“Away — A Viagem”

O lituano Gints Zilbalodis demorou quatro anos a completar esta animação onde fez praticamente tudo, da realização à montagem e à banda sonora, e onde não se ouve uma palavra que seja.  Um rapaz cai de paraquedas numa misteriosa ilha, onde encontra uma moto e um mapa à sua espera, adota um passarinho e é perseguido por uma enorme e estranha criatura negra, que mata todos os animais à sua passagem. Visualmente tão bonito quanto requintado, “Away — A Viagem” não tem uma história propriamente dita, parecendo mais um ensaio animado do que outra coisa, feito para degustar sensorialmente e não tanto para perceber, com um final em ponto de interrogação. Que pode significar que Zibalodis já não sabia o que mais fazer com a fita, ou que haverá uma continuação.

“Radioactivo”

Marjane Satrapi, a autora de “Persépolis”, assina este banal, penoso e didático filme biográfico sobre a duplamente nobelizada cientista Marie Curie, onde quase tudo soa falso, a começar na Paris que é na verdade Budapeste, até à interpretação hirta e tesa de Rosamund Pike no papel principal. Qualquer entrada minimamente bem escrita numa enciclopédia de referência, ou qualquer documentário razoavelmente informado acessível no YouTube, sobre Marie Curie e o seu trabalho, com e sem o marido Pierre, é preferível a sofrer esta pastelada que  não falha um só lugar-comum do respetivo formato. Satrapi nem sequer nos poupa a despropositadas e “instrutivas” recriações do lançamento da bomba atómica sobre Hiroshima, e do desastre na central de Chernobyl.

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“Os Inúteis”

Neste muito autobiográfico “Os Inúteis” (1953), que repõe hoje em cópia restaurada, incluído no ciclo Essencial Fellini, que assinala os 100 anos do nascimento do autor de “A Estrada”, Fellini tem um pé no neo-realismo, embora fosse sair rapidamente deste movimento, após “O Conto do Vigário” (1955), e outro na comédia italiana, como no anterior, “O Sheik Branco”, um fracasso comercial e de crítica. Ao contrário deste, que conheceu o sucesso, ganhou o Leão de Prata no Festival de Veneza e foi nomeado ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Cinco amigos de uma cidade costeira de Itália, vivem numa rotina vazia e parva de cafés, farras, deambulações e mulheres, recusando compromissos e responsabilidades. “Os Inúteis” foi escolhido pelo Observador como filme da semana e pode ler a crítica aqui.