Romelu Lukaku mantém a mesma cara de miúdo com que trocou o Anderlecht pelo Chelsea há quase dez anos, tendo sobretudo menos cabelo (ou nenhum, compensando numa barba farta mas com o seu estilo) do que aquele diamante em bruto que chegou a Londres como uma das principais promessas para a próxima década. Já nessa altura, acabado de fazer 18 anos, era visto como um pilar importante para um início de ciclo por onde passava – o que mudava mesmo eram os valores em causa. Ao Chelsea ficou por “apenas” 12 milhões, ao Everton passou para 35 milhões, ao Manchester United subiu para 87 milhões, ao Inter desceu ligeiramente para 80 milhões. Um ‘9’ de raiz é sempre caro, a dúvida é se consegue ser um investimento ou se mantém esse valor como um custo. E essa era a grande questão em torno do dianteiro belga quando chegou a Milão a pedido de Antonio Conte.

Luís Castro sabia tudo. Só não conseguiu fazer nada (a crónica do Inter-Shakhtar)

“Ele admitiu que tinha peso a mais! Pesa mais de 100 quilos! É jogador do Manchester United. Vai marcar golos e dar-se bem no Inter de Milão mas a falta de profissionalismo é contagiosa”, atirava no Twitter o antigo jogador dos red devils e hoje comentador (a carreira como treinador foi um tiro ao lado) Gary Neville, na opinião mais representativa sobre quem criticava o rendimento do jogador. Em resposta, uns dias depois, Lukaku colocou uma fotografia onde mostrava os seus abdominais com a mensagem “Nada mau para um rapaz gordo”. E chegou mesmo a colocar-se em causa se faria a estreia na Serie A frente ao Lecce, com alguma imprensa transalpina a dizer que tinha mesmo 104 quilos, quatro a mais do limite imposto pelos nerazzurri. Não só jogou como marcou.

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“Ele pode dizer o que quiser sobre a minha condição física mas nunca poderá dizer nada sobre o profissionalismo, que não trabalho o suficiente. Isso é uma coisa que não pode dizer”, atirou depois o belga numa entrevista à BBC Sports, que mereceu prontamente resposta de Gary Neville: “Ainda bem que se foi embora do Manchester United. Não ficarei contente até que todos aqueles que pensam que são melhores ou maiores do que o clube não forem embora. E não é nada pela nacionalidade nem por ser ou não bom jogador, ele marca sempre golos”. Essa guerra conheceu um segundo episódio mas depois foi ficando diluída no tempo. Hoje, numa temporada atípica, Lukaku está na final da Liga Europa mas terá pela frente o Sevilha e não o ex-clube, o Manchester United.

“A equipa tem estado bem, todos estão a dar o máximo. Trabalhámos muito no estágio que tivemos antes, foi algo difícil mas agora estamos a ver os resultados do trabalho árduo que fizemos. Física e taticamente, todos estão a 100% e podemos continuar assim. Sabíamos que eles eram muito bons em combinações curtas e que se tivéssemos a defesa a jogar perto não teríamos problemas porque a nossa parte física seria demais para eles. Na segunda parte isso fez a diferença. É verdade que está a ser um bom arranque para mim no clube mas ainda temos mais um jogo. Os recordes existem para serem batidos mas agora temos uma final contra uma equipa que é favorita. Se preferia que fosse o Manchester United? Bem, eles tentaram tudo e fizeram uma boa época, o Greenwood está a aparecer, há o Martial e o Rashford e para o ano voltarão melhores”, comentou no final do encontro.

Ao todo, Lukaku leva já um total de 33 golos em 50 jogos oficiais, contando com Serie A (23 em 33 jogos), Taça de Itália (dois em quatro), Liga dos Campeões (dois em cinco) e Liga Europa (seis em cinco), e encontra-se apenas a um de igualar Ronaldo Fenómeno como jogador com mais golos marcados na época de estreia pelo Inter. Além disso, prolongou o feito histórico nas provas europeias, marcando há dez jogos seguidos na Liga Europa entre os jogos pelos italianos e pelos ingleses. Em paralelo, Lukaku e Lautaro Martínez, ambos com dois frente ao Shakhtar na goleada que levou a equipa à final da Liga Europa, tornaram-se a primeira dupla ofensiva dos nerazzurri a marcar mais de 20 cada desde Adriano e Obafemi Marins na temporada de 2004/05.