Uma investigadora da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) desenvolveu um modelo para selecionar “locais ótimos” de aproveitamento de águas pluviais e que pretende ajudar a melhorar a gestão e o planeamento hídrico em Portugal. O trabalho foi desenvolvido pela investigadora Daniela Terêncio, no âmbito de uma tese de doutoramento da UTAD, em Vila Real.

A academia transmontana explicou esta quinta-feira, em comunicado, que o modelo, “baseado em simulações”, aguarda resultado de submissão de patente europeia e foi testado na bacia do rio Ave, numa área agrícola de 400 hectares.

De acordo com a UTAD, foi analisada a “captação de água da chuva (RWH) em bacias hidrográficas para uso agroflorestal e dada atenção ao equilíbrio entre os valores de sustentabilidade e à capacidade de armazenamento dos sistemas de aproveitamento de águas pluviais (APP)”. Esta escolha permitiu a seleção de “locais ótimos” longe de centros urbanos ou grandes áreas agrícolas, localizados em bacias hidrográficas de alta altitude.

Os resultados obtidos destacaram a importância das características do local onde se pretende implementar o modelo. A melhor área para fazer o aproveitamento da água poderá depender do pretendido pelo utilizador, sendo que poderá escolher se pretende que o local de captação seja mais perto ou com uma parede do açude mais pequena ou até onde tenha a certeza que terá mais água disponível”, referiu Daniela Terêncio, responsável pela investigação.

O modelo foi também aplicado na bacia hidrográfica do rio Sabor, nomeadamente em 384 sub-bacias de captação de precipitação para irrigação de culturas e combate a incêndios florestais, onde foi explorado o equilíbrio entre sustentabilidade e capacidade de armazenamento de água da chuva.

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“Foi claramente demonstrado que barragens com três metros de altura são capazes de apoiar a agricultura doméstica ou comunitária pequena, com áreas de irrigação menores que 10 hectares, ou auxiliar no combate a pequenos incêndios florestais”, salientou Daniela Terêncio. Mas, acrescentou, projetos de irrigação mais rigorosos “exigem o armazenamento de água da chuva colhida em estruturas mais projetadas, ou seja, não sustentáveis”.

Com o foco centrado na mitigação de eventos extremos, foi também desenvolvido um modelo de atenuação de inundação baseado em bacias de retenção sustentável em Portugal Continental, tendo sido assinaladas 23 zonas que implicavam risco de inundação alto e muito alto.

Daniela Terêncio salientou que, “através de cálculo, foi feita a retenção do volume de água, tendo as conclusões indicado que em 20 destas zonas seria possível controlar o volume de água com infraestruturas até 10 metros, mas em Coimbra, Santiago do Cacém e Ponte da Barca seria necessária uma infraestrutura superior (grande barragem) para fazer face a este risco”.

Esta investigação foi realizada no âmbito do Projeto INTERACT (Integrative Research in Environment, Agro-Chains and Technology), foi orientada por Luís Filipe Fernandes, Fernando Pacheco e Rui Cortes, docentes e investigadores da UTAD, e já originou diversos artigos publicados em revistas científicas na área da hidrologia, recursos hídricos e ambiente.