A maioria dos milhares de protestos anti-racismo e anti-violência policial que eclodiram este verão nos Estados Unidos da América foram pacíficos, e não provocaram nem feridos nem danos materiais. É essa a conclusão de um novo relatório que acompanha a violência policial nos EUA, e que contraria a tese do partido republicano e de Donald Trump, que tem chamado a atenção para a violência e a desordem dos protestos.

O relatório, citado pelo jornal britânico The Guardian, que pode ser consultado aqui, indica que 93% desses protestos que decorreram ao longo do verão foram pacíficos e que o Governo norte-americano tem usado “uma abordagem de mão-pesada” face às manifestações, com as autoridades a usarem a força “mais vezes” do que seria preciso.

Intitulado “Manifestações e violência política na América: Novos dados para o verão 2020”, o relatório sugere ainda que tem havido uma tendência “preocupante” de violência e intimidação armada por parte de atores individuais, incluindo ataques com carros contra manifestantes em todo o país.

O estudo foi realizado no âmbito de uma organização que se tem dedicado a acompanhar a violência política e a agitação em todo o mundo, intitulada “Armed Conflict Location and Data project (Acled)”, em parceria com a iniciativa Bridging Divides da Universidade de Princeton. De acordo com o Guardian, esta organização tem sido vista como uma fonte de informação credível para contabilizar o número de mortos em conflitos como o do Iémen, ou as mortes de civis por parte de vários governos no continente africano, ou ainda para o estudo da violência política contra as mulheres em todo o mundo.

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Este ano, a Acled lançou um projeto de monitorização da crise nos Estados Unidos, motivada maioritariamente pelos protestos anti-racismo e pelos confrontos com a polícia nomeadamente no período que se seguiu à morte de George Floys, em maio, e que antecede as eleições de novembro. Certo é que os primeiros resultados deste estudo parecem contradizer a narrativa de Donald Trump de que os manifestantes são “terroristas domésticos” da “esquerda radical” que têm promovido a “violência”.

Segundo o diretor do Acled, Roudabeh Kishi, em declarações ao Guardian, “tem havido manifestações violentas, e essas tendem a ter uma grande projeção mediática. Mas se olharmos para a generalidade das manifestações que têm acontecido, são geralmente pacíficas”.

De maio até ao final de agosto, a investigação do Acled e da Universidade de Princeton, documentou um total de 7.750 manifestações relacionadas com o movimento “Black Lives Matter” em mais de 2 mil locais diferentes dos EUA, assim como mais de mil manifestações relacionadas com as medidas restritivas da Covid-19.

Segundo os dados divulgados, as autoridades governamentais agiram mais vezes em manifestações relacionadas com o racismo, e foi nessas que mais vezes usaram a força, com uso de gás lacrimogéneo, balas de borracha ou bastões para travar manifestantes. Foram documentados 392 incidentes desse género, mas, segundo o relatório, o uso dessa força por parte da polícia não quer dizer que o protesto tenha sido violento.

No caso de Portland, por exemplo, um dos mais mediatizados, o relatório concluiu que a intervenção das autoridades “apenas agravou o protesto”. Só foram encontrados indivíduos armados em apenas 50 manifestações do total de 7.750 analisadas.