A longa-metragem argelina “Papicha” e a curta portuguesa “Erva Daninha” venceram hoje o FEST – Festival Novos Realizadores Novo Cinema, numa edição que, abrangendo Espinho, Porto e Lisboa, é apontada como “das mais importantes” em 16 anos de evento.

Habitualmente realizado em junho, o festival que nasceu na cidade costeira do distrito de Aveiro teve este ano que alterar datas e formatos devido às restrições impostas pela pandemia de Covid-19, perdeu salas tradicionais por essas estarem agora encerradas e realizou-se com menos público dada a ausência das centenas de visitantes estrangeiros que nos últimos anos vinham acompanhando presencialmente o certame.

Ainda assim, o balanço de Filipe Pereira, diretor do festival é “extremamente positivo”.

Depois de afirmar que “nenhuma outra edição do FEST exigiu tanta capacidade de adaptação em tão reduzido espaço de tempo”, Filipe Pereira declara à Lusa: “Tenho de reconhecer que havia da nossa parte algum receio sobre como a audiência poderia responder. Mas sabíamos que era muito importante realizar o festival, até pela mensagem que envia para a sociedade: a de que se podem executar algumas atividades com toda a segurança, neste caso, um evento de relevo internacional”.

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O diretor do FEST lamenta que em 2020 o certame não tenha contado com “a habitual romaria de audiência estrangeira”, mas aponta compensações: “Tivemos um ‘drive-in’ esgotado com duas sessões diárias para ver cinema independente, tivemos sessões em Lisboa e Porto, e, principalmente, tivemos uma reação muito positiva do público, como na secção FESTinha, onde pais e filhos viram os filmes da secção com toda a segurança”.

Analisados prós e contras, Filipe Pereira garante: “Não foi de todo uma das maiores edições do festival – foi completamente atípico e diferente da edição de 2019 – mas não posso deixar de pensar que foi provavelmente das edições mais importantes na história do festival”.

Da seleção com mais de 230 obras dirigidas por realizadores com idades até aos 35 anos, o Lince de Ouro, para a melhor longa-metragem na categoria de ficção, foi atribuído a “Papicha”, de Mounia Meddour, sobre um grupo de raparigas que tenta organizar um desfile de moda na Argélia de 1997, controlada por grupos islâmicos que têm como prioridade a opressão das mulheres.

Também nas longas, mas ao nível do documentário, o júri premiou “Lovemobil”, da alemã Elke Margaret Lehenkrauss, cuja câmara percorreu as autoestradas do interior rural para revelar o universo de prostituição que se esconde nas caravanas conhecidas pelo nome que dá título ao filme.

O Grande Prémio Nacional, por sua vez, coube a “Erva Daninha”, a curta-metragem em que Guilherme Daniel conta a história de um casal que, ao cultivar um terreno aparentemente estéril, se depara com uma planta negra que começa a influenciar os seus comportamentos.

Já o Lince de Prata, para as melhores curtas da competição internacional, privilegiou quatro obras: em ficção, “Marshmellows”, do colombiano Duván Duque, sobre a fuga de uma jovem para um fim de semana de excessos quando o pai é acusado de corrupção; no documental, “Black Lagoon”, do peruano Felipe Esparza Pérez, sobre um curandeiro de montanha que valoriza a natureza enquanto espaço divino; em cinema de animação, “Acid Rain”, em que o polaco Tomel Popakul conta a viagem de uma jovem da Europa de Leste pós-industrial na sua descoberta da cultura “rave”; e, na categoria de experimental, “At the entrance of the night”, do francês Anton Bialas, com três histórias de emigração entre África e a Europa, e o espírito dos que desaparecem sem direito a enterro.

A edição de 2020 do FEST premiou ainda filmes de produção escolar, como acontece na secção NEXXT, que é dirigida a estudantes de cursos de cinema e na qual se destacou “Gravidade”, da boliviana Matisse Gonzalez.

Na rubrica FESTinha, para estudantes com menos de 10, 12 e 16 anos respetivamente, os vencedores foram: “Oeil pour oeil”, de seis meninos franceses; “A lantern in the night”, de seis meninas da mesma nacionalidade; e “Whales don’t swim”, do também francês Matthieu Ruyssen.