O Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, acusou esta sexta-feira, pela primeira vez, os Estados Unidos de liderarem os protestos antigovernamentais no país e a União Europeia (UE) de fazer o seu jogo.

“Os Estados Unidos planeiam e dirigem tudo e os europeus seguem o seu jogo“, disse Lukashenko ao reunir-se com trabalhadores da cooperativa agrícola Dzerzhinski.

Lukashenko denunciou a criação de um “centro especial” em Varsóvia e considerou que “não é por acaso” que os tanques avançam e os aviões voam perto das fronteiras da Bielorrússia. “Eles montaram esta confusão entre nós. E a Rússia tem medo de nos perder. O Ocidente decidiu de alguma forma atirar-nos, como vemos agora, contra a Rússia”, disse.

As potências ocidentais querem criar um “corredor Báltico-Mar Negro, um corredor sanitário composto pelas três repúblicas bálticas, nós e a Ucrânia. Somos o último elo”, garantiu o Presidente.

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Durante a campanha eleitoral, Lukashenko acusou a Rússia de apoiar candidatos da oposição e de planos para desestabilizar a situação na Bielorrússia, mas após a eclosão dos protestos pós-eleitorais no início de agosto, redirecionou os seus ataques contra países europeus, como a Polónia ou a República Checa.

No seu encontro com os trabalhadores da cooperativa, Lukashenko também prometeu resolver nos “próximos dias” a crise que eclodiu desde a sua reeleição em 09 de agosto.

“A situação no país é altamente politizada, mas não se deve pensar que seja catastrófica. Este é um problema meu e devo corrigi-lo. E nós vamos. Acreditem, nos próximos dias vamos resolvê-los”, disse.

Sobre o apelo para convocar novas eleições e diálogo com a oposição, Lukashenko insistiu que é “impossível falsificar 80% dos votos” e que pretende apenas dialogar com os trabalhadores.

O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, foi em fevereiro passado a mais alta autoridade norte-americana a visitar Minsk em um quarto de século, tendo posteriormente a Bielorrússia recebido dois carregamentos de petróleo por mar para preencher o vazio deixado pelo petróleo russo.

Embora tenha ficado em silêncio nos primeiros dias, Pompeo expressou o seu apoio às exigências da oposição bielorrussa para acabar com a repressão policial, convocar novas eleições e libertar todos os detidos.

Por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Bielorrússia, Vladimir Makei, garantiu hoje que as sanções da União Europeia contra Minsk não podem ser vistas de outra forma senão como “ações hostis”.

“E não podemos deixá-los sem resposta”, acrescentou o ministro, que pediu às potências ocidentais que respeitem a soberania bielorrussa numa conversa telefónica com seu homólogo russo, Sergei Lavrov.

As autoridades bielorrussas abriram um processo criminal contra o recentemente criado conselho coordenador da oposição para a transferência pacífica do poder, que acusam de tentar tomar o poder.

A oposição negou que pretenda reverter a ordem constitucional e insiste que a única saída da crise é convocar novas eleições, às quais Lukashenko – no poder desde 1994 – também poderá concorrer.

A oposição denuncia a eleição presidencial de 09 de agosto como fraudulenta e milhares de bielorrussos saíram às ruas por todo o país, desde então, para exigir o afastamento de Lukashenko.

Os protestos têm sido duramente reprimidos pelas forças de segurança, com quase 7.000 pessoas detidas, dezenas de feridos e pelo menos três mortos.