Um pescador da Póvoa de Varzim está retido há mais de 20 dias num barco ancorado no porto de Paita, o segundo maior do Peru. Por causa da pandemia, a embarcação não pode atracar: Manuel Silva e outros 17 ocupantes estão a ficar sem comida e combustível. Governo português garante que está a acompanhar o caso.

O pescador fez um vídeo esta segunda-feira que foi partilhado por um dos seus filhos no Instagram onde relata a sua situação. O pescador explica que o barco onde é capitão está “a 100 metros de terra”, mas não podem pisar o território peruano nem para ir buscar comida. “Chamamos as autoridades peruanas e vocês não imaginam o que se tem de fazer porque tem de se chamar os armadores, os armadores têm de chamar a embaixada, a embaixada chama este e chama aquele”, conta Manuel Silva.

Manuel Silva diz que já chegou há uma semana, mas o capitão que esteve antes dele ficou nesta situação durante dois meses. Além dele, estão no barco outras 17 pessoas de nacionalidades diferentes — o capitão é o único português e europeu. “Felizmente temos comer para hoje. Temos gasóleo para o barco trabalhar”, diz explicando depois que a cozinha no barco só funciona com os motores do barco e que por isso precisam de combustível para a usar.

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Só temos gasóleo até amanhã [terça-feira], ou seja, vamos ficar sem luz, sem cozinha”, relata.

Já no final do vídeo, o português contou que ia comer o último frango dos cinco que receberam para 18 pessoas. “Há três dias mandaram-lhes três frangos para dezoito pessoas — o que é desumano. Os patrões e as autoridades nada fazem”, relatou o filho do pescador, João Silva, ao JN, lamentando:

Para falar connosco tenho que carregar um telemóvel de um indonésio, que está com ele, e só assim conseguimos falar. Acabando o gasóleo hoje , ele nem eletricidade vai ter para carregar  o telemóvel. Se isso acontecer, não vamos ter notícias dele.”

Manuel Silva termina dizendo que não quer que “tenham pena” dele, mas pede que “tentem divulgar e mostrar a toda a gente o que é que se está a passar”. “Quero salvaguardar a minha saúde e a saúde das pessoas que tenho aqui neste momento”, diz, acrescentando que a tem uma neta que vai nascer dentro de duas semanas e queria estar em Portugal nessa altura.

Ao Jornal de Notícias, o Ministério dos Negócios Estrangeiros disse que foi informado esta segunda-feira da situação e que a Embaixada de Portugal em Lima já contactou diretamente o pescador português para se inteirar da sua situação e das necessidades de apoio. Foi também estabelecido “contacto com as autoridades peruanas para agilizar o apoio ao cidadão nacional, continuando a acompanhar de perto a sua situação”.