Foi durante um jantar de amigos, em outubro do ano passado, que Pedro Marques percebeu que havia uma área no mercado das plataformas de distribuição online que ainda estava por completar: a entrega de pão fresco porta a porta na cidade. Depois de ter conhecimento do caso de uma amiga que tinha de sair todos os dias às 5h da manhã para ir comprar pão, a mais de um quilómetro de distância, “deu-se o clique” que levou ao iPão, uma plataforma online onde o utilizador pode definir um plano semanal para receber pão fresco à porta de casa, logo de manhã.

A ideia, explica Pedro Marques ao Observador, era trazer para o mundo das encomendas online uma tradição que ainda existe, mas que no centro das cidades é cada vez mais rara de se encontrar.

“Depois desse jantar, contactei um amigo meu de Famalicão que tem uma padaria e que me disse que continua a fazer entregas como sempre fez, inclusivamente em edifícios no centro da cidade. A tradição nunca desapareceu, mas as pessoas, sobretudo as que moram mais no centro, desconheciam isso, pensam que é um serviço que só existe nas aldeias”, acrescenta.

Foi em Famalicão que surgiu o primeiro parceiro do iPão, que começou a funcionar oficialmente no inicio de maio, acelerado pela situação de confinamento provocado pela pandemia de Covid-19.

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No fundo, o iPão serve como ponte que liga padarias que fazem entrega de pão fresco e têm frotas definidas aos clientes que estão interessados em receber o produto nas suas casas. E como funciona? Depois de se registar, o cliente escolhe o distrito, a cidade e a freguesia a que pertence e onde quer receber o pão fresco. “Ao escolher a freguesia, a plataforma indica logo se já estamos a cobrir esse local”, explica Pedro.

De seguida, e caso de trate de um local onde o iPão já tem parceiros, é necessário fazer um planeamento semanal para receber os produtos — quando e o que quer encomendar –, não sendo obrigatório encomendar produtos para todos os dias. A encomenda, no entanto, tem a duração de quatro semanas, ou seja, o planeamento semanal será multiplicado por quatro e pode ser renovado caso o cliente tenha interesse.

Antes de ser feito o pagamento, a encomenda é ainda enviada para a padaria da zona, que fica encarregue de aprovar ou não essa mesma encomenda, embora Pedro Marques garanta que 98% das encomendas feitas até hoje foram aprovadas — “mas há casos em que não compensa para o parceiro, uma vez que não há limite mínimo de encomenda”. A distribuição do pão fresco é feita pela própria padaria e pode chegar a todo o tipo de habitação, desde vivendas a apartamentos, entre as 5h e as 8h.

Os clientes podem também escolher como é que querem que a entrega seja feita: deixar na porta de entrada ou tocar à campainha. “Trata-se da entrega de todo o tipo de pão e também produtos como pasteis, natas, croissants, etc. Todos os produtos são frescos, ou seja, são feitos de madrugada, não temos produto congelado”, garante Pedro.

Pedro Marques é o fundador do iPão, uma plataforma que está a funcionar desde maio deste ano

O iPão, refere o fundador da plataforma, não cobra taxa de entrega ao cliente, sendo que o modelo de negócio está assente numa comissão que é cobrada às padarias e que está presente no preço final que o cliente paga. A plataforma conta com mais de 600 utilizadores registados “e cerca de metade já fez pelo menos uma encomenda”, acrescenta Pedro, que criou, desenvolveu e levou o projeto para a frente sozinho, “sem expectativas” e aproveitando a experiência em marketing digital e na construção deste tipo de plataformas.

“Obviamente que num futuro próximo, sobretudo no apoio ao cliente que também sou eu que o faço, a equipa vai ter de aumentar”, sublinha o fundador. Em breve, o iPão também pretende estar disponível em app e chegar a zonas que já têm clientes em espera, como é o caso de Vila Nova de Gaia.

A distribuição como prioridade: “Não vamos criar concorrência dentro da própria plataforma”

Em três meses de funcionamento, o iPão tem parceiros em Famalicão, onde cobre 42 freguesias em 48, e no Porto, onde chega a oito freguesias e também a Matosinhos. A grande prioridade do projeto, sublinha Pedro Marques, é garantir que a distribuição está a funcionar corretamente, sem esquecer a qualidade dos produtos que são entregues.

“O que nos preocupa acima de tudo é a distribuição, é perceber se as pessoas estão a receber o pão à hora certa e da forma como pediram. Sei que o produto é bom, não vamos satisfazer sempre todos os gostos, mas a minha preocupação está com a distribuição”, explica ao Observador, acrescentando que a expectativa é que a plataforma “dê o salto” em setembro, uma vez que muita gente vai regressar à rotina normal depois das férias.

Se a qualidade da distribuição é a grande prioridade do iPão, encontrar parceiros é, ao mesmo tempo, a maior dificuldade que Pedro Marques tem sentido ao longo do tempo. Tudo porque existe uma condição: as padarias parceiras têm de fazer distribuição porta a porta e isso “é algo que já não é tão fácil de encontrar”. “Já tivemos contactos de padarias que são apenas de balcão e que perguntam como é que funciona o projeto. A primeira pergunta que fazemos logo é se fazem distribuição porta a porta”, explica o responsável.

Outro dos aspetos que o responsável salienta no que toca à distribuição dos produtos é o facto de existir apenas um parceiro destinado a cada zona de funcionamento. No Porto, por exemplo, há uma padaria que cobre as oito freguesias, Matosinhos e Leça da Palmeira.

Não queremos e não vamos criar concorrência dentro da própria plataforma. Se, por exemplo, em plataformas como a Uber ou a Glovo o cliente entra e escolhe o próprio restaurante de onde quer receber o produto, aqui não queremos dar essa opção. Asseguramos a qualidade dos produtos, mas não abrimos concorrência dentro da própria plataforma. Um parceiro nosso que feche connosco, mesmo numa simples freguesia, fica apenas ele. Até porque não queremos abrir uma guerra em termos de preços, não é esse o objetivo”, explica Pedro Marques.

Até ao final do ano, o iPão pretende entrar em, pelo menos, mais duas grandes cidades. A equipa deverá também ser aumentada, há a vontade de criar uma app, mas sempre com o mesmo objetivo: “Educar novamente as pessoas e a explicar que, na verdade, o serviço de entrega porta a porta do pão nunca desapareceu”.

*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.