamente, trocou o Olympiacos pelo Wolverhampton em janeiro: num lance onde Allain ficou mal na fotografia, o pequeno grande avançado que passou a ser referido pela imprensa inglesa depois de ter entrado da melhor forma nas opções iniciais dos britânicos “sacou” uma grande penalidade que decidiu a partida, deu a passagem a uma história presença dos Wolves nos quartos da competição, rendeu mais 1,5 milhões de prize money e funcionou com castigo demasiado pesado para os helénicos, que se não mereciam mais do que o empate na primeira mão fizeram por ter pelo menos o empate na segunda. Além de Rúben Semedo, faltou sobretudo José Sá. E a ausência do guarda-redes não demorou a sentir-se.

A estratégia preparada por Pedro Martins, que tal como Nuno Espírito teve algum tempo para estudar a melhor abordagem ao jogo, acabou por sair muito condicionada com uma entrada em falso na partida que fez diferença. Logo no primeiro minuto, aproveitando um erro de marcação, Raúl Jiménez teve um remate em balão que passou perto no poste; aos 8′ a ameaça tornou-se real e deu mesmo golo, na sequência de uma fífia de Bobby Allain na baliza que acabou com um atropelamento do francês ao ex-companheiro Podence que deu aos ingleses um penálti de bandeja para inaugurarem o marcador. Depois, e com o passar dos minutos (e a lesão de Jonny Castro), os visitantes mostraram-se, Rui Patrício teve uma grande intervenção a remate de Tsimikas e Mady Camara marcou num lance onde El Arabi estava em posição irregular. Apesar da pressão, o intervalo chegava com o 1-0.

No segundo tempo, a pressão do Olympiacos foi ainda maior perante um Wolverhampton que dava o controlo do jogo ao adversário para sair em transições. Jiménez, Podence e Moutinho ainda tiveram situações de perigo que saíram por cima ou foram travadas por Allain mas foi sobretudo na área de Rui Patrício que andou o perigo num ataque reforçado por Hassan, que teve sempre El Arabi como referência e que obrigou o guarda-redes português a mais algumas intervenções complicadas. Ao contrário do que aconteceu na Grécia, onde foram os ingleses a terem uma melhor perceção dos momentos de jogo até ao 1-1 de Pedro Neto, agora foram os gregos a saber assumir a partida mas sem resultados práticos. E, já agora, até pelo golo decisivo, a lamentar a lesão de José Sá…