19h04. A voz de Jerónimo de Sousa ecoa no recinto da Festa do Avante. Nas 2.000 cadeiras em frente ao Palco 25 de Abril — aquele que tem maior número de lugares sentados — há dezenas de militantes e amigos da Festa sentados, que aguardavam há alguns minutos a mensagem de abertura do secretário-geral do PCP. Num formato diferente do habitual, Jerónimo passou rapidamente dos agradecimentos aos militantes, que ajudaram a montar a Festa do Avante segundo as regras da Direção-geral da Saúde, às fortes críticas à direita, ao “arsenal mediático” que utilizaram e às autoridades de saúde.

Deixando críticas diretamente à DGS — que fez recomendações “além das normas exigidas em qualquer espaço comercial, praia, atividade religiosa ou de rua e outras iniciativas” — Jerónimo frisou uma vez mais a importância de realizar a Festa: é uma hipótese para fazer “ressurgir também aqui o pulsar e o fruir da vida nas suas diversas dimensões”.

Mas as críticas mais fortes haviam de estar guardadas para a direita. Jerónimo recordou as “figuras destacadas da direita, ex-governantes bem conhecidos” que, afirma, parecem ter tido “um rebate de consciência pelo mal que fizeram ao direito à saúde dos portugueses e ao Serviço Nacional de Saúde”.

O secretário-geral responsabilizou a direita pela “desvalorização serviços, encerramento de milhares de camas, a redução do número de profissionais, que castigaram também nos seus salários, nos seus horários, nas suas carreiras”, criticando a “hipocrisia” dos críticos na invocação de “razões sanitárias” para impedir a Festa do Avante.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Usemos a máscara de acordo com o recomendado. Mas não deixemos que nos tapem os olhos em relação à necessidade de continuar a estar e a lutar onde sempre estivemos”, apelou Jerónimo de Sousa à medida que os militantes e simpatizantes da Festa se concentravam junto às instalações sonoras do recinto.

E antes que se pudesse ouvir a Internacional ecoar nos altifalantes, Jerónimo denunciou uma perseguição ao partido: “Querem-nos quietos, confinados, calados e com temor, porque sabem o que aí vem. Querem que abdiquemos do que a vida tem de mais belo e realizador, libertos dos nossos medos, reencontrar o convívio e as amizades, a cultura”.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Mas o PCP não permite que lhe toldem as vistas e Jerónimo faz questão de o recordar: é preciso estar onde “sempre estiveram”. “Com os trabalhadores, com o povo português, sejam quais forem as circunstâncias, luta inseparável do exercício dos direitos, liberdades e garantias constitucionais”, é assim que o PCP quer responder aos que “estão conscientes do agravamento da situação económica e social em que setores do capital se vão aproveitar para despedir, cortar salários e direitos, aumentar as injustiças e desigualdades e ficar com a parte de leão dos apoios financeiros”.

Jerónimo de Sousa acusou ainda esses “outros” de quererem impedir a mobilização e luta dos trabalhadores e que “o PCP seja voz e força de combatente”, recordando que as preocupações dos últimos anos — quando davam o PCP como quase inexistente e um Avante pouco concorrido — deram rapidamente lugar a muita preocupação com o tópico da lotação no recinto. A redução do número de militantes e simpatizantes da festa é visível através das ruas quase vazias nos acessos aos locais de espetáculo, ainda que este ano a comparação seja duplamente limitada: O PCP aumentou o recinto e a DGS impôs limites ao número de pessoas em simultâneo.