A autoridade para fazer auditorias a lares é exclusivamente do Governo, defendeu esta terça-feira o presidente das Misericórdias, criticando a auditoria “de moto-próprio” da Ordem dos Médicos em Reguengos de Monsaraz, e deixando rasgados elogios à ministra da tutela.
“Como diz o nosso povo: Cada macaco no seu galho. Não faz sentido que uma instituição qualquer — ainda que seja a Ordem dos Médicos, que não é uma instituição qualquer —, vá para dentro de um lar, onde não é obrigatório ter médicos, fazer uma auditoria”, disse à Lusa o presidente da UMP, Manuel Lemos, a propósito do caso do Lar de Reguengos de Monsaraz, que registou um surto de Covid-19 que já infetou 162 pessoas, maioritariamente utentes e funcionários, e vitimou 18 pessoas, entre as quais 16 utentes, uma funcionária do lar e um homem da comunidade.
Manuel Lemos defendeu que só por iniciativa do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS) e a pedido deste é que a Ordem dos Médicos poderia ter sido chamada a fazer uma auditoria ao lar de Reguengos de Monsaraz, dizendo ainda que os problemas clínicos apontados ao acompanhamento dos utentes resultam da ausência de visitas de médicos ao lar, cujos utentes estão sob a alçada do Serviço Nacional de Saúde (SNS), pelo que seria responsabilidades dos centros de saúde garantir a ida de médicos ao local.
Manuel Lemos disse que não é por ser uma auditoria da Ordem dos Médicos que o relatório produzido “deve ser tomado como bom”, sublinhando as críticas à autora do documento e as dúvidas levantadas pelo presidente da ARS Alentejo sobre a metodologia usada. E insistiu na falta de legitimidade da Ordem dos Médicos para fazer uma auditoria a um lar.
“Quem é que pode fazer auditoria nos lares? Só a tutela. Isto é uma coisa de moto-próprio. Estamos todos a entrar num delírio que é total e absoluto”, disse.
Ainda sobre o caso de Reguengos de Monsaraz, e a propósito da polémica criada em torno de declarações da ministra da tutela, Ana Mendes Godinho, em entrevista ao jornal “Expresso”, que o primeiro-ministro, António Costa, esta terça-feira classificou como “artificial”, reiterando total confiança política na responsável pelo MTSSS, Manuel Lemos reagiu com rasgados elogios à ministra, colocando-se “completamente e o mais possível” ao lado das declarações do primeiro-ministro.
“Acho que a senhora ministra tem sido competente, tem sido esforçada, tem sido atenta aos problemas das instituições. Uns consegue resolver, outros não consegue resolver. Estamos perante uma pandemia, a navegar à vista. Concordo com o senhor primeiro-ministro”, disse.
Sobre os lares das Misericórdias, onde já se registaram 148 óbitos por Covid-19 (dados até à tarde de segunda-feira) e se continuam a registar casos de infeção, “mas sem expressão significativa”, Manuel Lemos sublinhou ainda a importância para as instituições da medida implementada no contexto da pandemia que permitiu a colocação de desempregados e trabalhadores em layoff nos lares, suprindo necessidades de pessoal.
“Mais uma coisa em que a ministra tem sido impecável”, disse.
O surto de Reguengos de Monsaraz, detetado em 18 de junho, provocou 162 casos de infeção, a maior parte no lar (80 utentes e 26 profissionais), mas também 56 pessoas da comunidade, tendo morrido 18 pessoas (16 utentes e uma funcionária do lar e um homem da comunidade).