O chefe do governo canadiano, Justin Trudeau, foi forçado a fazer uma ligeira remodelação do seu executivo, transferindo o seu fiel “braço direito”, Chrystia Freeland, para as Finanças, depois de uma demissão provocada por um escândalo ético.

Freeland torna-se na primeira mulher na história do Canadá a ocupar o posto da ministra das Finanças, quando o país atravessa a sua pior crise económica desde a Segunda Guerra Mundial devido à pandemia do novo coronavírus. Chrystia Freeland tomou esta posse esta terça-feira durante uma cerimónia oficial em Otava, na presença de Trudeau e da governadora geral Julie Payette, representante da rainha Isabel no Canadá, todos mascarados.

Antiga ministra dos Negócios Estrangeiros, que tinha dirigido a renegociação do acordo de comércio livre do Canadá com os EUA e o México, Chrystia Freeland, de 52 anos, tinha sido promovida a vice-primeira-ministra depois da vitória eleitoral dos liberais de Trudeau, em outubro. Ela é considerada a sua ministra mais próxima e uma candidata potencial à sua sucessão na direção do Partido Liberal.

Chrystia Freeland conserva o posto de vice-primeira-ministra e cede o Ministério dos Assuntos Intergovernamentais a Dominic Leblanc, presidente do Conselho Privado da Rainha para o Canadá. A remodelação limitada segue-se à demissão surpreendente na noite de segunda-feira de Bill Morneau, ministro das Finanças desde 2015.

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Este explicou que saía por decisão própria, para permitir ao seu sucessor dirigir o relançamento económico do país, e dedicar-se à sua candidatura a secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

Desde há uma semana que vários meios canadianos aludiam a profundas divergências entre Morneau e primeiro-ministro sobre a forma de relançar a economia, enfraquecida pela pandemia, sem colocar em perigo as finanças públicas, quando o défice orçamental atinge mais de 340 mil milhões de dólares (216 mil milhões de euros).

O ex-ministro das Finanças é, por outro lado, visado por um inquérito do comissário canadiano da Ética sobre as suas relações com a associação caritativa We Charity — que empregava a sua filha —, à qual o governo tinha atribuído um importante contrato sem concurso.

Esta investigação também inclui o primeiro-ministro, cuja mãe, o irmão e a mulher foram remunerados por esta associação, por um total de 300 mil dólares pela sua participação em diversos acontecimentos.

À semelhança de Trudeau, Morneau apresentou as suas desculpas por ter participado nas discussões sobre a atribuição do contrato governamental à associação. O contrato foi-lhe depois retirado, mas sem acabar com a polémica que fez recuar o governo de Justin Trudeau nas sondagens.

Morneau desmentiu que a sua saída esteja ligada a este escândalo, mas a oposição imediatamente lançou suspeitas sobre Justin Trudeau de ter feito do seu ex-ministro um bode expiatório, sacrificado na esperança de fazer desaparecer o escândalo We Charity.

“Todos nós sabemos que foi este escândalo que fez cair Morneau”, reagiu o porta-voz do Partido Conservador, Pierre Poilièvre. “Com efeito, temos agora um governo corrompido, dissimulador e em pleno caos, no meio de uma pandemia mortal e da pior contração económica desde a Grande Depressão”, desenvolveu.