O iate de Aga Khan Shah Karim Al-Husseini, o líder da comunidade muçulmana ismaelita a quem o nosso país atribuiu em 2019 cidadania portuguesa e estatuto diplomático, está de visita a Portugal, em Portimão, sendo um dos iates privados mais impressionantes entre os que já visitaram portos nacionais, na medida em que lhe é atribuído um valor de 223 milhões de euros.

Apesar da elegância das linhas, o Alamshar, assim denominado em honra a um antigo cavalo de corrida do príncipe, foi construído em Inglaterra, nos estaleiros de Devenport com o objectivo de bater o recorde da travessia do Atlântico, ambição suportada pelo facto de lhe atribuírem 39.000 cv de potência.

Todos os superlativos são poucos para caracterizar o iate de Aga Khan, um monstro com 50 metros de comprimento (164 pés) que, ainda assim, não figura entre os 100 maiores do mundo, uma vez que o primeiro do ranking é o Azzam, com 180 metros, com o 50º (o Musashi) a exibir 87,78 m e o 100º (o Samar) 76,88 m. Por comparação, o iate que Cristiano Ronaldo adquiriu este ano tem apenas 27 metros. Apesar de luxuoso e habitável, o Alamshar foi concebido com preocupações em reduzir o peso, à custa de materiais compósitos, para o tornar mais veloz.

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Mas o que diferencia este iate da maioria é a sua motorização, uma vez que, em vez dos habituais motores diesel, eventualmente reforçados pela presença de uma turbina a gás para incrementar a potência, Aga Khan optou por montar três turbinas a gás com 10.000 cv cada, a que se juntam mais três turbinas mais pequenas para as manobras no porto, com 3.000 cv cada. No total, são 39.000 cv. E se as turbinas são excelentes para poupar espaço (fornecem 5000 cv no mesmo volume de um diesel de 500 cv), ruído e vibrações, além de fornecerem muito mais potência, são igualmente conhecidas por devorarem combustível e poluírem imenso quando utilizadas a médio e a alto regime. São ainda mais caras e mais dispendiosas de operar, devido ao combustível, mas isso não é um problema para um homem cuja fortuna está avaliada entre 800 e 3000 milhões de dólares, de acordo com a origem do ranking.

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Paixão por iates potentes e… poluentes

O projecto para o Alamshar nasceu em 1990 e foi acompanhado por algum secretismo. Contudo, sempre se soube que o príncipe encomendou um iate de luxo, que fosse capaz de bater o recorde da travessia Nova Iorque – Londres, que neste momento está fixado em dois dias, 10 horas e 34 minutos, a uma média de 53 nós (53 milhas marítimas/hora), cerca de 98,2 km/h. O objectivo seria fácil de alcançar, dado que o Alamshar, com pavilhão das ilhas Caimão, foi concebido para atingir um máximo de 70 nós, o que lhe permitiria reclamar o recorde do Atlântico. Mas depois de muitos atrasos e problemas, quando finalmente o barco foi lançado à água, o máximo que conseguiu foi 45 nós, ao que transparece na imprensa internacional, o que não só se revelou um enorme dissabor, como um amargo de boca para o Imã ismaelita.

Há muito que Aga Khan possui uma paixão pela indústria náutica. O recorde que tentava bater, na realidade, já é parcialmente seu desde 1992, pois foi conquistado e continua a pertencer ao Destriero, um iate de 67 metros em alumínio de que Aga Khan foi o principal patrocinador, estando presente no porto à chegada, para felicitar a equipa.

O Destriero é maior e mais pesado do que o Alamshar, pelo que se compreende que, apesar de recorrer igualmente a três turbinas a gás para alimentar os hidrojets que asseguram a propulsão da embarcação, possua um total de 52.000 cv. A navegar depressa, este iate é capaz de queimar 10 toneladas de gás por hora, segundo a Boat International, o que nesta travessia de 3000 milhas náuticas entre Nova Iorque e Londres equivale a 580 toneladas. Impressionante, uma vez que um Boeing 747 não necessita mais do que 70 toneladas de combustível. O Alamshar, ao recorrer ao mesmo tipo de turbinas do Destriero, apesar de possuir menos 25% de potência, deverá ficar acima das 5 toneladas de combustível por hora a navegar à velocidade máxima.

São conhecidas as preocupações ambientais de Aga Khan, que promove a plantação de árvores em África e a preservação da biodiversidade na Ásia, entre outros projectos, pelo que surpreende o facto de ter optado por este tipo de motorização para o seu iate. Isto porque ao elevado consumo correspondem emissões poluentes e de CO2, o que é tão nefasto para a carteira quanto para o ambiente. Talvez por isso o Alamshar tenha navegado de Gibraltar para Portimão a uma média de 17,7 nós, de acordo com o Marine Traffic.