É como uma festa tradicional de agosto que chega ao auge esta semana. A chuva de estrelas das Perseidas atingirá o pico de atividade a 12 de agosto. E embora a melhor parte do espetáculo aconteça entre as 14h e as 17h de quarta-feira, em Portugal ainda pode vê-lo nas próximas noites e até dia 24 de agosto.

De acordo com o Observatório Astronómico de Lisboa, a melhor altura para observar as Perseidas será entre as 22h do dia 12 de agosto e as 00h30 do dia 13, antes do nascimento da Lua. Nesta altura, o céu vai ser atravessado por uma média de 110 meteoros por hora. Para os ver, não precisará de nada mais além dos seus olhos: basta olhar para nordeste e encontrar a constelação de Perseus, tal como mostra o mapa aqui em baixo.

Há dois mil anos que as Perseidas abrilhantam o céu noturno ao longo do verão, nos meses de julho e agosto. Todos os anos por esta altura, a órbita da Terra cruza-se com o rasto de poeiras deixadas para trás pelo cometa Swift-Tuttle, que anda em torno do Sol e completa uma volta completa a cada 133 anos.

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Essas poeiras, chamadas meteoros quando interagem com a atmosfera terrestre, costumam ser minúsculas, com o tamanho de grãos de areia e de ervilhas. No entanto, cruzam as camadas mais altas da atmosfera, a 130 quilómetros de altitude, a velocidades alucinantes: 59,5 metros por segundo, o equivalente a 214 quilómetros por hora. As partículas aquecem, tornam-se incadescentes e desintegram-se pelo caminho, criando as linhas de luz que atravessam o céu.

É um espetáculo capaz de arrancar suspiros aos terráqueos, mas há uma tragédia iminente atrás das Perseidas. Com um núcleo com 26 quilómetros de diâmetros (mais do dobro do meteorito que terá extinguido os dinossauros, o cometa Swift-Tuttle é o maior dos objetos próximo à Terra que cruza repetidamente a órbita do nosso planeta.

Legenda: a órbita do cometa Swift-Tuttle (roxo) em torno do Sol (círculo amarelo no centro). A órbita da Terra está representada a azul. O percurso de Júpiter surge a verde, o de Saturno em vermelho e o de Urano a amarelo.

Ora, para compreender porque é que isso pode ser ainda mais assustador do que parece à primeira vista, é preciso recuar até 1973. Brian Marsden, astrónomo do Centro Harvard-Smithsonian para a Astrofísica, descobriu que o cometa visto em 1862 por Lewis Swift e Horace Tuttle devia ser o mesmo que havia sido reportado em 1737 por Ignatius Kegler, um missionário jesuíta que vivia em Pequim, na China. A previsão foi confirmada mais tarde.

Com a redescoberta do cometa Swift-Tuttle, a data da próxima aproximação à Terra foi atualizada para uma noite no final de 1992. E assim foi: o cometa perdido foi reencontrado por um astrónomo amador japonês, Tsuruhiko Kiuchi, a 26 de setembro desse ano.

Um dos maiores meteoros que fotografei a rasgar os céus… Tenho tudo preparado e planeado para fotografar as Perseidas já no próximo dia 12 ???? E vocês?

Posted by Miguel Ventura on Thursday, August 6, 2020

No entanto, havia um problema. A data do periélio — o dia em que o cometa faria a maior aproximação ao Sol — tinha sido mal calculada nos anos 70 e falhou por 17 dias. Se uma falha semelhante de apenas 15 dias voltasse a acontecer em agosto de 2126, que foi a data da próxima aproximação calculada por Brian Marsden, então a Terra e o cometa estariam no mesmo lugar ao mesmo tempo. Por outras palavras: o Swift-Tuttle iria colidir com o planeta com uma energia 26 vezes maior do que a libertada pelo asteroide que ditou o fim da era dos dinossauros.

As boas notícias são que, desde esses tempos, os astrónomos conseguiram fazer cálculos cada vez mais refinados e descobriram que, afinal, a órbita do cometa era mais estável do que se julgava inicialmente. Sendo assim, o Swift-Tuttle passará a 24 milhões de quilómetros da Terra em 2126, o suficiente para um belo espetáculo astronómico sem o perigo de destruir o planeta.

Em 3044, o cometa vai passar de raspão pela Terra, mas sem hipótese de catástrofe. A maior aproximação, no entanto, deve ocorrer a 15 de setembro de 4479, quando o Swift-Tuttle passar a apenas 0,05 unidades astronómicas da Terra — o equivalente a 7,5 milhões de quilómetros. Mesmo assim, a probabilidade de colisão é de apenas uma num milhão. Daí para a frente, ainda não se sabe o que pode acontecer.