Os James Beard Awards, o prémio de maior prestígio do setor da restauração nos EUA, foi cancelado por causa do impacto devastador que a Covid-19 teve na sociedade norte-americana, justificou a fundação, mas novas informações avançadas pelo The New York Times dizem que o cancelamento deveu-se sim à constatação de que não havia nenhum vencedor negro nas várias categorias distinguidas e isso, diz o jornal que cita informações nos bastidores do galardão, levaram ao não anunciar dos vencedores deste ano e ao cancelamento, também, dos prémios do ano que vem.

A Eater, publicação internacional de renome dedicada à gastronomia, já tinha relatado que vários nomeados para os prémios tinham decidido retirar-se do concurso alegando “motivos pessoais”, nas palavras da fundação. Mais tarde soube-se que muitos casos destes casos se deveram a acusações como servir comida fora do prazo, “roubar” receitas a cozinheiro desconhecidos de segunda linha ou a manter cozinhas ilegais escondidas das autoridades de saúde. Sabe-se agora também que dentro deste leque de comportamentos inaceitáveis está a crescente mobilização do pessoal de cozinha com menos visibilidade que tem falado de graves casos de racismo e discriminação.

Instigados pela luta anti-discriminação galvanizada pela morte de George Floyd , diz o New York Times, as personagens menos “visíveis” do setor da restauração chegaram-se à frente — de forma anónima e não só, principalmente através de redes sociais como o Instagram ou o Twitter — para denunciar práticas racistas, tratamento desigual, bullying e até alegações de assédio sexual, tudo comportamentos que durante décadas foram sendo varridos para debaixo do tapete sob a alegação de que a cultura das cozinhas era assim mesmo.

O mesmo NYT diz que a James Beard Foundation viu-se assoberbada pela quantidade de denúncias, teve muita dificuldade em acompanhá-las e mais dificuldade ainda em perceber como poderia reagir perante o facto de muitos chefs nomeados serem alguns dos alvos destas denuncias. Apesar de muitos cozinheiro terem desistido voluntariamente, outros foram supostamente convidados a desistir pela fundação à conta deste tipo de alegações.

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Outro fator que contribuiu para a decisão de cancelar a atribuição de prémios foi a falta de vencedores negros nas 23 categorias dos James Beard Awards. Esta associação há muito que é criticada por elevar e recompensar apenas nomes maioritariamente de homens brancos. Este ano havia uma mão cheia de nomeados negros mas, mesmo assim, nenhum deles iria sair vencedor das votações.

Ainda terão sido consideradas opções como a remoção de vencedores anteriores do corpo de votantes, como forma de eliminar eventuais tendências mais conservadoras, mas isso acabou por ser descartado por significar que seria necessário remover votos que já tinham sido contados, uma medida que consideravam ser potencialmente duvidosa. Outra possível solução seria recomeçar as votações do zero incluindo apenas cozinheiros que não tivessem sido visados por algum tipo de acusação. Acontece que as queixas continuaram a surgir em catadupa e, de acordo com o Times, os membros do comité de restaurantes ficou preocupado com a falta de transparência, padrões ou maneiras de lidar com a remoção de nomeados.

A fundação levará o próximo ano para reformular os seus prémios e estabelecer novas regras para a sua atribuição, tudo com o objetivo de anular eventuais tendências de votação enviesadas e tornar mais diversificadas as listas de nomeados.