O Bloco de Esquerda (BE) de Vila Real considerou esta quinta-feira “um retrocesso” e “uma atitude irresponsável preocupada com a estratégia partidária” o referendo local sobre a reabertura ao trânsito automóvel da ponte romana em Chaves.

“Propor, após 12 anos, um referendo à população sobre a sua reabertura, não só é um retrocesso na defesa deste monumento, como é uma atitude irresponsável preocupada com a estratégia partidária, sem se preocupar verdadeiramente com o interesse da população”, destaca, em comunicado, a Comissão Coordenadora do BE de Vila Real.

O referendo local em Chaves, no distrito de Vila Real, sobre a reabertura da ponte romana ao trânsito automóvel, que é pedonal desde 2008, vai realizar-se em 13 de setembro.

Para os bloquistas, o referendo “contribui para a abertura de um precedente, permitindo que no futuro se ponham em causa outras medidas de proteção e preservação de património, adulterando os seus usos e propósitos de visitação, estudo, investigação e acesso democrático”. O BE de Vila Real realça que é dever do poder local “zelar pela preservação, defesa e valorização do património cultural”.

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“O conhecimento crítico e a apropriação consciente da população do seu património é indispensável ao processo de preservação e fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania”, destaca ainda. A Comissão Coordenadora considera ser “de extrema importância a preservação de bens históricos, arqueológicos e arquitetónicos que constituem testemunhos com valor de civilização ou de cultura portadores de interesse cultural relevante”. E lembra não ser a primeira vez que, em Chaves, “se insurge contra práticas desfavoráveis à proteção e valorização do património histórico local”.

“O encerramento desta ponte ao trânsito automóvel, há 12 anos, foi uma medida baseada num estudo técnico sobre a segurança da infraestrutura e resultado de uma posição do Ministério da Cultura responsável pela tutela deste monumento, uma decisão acertada quer em termos de preservação do monumento, quer em termos de sustentabilidade ambiental”, defende.

O Bloco destaca também que “toda a área envolvente” à ponte romana e os setores de atividade económica existentes nas áreas circundantes terão “muito mais a ganhar com a preservação deste monumento nacional, do que com a sua reabertura ao trânsito automóvel”.

“Para além de acelerar o seu processo de deterioração, não está provado que seja uma garantia de um verdadeiro estímulo para o setor do comércio e restauração”, sublinha o comunicado.

“Defendemos que o desenvolvimento desta área urbana passa antes por um ordenamento concertado e uma intervenção de reabilitação urbanística que promova a valorização e preservação de outros edifícios de interesse histórico e espaços verdes, bem como por estratégias inteligentes e criativas, de promoção e valorização, de forma sustentável e sem a sua descaracterização, deste local tão especial onde nasce a Estrada Nacional 2, com potencial interesse turístico”, aponta ainda.

A proposta para a realização do referendo em Chaves, apresentada pelo executivo liderado por Nuno Vaz e aprovada em reunião de Câmara em 22 de junho, foi também aprovada em Assembleia Municipal de Chaves e validada pelo Tribunal Constitucional. O referendo terá uma única pergunta de resposta “sim” ou “não”, nomeadamente: “Concorda com a reabertura da ponte romana de Chaves ao trânsito de veículos automóveis ligeiros, num único sentido?”.

Para o presidente da Câmara de Chaves, Nuno Vaz, o processo de auscultação da população deve ser “interpretado por cidadãos ou movimentos de cidadãos, e não por partidos políticos ou a autarquia”.O autarca socialista realça que a câmara se deve manter isenta, lembrando que “a matéria em concreto suscita diversas opiniões”.