Há dois aspetos em que o utilizador comum pensa quando se aproxima de uma casa de banho pública: a primeira é se estará suficientemente limpa para se aventurar; a segunda é se estará ocupada. Pelo menos é aquilo que vem de imediato à cabeça do arquiteto Shigeru Ban (n.1957) , que acredita que o grau de preocupação aumenta quando nos encontramos num espaço como um parque ou jardim, no meio de uma fervilhante cidade — neste caso em Tóquio, onde foi recentemente instalado este inovador projeto que promete alterar a perceção que temos de um WC.

É graças à mais recente tecnologia que é possível arriscar a entrada nestes cubículos “transparentes”, característica que na verdade é apenas momentânea. Se num primeiro contacto com a instalação é possível conferir níveis de limpeza e ocupação, o vidro exterior torna-se opaco quando alguém se tranca no interior, para tranquilidade de quem usa os WC, que à noite parecem lanternas luminosas no meio do jardim.

Uma vez no interior, e devidamente trancado, o espaço torna-se invisível aos olhares dos curiosos © Satoshi Nagare/The Nippon Foundation

Os módulos, disponíveis para homens, mulheres, e utilizadores com mobilidade reduzida, foram dispostos em dois parques da capital nipónica, o Yoyogi Fukamachi Mini Park e o Haru-no-Ogawa Community Park. Em modo teste, e de visita a um destes locais, uma equipa da CNN relata a experiência , dando conta de como as paredes em espelho que separam as divisões alimentam ainda mais essa ideia de transparência. Deixam ainda uma dica essencial: convém mesmo trancar a porta para garantir o efeito da opacidade, caso contrário corre o risco de ficar exposto, como aconteceu com um transeunte enquanto o jornal verificava o sistema de funcionamento.

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A criação de Shigeru Ban, que inclui o prestigiado Pritzker no curriculum, inscreve-se no ainda fresco Tokyo Toilet Project, a série que reinventa as casas de banho públicas, a cargo da Nippon Foundation. Em comunicado, a organização privada sem fins lucrativos, centrada na inovação, recorda como o número de pessoas que utilizam casas de banho públicas no Japão é muito limitado, pelos atributos menos simpáticos que costumam apresentar: “escuros, sujos, e com um cheiro desagradável”. É assim que, para contrariar esta noção, já estão nas ruas japonesas os primeiros cinco WC’s, que incluem os dois blocos de casas de banho transparentes. Mas há mais a descobrir sobre aquelas que são também “um símbolo da hospitalidade da cultura nipónica”.

A “lula” de Fumihiko Maki

Já disponíveis estão também o “Modern Kawaya”, concebido por Masamichi Katayama e pelo seu estúdio de design de interior, Wonderwall Inc, que recuam a origens neolíticas, e a “casa de banho lula” do quase centenário e veterano arquiteto Fumihiko Maki, cuja criação se situa naquele que é conhecido como Parque Polvo, um parque infantil em pleno Ebisu East Park. Enquanto isso, a designer Nao Tamura apostou em “Origata”, como forma de trazer os desafios da comunidade LGTBQ+ para a discussão.

A casa de banho labiríntica de Masamichi Katayama

Entre 31 de agosto e o verão de 2021 surgirão mais 13 projetos que prometem desafiar quem passa — nem que seja para tirar uma fotografia, pela originalidade das criações. O trabalho envolveu parcerias com alguns dos maiores nomes da arquitetura e indústrias criativas, casos de Tadao Ando e Toyo Ito, que assinam 17 WC’s que serão dispostos pelo movimentado bairro de Shibuya, com o poder local e respetiva associação de de turismo a associar-se à iniciativa e garantir a gestão dos WC’s.

A “Origata” de Nao Tamura

Para além de recorrerem aos materiais e design mais avançados, os projetos têm um foco particular na inclusão. A sua construção está a cargo do Daiwa House Group, o maior contrutor de equipamento desta natureza no Japão, com os acessórios a serem fornecidos pela TOTO Ltd.