O cérebro usa um processo semelhante ao dos sistemas de reconhecimento digital de faces utilizados pelas plataformas Facebook e Google, concluiu um estudo internacional conduzido por investigadores da Universidade de Coimbra (UC), que foi esta sexta-feira divulgado.

Segundo a UC, este estudo foi realizado “com um indivíduo que sofre de uma lesão cerebral extremamente rara” – que o leva a ver caras a “derreter” -, o que permitiu aumentar o conhecimento sobre como o cérebro processa e reconhece as faces.

Conduzido por investigadores da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UC, em colaboração com o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e as instituições americanas Dartmouth College e Massachusetts Institute of Technology, o estudo centrou-se num homem destro de 59 anos, que apresenta uma condição neurológica designada hemi-prosopometamorfopsia. De acordo com a UC, são conhecidos apenas 25 casos em todo o mundo. “Caracteriza-se geralmente pela perceção de uma distorção nos olhos, nariz e/ou boca apenas num dos lados da face. Estas partes da face parecem estar a descair, quase como se estivessem a derreter. Nada mais além de imagens de faces causa estas distorções”, explica o investigador principal do estudo e diretor do Proaction Lab da UC, Jorge Almeida.

A conclusão retirada das várias experiências com este paciente de que, para ver e reconhecer faces, o cérebro usa um processo semelhante ao Facebook e ao Google, demonstra, “pela primeira vez, a existência de uma etapa no processamento de faces em que estas são rodadas e redimensionadas para corresponder a um padrão”. “No processo de reconhecermos uma face que estamos a ver, comparamos esta face com as que temos na nossa memória. Assim, todas as vezes que vemos uma face, o nosso cérebro cria uma representação dessa face e alinha-a com um modelo que temos em memória“, esclarece o investigador.

O estudo mostrou também que “estas representações de faces estão presentes nos dois hemisférios do cérebro e que as representações das metades direita e esquerda das faces são dissociáveis”.

Segundo Jorge Almeida, a investigação “veio não só aumentar o conhecimento sobre o funcionamento do cérebro”, como também “apoiar com evidência científica uma das metodologias de reconhecimento facial mais usadas atualmente”.

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