António Costa vai discursar na Assembleia Geral da ONU no próximo mês de setembro pela segunda vez desde que é primeiro-ministro, confirmou o Observador junto do gabinete do primeiro-ministro, sem divulgar, para já, o tema da intervenção. Nos últimos dois anos foi Marcelo Rebelo de Sousa quem subiu ao palco, assim como também já tinha sido Marcelo Rebelo de Sousa a fazê-lo em 2016, no ano em que António Guterres se preparava para ser eleito secretário-geral daquele organismo. Costa só discursou em Nova Iorque em 2017 e prepara-se agora para voltar, mas sem a diplomacia do costume: a intervenção vai ser feita por videoconferência, devido à pandemia da Covid-19.

Em 2016, primeiro ano em que tanto Costa como Marcelo poderiam marcar presença naquele evento, foi o Presidente da República quem subiu ao palanque. O objetivo declarado era contribuir para a eleição de António Guterres como secretário-geral da ONU, ainda que Marcelo, na sua primeira intervenção como chefe de Estado no plenário das Nações, se tenha inibido de o fazer diretamente, ao contrário de outros que apelaram diretamente à eleição do português para substituir Ban Ki-moon. Na altura, Marcelo preferiu começar e acabar a sua intervenção garantindo o “compromisso firme e permanente de Portugal para com as Nações Unidas”.

No ano seguinte, em 2017, António Costa estreou-se como orador no plenário das Nações Unidas, tendo colocado o foco na defesa do ambiente e da paz sustentável no mundo, e no combate global às alterações climáticas. Nos dois anos seguintes, Marcelo voltou a ter os seus 15 minutos de fama. Em 2018 usou o tempo disponível para se demarcar de Donald Trump, cujo discurso na véspera não tinha aplaudido, e para criticar a “falta de visão política” de quem rejeita o multilateralismo e de quem nega os pactos globais e fenómenos globais como as alterações climáticas. E em 2019 voltou a juntar-se a Guterres para pedir uma ONU mais forte perante um mundo com cada vez mais desafios globais.

Embora não haja regras escritas sobre quem deve marcar presença na reunião plenária anual das Nações Unidas, o antigo embaixador de Portugal na ONU Francisco Seixas da Costa explica ao Observador que todos os países se podem inscrever para discursar — “não há limitação” — e que cabe habitualmente ao chefe de Governo ou ao Presidente, no caso dos países cujos presidentes têm funções executivas, subir ao palco. A escolha sobre quem vai discursar resulta de um “entendimento entre os dois”, nota.

Durante os mandatos de Passos Coelho, como primeiro-ministro, e de Cavaco Silva, como Presidente da República, Cavaco só discursou no palco da ONU uma vez, em 2015, no seu último ano de mandato, e Passos também só o fez uma vez, em 2011, no seu primeiro ano como chefe do Governo. Nos anos seguintes, Passos optou por dar o palco a Rui Machete, na qualidade de ministro dos Negócios Estrangeiros (em 2013 e 2014), tendo deixado em 2012 o discurso a cargo embaixador de Portugal na ONU, José Moraes Cabral.

Este ano, que será o último ano do primeiro mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, os moldes do encontro vão ser outros devido às cautelas necessárias pela pandemia da Covid-19. Em vez dos habituais dois ou três dias passados em Nova Iorque para diplomacia e para estabelecer reuniões bilaterais, António Costa participará na Assembleia Geral, à distância, e a participação vai cingir-se sobretudo à intervenção de 15 minutos que cabe a cada país.

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