O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) diz que o trabalho da Ryanair está a decorrer como se não houvesse pandemia de Covid-19, e sem álcool gel a bordo, mas a companhia contesta.

Foi dito à empresa que deveríamos ter álcool gel no avião. O tripulante deveria ter álcool gel no escritório e não tem. A empresa responde que existe água e sabão no avião”, disse Diogo Dias, vogal do SNPVAC, à Lusa.

Relativamente às máscaras de proteção facial, Diogo Dias afirmou que no início foram “dadas três máscaras, entregues num envelope de papel, sem qualquer ficha técnica”, o que não permite aos trabalhadores saber “se são seguras ou não”.

“O que nos foi dito é que têm de ser lavadas ao final de cada dia. Os tripulantes chegam a estar quase 12 horas no avião, em trabalho, têm que andar durante esse tempo todo com essas máscaras, podem trocar com duas, mas depois já não têm para o dia a seguir”, denunciou o sindicalista. De acordo com o responsável do SNPVAC, perante este cenário, “os tripulantes compram as máscaras cirúrgicas e andam com elas”.

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Relativamente ao serviço prestado a bordo, Diogo Dias disse que “as últimas indicações das chefias” vão no sentido de fazer “um fluxo de trabalho completamente normal, como era feito no pré-Covid”. Os serviços incluem venda de raspadinhas, perfumes, gadgets, que englobam várias passagens ao longo do comprimento do avião, disse o responsável do SNPVAC.

De cada vez que um passageiro faz um pagamento com um cartão — neste momento estamos a trabalhar sem dinheiro — tem de pegar na máquina, tem que carregar nos botões. E nós não temos nada para limpar essa máquina que dê para passar para o passageiro seguinte, para proteger os trabalhadores e os próprios passageiros”, declarou Diogo Dias.

Segundo o responsável sindical, “a máquina pode passar pela mão de 100 pessoas, numa viagem, sem ser uma única vez limpa”, não existindo “instruções para limpar e como fazê-lo”.

Diogo Dias deu ainda o exemplo de voos de e para o Reino Unido, onde tipicamente “as pessoas consomem álcool”, pelo que “não podem estar de máscara” enquanto o fazem e “vão muitas vezes à casa de banho”.

Num voo de duas horas e meia, passando uma hora a consumir álcool, estão 20 passageiros de pé e não há controlo nenhum sobre esses passageiros”, não existindo “controlo nenhum, porque se o passageiro está a beber, se é permitido beber, também é permitido ir à casa de banho, tem de ser”, explanou.

Perante este cenário, o SNPVAC está a ponderar fazer uma queixa à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), disse o responsável à Lusa.

“O trabalhador está a trabalhar com medo e a fazer as coisas sob pressão e sem condições. Não só está obrigado a fazer o serviço como se nada fosse, pré-Covid, como não tem condições necessárias para fazer esses serviços”, concluiu Diogo Dias.

Questionada pela Lusa acerca das acusasões do sindicato, a Ryanair garantiu que “implementou medidas preventivas extensas e robustas para a Covid-19”, incluindo “a adesão rigorosa às máscaras, boa higiene de mãos” e “etiqueta respiratória”.

Em linha com as orientações da EASA/ECDC [Agência de Segurança na Aviação da União Europeia / Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças] estamos a promover ativamente a lavagem de mãos meticulosa com água e sabão e estamos a levar abastecimentos adicionais de sabão nos nossos aviões”, disse a Ryanair à Lusa.

A empresa diz que reviu “o serviço a bordo para remover as revistas de bordo e o ‘duty-free’ [produtos sem impostos]”, oferece “apenas itens pré empacotados e uma possibilidade de pré-encomendas”, e “aceita apenas pagamentos por cartão (sem dinheiro físico)”.

A empresa acusa ainda o SNPVAC de estar mais interessado em falar à imprensa do que “em negociações com a Ryanair para proteger os empregos durante a pior crise que a indústria da aviação alguma vez enfrentou”, considerando as afirmações do sindicato de “típicas” face ao que se passa nas negociações entre as partes.

“A Ryanair está comprometida com o maior nível de segurança para os nossos passageiros e tripulação em todos os momentos. As nossas medidas de “Voar com Saúde” são procedimentos robustos e têm em conta as recomendações operacionais da EASA e do ECDC”, conclui a resposta da Ryanair à Lusa.