O Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava) considerou esta terça-feira “deplorável” e “insultuoso” do ponto de vista ético que a TAP tenha escolhido a Boston Consulting Group (BCG) para assessorar o plano de reestruturação da companhia aérea.

Em causa está o anúncio, na semana passada, da BCG como a consultora escolhida para apoiar na elaboração do plano de reestruturação a apresentar à Comissão Europeia, no âmbito do auxílio financeiro do Estado à TAP, no montante máximo de 1.200 milhões de euros.

“O anúncio por parte do Conselho de Administração de que a ‘escolha’ da consultora para assessorar o plano de recuperação da TAP tinha recaído sobre a BCG (Boston Consulting Group), trouxe-nos imediatamente à memória tempos passados, mas não muito, quando esta mesma consultora foi também contratada para elaborar um outro estudo que acabou por ficar famoso”, defende o sindicato, em comunicado, referindo-se ao projeto RISE, que considera responsável pela descaracterização da transportadora.

Mais, o Sitava diz também que, no âmbito daquele projeto, foram contratados 18 trabalhadores, “à revelia da Direção de Recursos Humanos”, dos quais 15 não viram os seus contratos renovados.

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De acordo com o sindicato, quatro destes 15 trabalhadores foram agora contratados pela BCG e já apresentados aos ex-colegas para fazerem a reestruturação da TAP.

“Que credibilidade vai ter o trabalho desta espécie de consultora? Isto até pode ser tudo legal, mas do ponto de vista ético é, no mínimo, deplorável e até insultuoso”, considera o Sitava.

O Sindicato relembra ainda uma notícia do Jornal de Negócios, de 2008, que dava conta de dois estudos sobre o Aeroporto Sá Carneiro, no Porto, encomendados à BCG, que produziram “conclusões diametralmente opostas”, para se ajustarem aos “desejos de quem os encomendou (a ANA Aeroportos, por um lado, e um grupo de empresas do norte liderado pela SONAE, por outro)”.

Em 2016, o Sitava já tinha demonstrado o seu desagrado relativamente a um estudo pedido pela companhia aérea à BCG, que considerava um “plano de destruição da TAP”.

“Com o conhecimento destes factos, torna-se cada vez mais estranho e incompreensível que o Governo, que assumiu compromissos com o país em relação à privatização da TAP [reversão da privatização da TAP formalizada em novembro de 2015], se coloque numa posição de assobiar para o lado, alienando a responsabilidade de acionista maioritário, podendo comprometer irremediavelmente, o futuro da empresa e o interesse nacional”, apontava, na altura, o sindicato.

“A Boston Consulting Group (BCG), consultora selecionada para a elaboração do referido plano (de reestruturação) e para apoiar a TAP até à sua aprovação nas instâncias comunitárias, irá iniciar os seus trabalhos na próxima segunda-feira, dia 17 de agosto”, lê-se numa mensagem do Presidente do Conselho de Administração da TAP, Miguel Frasquilho, aos colaboradores, no dia 11 de agosto.

Em 21 de julho, o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, anunciou que a TAP iria contratar uma consultora de recursos humanos para fazer a avaliação dos gestores da empresa, para “apoiar” o processo de reestruturação.

O ministro explicou ainda que era a própria TAP que estava a fazer o processo de escolha da empresa consultora, bem como do banco de investimento.

Cabe ao Governo fazer a escolha da empresa que terá como função selecionar o novo presidente executivo (CEO) da TAP, que vai suceder a Antonoaldo Neves na liderança do grupo.

O Conselho de Ministros aprovou em 17 de julho a concessão de um empréstimo de até 1.200 milhões de euros à TAP, em conformidade com a decisão da Comissão Europeia.

Além do empréstimo remunerado a favor do Grupo TAP de 946 milhões, ao qual poderão acrescer 254 milhões, sem que, contudo, o Estado se encontre vinculado à sua disponibilização, as negociações tinham em vista a aquisição, por parte do Estado Português, “de participações sociais, de direitos económicos e de uma parte das prestações acessórias da atual acionista da TAP SGPS, Atlantic Gateway, SGPS, Lda.”.

Desta forma, o Estado Português passa a deter uma participação social total de 72,5% e os correspondentes direitos económicos na TAP SGPS, pelo montante de 55 milhões de euros.