Van de Beek, um dos desejos de Ronald Koeman para o novo Barcelona, está a caminho do Manchester United. E Memphis Depay, outros dos jogadores referenciados pelo técnico, também não se colocou muito a jeito para deixar o Lyon. Se nas saídas existem boas notícias entre os maus negócios, como a venda de Ivan Rakitic ao Sevilha por 1,5 milhões mais nove em variáveis ou a mais do que provável saída por pouco ou nada de Arturo Vidal e Luis Suárez, nas entradas os blaugrana estão a sentir mais dificuldades do que esperavam até porque, ao contrário do que era normal, têm de olhar não só ao que investem nos passes mas também aos ordenados para irem baixando a massa salarial. Pelo meio, uma frase de outro internacional holandês acabou por marcar o último dia: “O Leo ainda está no chat do WhatsApp da equipa”. Um WhatsApp onde Josep Maria Bartomeu continua sem ver aqueles dois pequenos traços a azul que dariam o sinal de que argentino tinha pelo menos lido as suas mensagens.

“Peço a Messi de joelhos que fique. Se não ficar, que não perdoem nem um euro”: o pedido do ex-líder do Barcelona que perdeu Figo

As posições de jogador e clube podem ter sofrido algumas mutações, evoluções ou transições. Tudo espremido, já estão no limite. E por mais ou menos posições de força que tomem em off através de alguns jornais, não existe mais para dizer. Messi pode não estar 100% seguro dos argumentos que utiliza para furar a data limite de 10 de junho da cláusula 24 do seu contrato para sair a custo zero mas não apareceu nos exames médicos e nos treinos. O que lhe pode acontecer? Ser multado, sofrer sanções, no limite ser suspenso ou despedido. O que ganha o Barcelona com isso? Pouco ou nada. Já os catalães podem ter ficado mais resguardados com a posição oficial da Liga em relação ao caso e mantêm para fora que ou renova ou pede a cláusula. O que tiram disso? No máximo, prender o jogador onde não quer ficar por mais uma época sabendo que daqui a seis meses sai mesmo livre.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

É aqui que entra Jorge Messi, pai e representante do capitão dos blaugrana. Depois de um longo rol de notícias em torno do pedido de rescisão, deixou a Argentina na terça-feira para chegar à Catalunha esta manhã. É ele que se vai sentar num dos lados da reunião mais aguardada do ano. Do outro, como não poderia deixar de ser, encontra-se o presidente do Barcelona, Josep Maria Bartomeu. Aquele que durante dois anos não conseguiu fechar a renovação do jogador. Aquele que, por mais que se trate de més que un club, também joga o seu futuro. Aquele que, ao não receber qualquer resposta do filho, começou a tentar desbravar terreno ao telefone com o pai. “Não sei de nada, não sei de nada”, atirou esta manhã à chegada aos muitos jornalistas presentes no aeroporto.

Che Messi, #FreeMessi, WhatsApp com Messi: El Comandante faz rebelião contra cláusula 24, há guerras paralelas mas Liga está com o Barça

Mais uma vez, a Junta Diretiva dos catalães tem tudo menos uma posição unânime. Uns consideram que o clube não pode tomar outra medida que não seja forçar o jogador a pagar a cláusula, à semelhança do que aconteceu com Neymar. Outros pensam que, no atual contexto, o melhor é ganhar algum dinheiro com o passe do argentino, além de abater 100 milhões de euros na folha salarial (o encargo total com o número 10 por temporada). Bartomeu concorda com os dois lados e poderá ser Jorge Messi a ajudá-lo a decidir. O Inter terá saído da corrida mas o Manchester City só espera “o” sinal para avançar – oferecendo ao esquerdino mais do que ganha hoje, tendo ainda a hipótese de acabar a carreira na MLS pelos New York City – e o PSG continua atento à novela.

Messi vai faltar aos testes à Covid-19 no Barcelona. A que sanções se arrisca?

“É importante o quanto antes que o Barcelona assuma que vai perder Messi para poder centrar-se na reconstrução de uma equipa e de um projeto. Dizem que com a Argentina também teve uma despedida e depois voltou mas são situações completamente distintas porque não há um contrato pelo meio nem nada parecido. O Messi pode ir para outro clube ou pode ir para casa mas já se foi de Barcelona”, comentou Jorge Valdano, um dos comentadores mais reputados em Espanha depois de ter sido campeão mundial como jogador e espanhol como técnico, ao El Transistor da Onda Cero. Pode considerar-se que o seis vezes melhor do mundo tem ou não razão para pedir a saída a custo zero do clube onde jogou 20 anos mas ninguém coloca em causa que já “saiu”.

Mas quem é o homem, descrito como alguém discreto, que não gosta de dar entrevistas mas que está sempre ao lado do jogador, que pode ajudar numa das transferências do século (e antes já tivemos as duas de Ronaldo ou a de Neymar)? Aos 62 anos, como explicam as publicações argentinas, Jorge Horácio Messi, de 62 anos, é mais do que o pai de Lionel Messi – é a extensão de Lionel Messi. Ou, como surge descrito de forma mais resumida, um empresário que se tornou o CEO de um império chamado Messi Futebol Clube com um lado lunar que veio afetar também o próprio filho, como aconteceu nos recentes casos de Justiça (um ainda a decorrer nesta fase). É ele que gere os negócios do número 10, que trata de tudo o que não tenha a ver com futebol, que controla as aparições na imprensa e que, fazendo disso a sua “profissão”, foi conseguindo ganhar influência em vários setores.

Camp Nou a ferro e fogo: a imagem da carta da rescisão e as “letras pequenas” do contrato que abrem guerra Barça-Messi

Filho de um casal de emigrantes apaixonados por futebol, Jorge teve sempre uma vida modesta, passada quase toda no bairro de Las Heras, em Rosário, onde conheceu aquela que seria a sua mulher, Celia Cuccittini (também ela com família italiana, tal como Jorge que tinha ainda raízes espanholas). Casou em 1978, quando era chefe de secção numa fábrica de siderurgia e a mulher estava numa oficina de bobinas magnéticas fazendo ainda alguns trabalhos de limpeza de casas. Lionel Messi foi o terceiro filho do casal, depois de Rodrigo e Matías e antes de María Sol. Foi também o primeiro treinador do craque do Barcelona no Grandoli, a partir dos quatro anos, sendo que a maior influência para Leo ter ido para o futebol veio da avó materna, que ainda hoje recorda nos golos.

Dali saltou para o Newell’s Old Boys, o clube do pai. Messi, o júnior, ganhou a alcunha de “Máquina de ’87” pelos quase 500 golos que marcou em seis anos nas camadas mais jovens. Aos dez anos, Jorge enfrentou uma decisão complicada quando soube que o seu seguro de saúde era limitado e que o filho sofria de problemas hormonais de crescimento. O Newell’s comprometeu-se a ajudar a pagar os tratamentos na ordem dos mil dólares por mês mas depois deixou cair a ideia, o River Plate também teve essa oportunidade e não quis também pelo contexto de total colapso que a Argentina vivia no plano financeiro. A tentativa seguinte foi na Catalunha, onde Jorge tinha alguns familiares a viverem. Apenas através de algumas imagens, assinou num guardanapo de um restaurante e duas décadas depois o que sobra é história sem vestígios desse problema que lhe chegou a ameaçar a carreira.

PSG e Juventus juntam-se às conversas do “Mexit” mas Barcelona não quer falar – reunião só para renovar ou pagar 700 milhões

Hoje, entre Barcelona e contratos publicitários, Lionel Messi é uma máquina que fatura 85 milhões de euros em cada ano entre salário, prémios e campanhas, tendo uma fortuna avaliada pela Forbes em 400 milhões de dólares. Tudo o que faz em campo é talento e trabalho do próprio, muito do que faz fora de campo é trabalho com o seu quê de talento do pai, com quem tem uma relação muito próxima. Esse trabalho aumentou a esfera de influência extra mundo Messi, sobretudo a nível de Associação de Futebol da Argentina, onde não escolhe treinadores nem sugere táticas mas tem peso em decisões como o cancelamento do particular que estava marcado com Israel e que tinha sido numa primeira instância negociado por um empresário seu amigo (até ganhar conotações políticas).

No entanto, foi também Jorge que colocou o filho em alguns problemas com a Justiça, nomeadamente com o Fisco espanhol que obrigou a que ambos pagassem uma multa acumulada de mais de 3,5 milhões por fraude fiscal e para não terem de cumprir pena efetiva. E pode não ficar por aí porque ainda decorre um outro processo onde o jogador e o pai, neste caso apontado pela acusação como “cabecilha” de um esquema de branqueamento de capitais através da Fundação Messi (que é presidida pelo irmão mais velho mas gerida pelo progenitor) e de uma construtora para projetos privados ligados ao jogador. O staff do argentino continua a defender que todas as contas são transparentes, que não tem nada a esconder e que se trata sobretudo de uma “campanha mediática” para tentar atingir o jogador mas o processo avançou mesmo para julgamento, que decorre este ano.