A redação do semanário Canal de Moçambique, localizada no centro de Maputo, ficou completamente destruída na sequência de um fogo posto por desconhecidos, na noite de domingo, disse esta segunda-feira à agência Lusa o editor da publicação, André Mulungo.

André Mulungo avançou que foram encontrados bidões no interior da redação, um dos quais ainda tinha um pouco de combustível.

Os autores do incêndio terão introduzido os bidões de combustível no interior das instalações do jornal depois de arrombarem a porta da frente da casa, declarou o editor.

“Os sinais que encontrámos no interior da redação não deixam dúvidas de que se trata de um ato criminoso e não de um acidente”, frisou.

O jornalista adiantou que o incêndio foi dominado por uma equipa de bombeiros, mas o equipamento da redação foi totalmente consumido pelas chamas.

O caso foi remetido à 6ª Esquadra da Polícia da República de Moçambique (PRM) da Cidade de Maputo, aguardando-se que as autoridades apurem as circunstâncias e os autores do fogo posto.

O editor do Canal de Moçambique assegurou que o jornal não vai parar o seu trabalho, estando os jornalistas a trabalhar para a próxima edição, que sai às quartas-feiras, no pátio do prédio onde funciona a publicação.

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“Este incêndio não nos vai parar, seria uma vitória para os que deitaram fogo na redação e uma derrota para a liberdade de imprensa. O mal nunca pode vencer”, sublinhou André Mulungo.

A redação do Canal de Moçambique localiza-se no rés-do-chão de um prédio de dois andares.

André Mulungo assinalou que o incêndio não se propagou aos outros andares do edifício.

O Canal de Moçambique é um dos principais semanários do país e tem-se destacado por trabalhar em matérias como corrupção e governação.

O jornal já foi várias vezes alvo de processos judiciais por alegada calúnia e o seu diretor-executivo, Matias Guente, foi recentemente intimado pela Procuradoria-Geral da República para responder a perguntas sobre textos publicados sobre contratos na área de segurança entre o Governo e as multinacionais petrolíferas que operam na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.

Renamo considera incêndio “um grave ferimento à democracia”

O presidente da Renamo, principal partido de oposição em Moçambique, manifestou esta segunda-feira solidariedade ao semanário Canal de Moçambique pelo incêndio, considerando que se trata de um “grave ferimento à democracia”.

A agressão que o Canal de Moçambique sofreu é um grave ferimento à democracia e ao Estado de Direito. Os autores desse crime não devem ficar impunes como sempre”, disse o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Ossufo Momade, numa mensagem divulgada na sua página da rede social Facebook.

Ossufo Momade defendeu que “as agressões contra a liberdade de imprensa devem ser repudiadas devido à inconstitucionalidade e covardia” que representam, acrescentando que não devem ser toleradas. “Esse caso não deve ser mais um que será arquivado, exigimos às autoridades competentes que levem a investigação deste assunto com a devida seriedade e celeridade”, disse Ossufo Momade.

Enviamos a nossa mais sincera solidariedade ao seminário Canal de Moçambique e ao diário CanalMoz pelo sucedido.A…

Posted by Ossufo Momade on Monday, August 24, 2020

Também a Nova Democracia (ND), um partido sem assento no parlamento, considerou que o incêndio na redação do Canal de Moçambique é “uma tentativa de intimidação e bloqueio”.

“Estas práticas macabras representam a corrosão da liberdade e integridade física dos que opinam diferente”, refere um comunicado do partido enviado esta segunda-feira à comunicação social.

A Nova Democracia manifestou também apoio e solidariedade ao Canal de Moçambique, lembrando alguns casos de ameaças a ativistas e jornalistas no país. “A nossa posição de indignação estende-se aos jornalistas e ativistas precursores da liberdade que em todo o país têm sofrido sevícias e agressões no exercício do seu dever e direito de informar e consciencializar”, acrescenta o comunicado da Nova Democracia.

Notícia atualizada às 15h48 com as declarações da Renamo e da Nova Democracia.