Em junho de 1996, na fase de grupos do Campeonato da Europa daquele ano, Paul Gascoigne marcou o segundo golo da vitória da seleção inglesa contra a Escócia. Depois do remate certeiro, correu para a zona da linha de fundo, pegou numa garrafa de água que lá tinha sido colocada previamente e esperou por Jamie Redknapp, Steve McManaman e Alan Shearer. Deitou-se no chão, de barriga para cima, e abriu a boca enquanto Shearer lhe atirava água para cima. O festejo, claramente coreografado e ponderado, ficou na história como a celebração da “cadeira do dentista”. Mas a história daquele momento tinha começado 17 dias antes.

Na antecâmara do início do Europeu, organizado por Inglaterra e onde a seleção inglesa tinha uma enorme esperança de voltar a conquistar um título internacional, vários jogadores ingleses foram apanhados a sair de um bar em Hong Kong, visivelmente embriagados. As fotografias fizeram a capa de praticamente todos os jornais do país no dia seguinte, onde os pedidos de exclusão da convocatória do selecionador Terry Venables se multiplicavam, e foi nessa altura que a expressão “cadeira do dentista” ficou conhecida. No bar de onde saíram os jogadores da seleção, o modus operandi era simples: os clientes sentavam-se numa cadeira com a cabeça para cima e os funcionários deitavam bebidas alcoólicas. A resposta de Gascoigne e companhia às críticas e às vozes mais extremadas apareceu 17 dias depois do escândalo, com um festejo que ironizava a situação. No dia seguinte ao jogo com a Escócia, o Daily Mail publicou um editorial com o título “Um pedido de desculpas a Gascoigne”. Gazza, como era conhecido, estava perdoado. E não voltaria a ser esquecido.

#Gazzasback! Depois do álcool, das drogas e das polémicas, Paul Gascoigne volta em grande

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A história da “cadeira do dentista” é uma das mais conhecidas do antigo internacional inglês — e uma das que, com toda a certeza, estará representada no novo filme que está a ser preparado sobre a vida e a carreira de Paul Gascoigne. Depois de assinar três autobiografias nos últimos anos, o inglês de 53 anos garantiu esta semana que está a colaborar com um filme biográfico. “Há pessoas a olhar para um filme e a tentar encontrar alguém para me interpretar. Vou guiá-los e vou ler o argumento, vai ser sobre a minha vida toda. Vão usar os meus livros. Sejamos honestos: não tenho nada a esconder. Já apareceu tudo nos jornais, o bom e o mau”, disse Gascoigne ao Daily Mirror. O filme segue-se então a “Gascoigne”, o documentário não-ficcional sobre o antigo jogador que saiu em 2015.

Formado no Newcastle e tido como uma lenda do clube, o antigo avançado também representou o Tottenham, a Lazio, o Rangers, o Middlesbrough, o Everton, o Burnley e ainda os chineses do Gansu Tianma e os norte-americanos do Boston United. Terminou a carreira em 2004, aos 37 anos e depois de mais de 50 internacionalizações pela seleção inglesa, onde é principalmente recordado pelas lágrimas que não conseguiu esconder na meia-final do Mundial de 1990, quando viu um cartão amarelo que o deixaria castigado em caso de apuramento para a final. Num percurso muito marcado e castigado por problemas de saúde mental e distúrbios emocionais, Gascoigne responsabiliza um longo rol de vícios — desde o álcool à cocaína, passando pelo jogo e por fast food — pelos episódios de violência, pela instabilidade familiar e pelas dívidas acumuladas.

No que toca ao filme, acima de tudo, existe uma dúvida: o ator que vai interpretar Paul Gascoigne. E à partida, existem dois que já referiram anteriormente que gostariam de encarnar o antigo jogador no grande ecrã — Sean Bean, o Boromir de “Senhor dos Anéis” e o Ned Stark de “Guerra dos Tronos”, e Jack O’Connell, conhecido pela série “Skins”, que já chegou a dizer que seria o seu “papel de sonho”.