“Liga dos agricultores”, escreveu Kylian Mbappé no Twitter depois do triunfo do Lyon frente ao Manchester City, mais uma surpresa a marcar os quartos de uma Liga dos Campeões que pela pandemia e pelo formato na parte final ficará sempre na história mas que agora ganhou mais um dado para não mais ser esquecida: pela primeira vez desde que existe com este nome não haverá equipas nem de Espanha, nem de Inglaterra, nem de Itália nas meias-finais da prova, que ficaram circunscritas a uma aliança franco-alemã de PSG-RB Leipzig e Bayern-Lyon. E as surpresas não ficaram apenas por aí, bastando olhar para os jogadores portugueses na competição.

Guardiola não foi fiel a si mesmo e Dembelé escreveu história com LOL (a crónica do Manchester City-Lyon)

O Tottenham de Gedson Fernandes já tinha caído antes da pandemia nos oitavos, o Valencia de Gonçalo Guedes e Thierry Correia também, o B. Dortmund de Raphael Guerreiro idem. Após a paragem, houve mais internacionais como Mário Rui do Nápoles ou Cristiano Ronaldo da Juventus, naquela que foi a grande surpresa dessa fase e com um papel determinante do guarda-redes Anthony Lopes. Com Bernardo Silva, João Cancelo (Manchester City), João Félix (Atl. Madrid) e Nelson Semedo (Barcelona) confirmados ou prestes a confirmar presença, juntou-se o luso-francês como convidado inesperado da Final Eight. Agora, nas meias, passa a ser o único representante.

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“É incrível porque nós éramos claramente a equipa surpresa. Ninguém achava que podíamos chegar a este nível. O nosso sistema com cinco jogadores atrás funcionou muito bem, sabíamos que íamos criar oportunidades se os atraíssemos. Estamos muito felizes com o resultado e merecemos estar nas meias-finais. Muitas pessoas não esperavam que chegássemos aqui, somos os outsiders. Agora vamos descansar. É mais fácil recuperar depois de uma vitória destas”, comentou o guardião na flash interview após o triunfo por 3-1 frente ao Manchester City. “Estamos orgulhosos. Temos o direito de continuar a sonhar, de acreditar. Temos mérito por estar aqui e jogamos para viver partidas deste tipo”, acrescentou depois, em declarações à RMC.

“Temos de descansar bem porque vem aí o Bayern mas todos os jogadores recuperam melhor depois de se ganhar um jogo. Eliminámos a Juventus e o Manchester City, dois candidatos, e agora vamos ter pela frente o Bayern, que é outro candidato. Por aquilo que os jogadores demonstraram hoje, podemos vencer novamente. Estamos a construir algo positivo e os nossos níveis de confiança estão a crescer mas continuamos a não ser favoritos contra o Bayern. Podemos surpreender, tal como fizemos contra a Juventus e o Manchester City. Se chegarmos à final é porque certamente merecemos lá estar”, salientou depois o técnico do Lyon, Rudi Garcia.

O guarda-redes foi também uma das principais figuras do Lyon, com duas intervenções difíceis no final da primeira parte e outras tantas no período de maior domínio do Manchester City após o empate, em contraponto com Ederson, que não ficou bem no primeiro golo de Cornet e acabou por “dar” o terceiro a Moussa Dembelé. Todavia, e no final, foi sobretudo reconhecido pela UEFA pelo gesto que teve no final do encontro, ao ir consolar os vários adversários que tinham ficado no relvado como Sterling, Mahrez e Gabriel Jesus antes de ir festejar o triunfo. “Respeito”, escreveu nas redes sociais o órgão que tutela o futebol europeu com essa imagem.

Nascido em Givors, com o pai nascido em Barcelos e a mãe francesa mas com pais de Miranda do Douro, Anthony Lopes, que foi campeão europeu em 2016 por Portugal, seleção que representou desde os Sub-17, nunca passou pelo Campeonato Nacional, tendo começado no OSGL Football antes de se transferir para o Lyon aos dez anos, tendo a partir daí feito toda a carreira no clube onde chegou ao plantel sénior em 2012. Assumiu-se como titular a partir de 2013/14, tendo realizado já mais de 330 encontros oficiais pela formação francesa. No ano passado esteve muito perto de pela primeira vez mudar-se para Portugal e logo para o seu clube do coração, o FC Porto, mas uma proposta de renovação do Lyon fez com que o guarda-redes e Comendador se mantivesse em França. Desafiado a escolher o seu onze de sonho num programa em junho, Anthony Lopes, que se escolheu a si próprio para ocupar a baliza, optou por mais quatro portugueses: Anthony Lopes; Dubois, Sergio Ramos, Umtiti, Raphael Guerreiro; Tiago, Ferri, Tolisso; Lacazette, Lionel Messi e Cristiano Ronaldo.

Anthony Lopes faz pausa na carreira e na seleção portuguesa