“Os estreantes estiveram muito bem. O Ferran apareceu a um nível muito bem, o Merino mostrou cada vez mais e o Óscar deixou-me entusiasmado. Agora, o Fati mostrou aquilo que todos sabemos, que ele é especial e diferente…”. No final do empate com a Alemanha conseguido nos descontos com um golo de Gayà, Luis Enrique, selecionador espanhol que marcou nesse encontro o regresso ao comando da Roja, deixou uma palavra diferente para as caras novas da equipa mas destacou o mais novo entre todos os recentes internacionais. Com menos de 18 anos, o miúdo que um dia jogou nas escolinhas do Louletano sem nunca chegar a ser inscrito por se ter entretanto mudado com a família, e que esteve perto de se mudar para o Sporting, brilhou no Barcelona e brilha agora por Espanha. Brilha e bate recordes, num e noutro. E esta noite conseguiu superar um registo que tinha quase 100 anos.

“Disfruta do Camp Nou, pequeno”. Ansu Fati tem 16 anos, nasceu na Guiné-Bissau e é o mais novo a jogar pelo Barcelona desde 1940

Titular pela primeira vez, o jovem avançado demorou menos de três minutos para arrancar a primeira jogada de génio que só terminou com uma grande penalidade: fintou Tymchyk colocando a bola entre as pernas do lateral da Ucrânia, avançou de forma ziguezagueante para a área sempre com posse controlada e acabou por ser derrubado numa finta de calcanhar que deixou Kryvtsov colado ao relvado sem perceber ao certo o que se estava a passar. Na conversão, Sergio Ramos não perdoou, no início de uma noite que seria histórica também para o capitão do Real Madrid e da seleção que jogava “em casa”, no Estádio Alfredo Di Stéfano em Valdebebas (3′).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ainda antes da meia hora inicial, o central bisou na sequência de uma bola parada com assistência de Dani Olmo (29′). Além do 2-0 que quase acabou de vez com a pouca resistência da Ucrânia, Sergio Ramos tornou-se com este 23.º golo pela Espanha o defesa mais goleador de sempre por uma seleção campeã do mundo, superando Passarella (embora tenha mais do dobro dos jogos realizados, acrescente-se). Em paralelo, o jogador subiu ainda ao oitavo lugar da lista dos melhores marcadores de sempre da Roja, superando Júlio Salinas, igualando Di Stéfano e ficando apenas atrás de David Villa, Raúl, Fernando Torres, David Silva, Fernando Hierro (que jogou muito encontros como central mas era um médio de raiz), Fernando Morientes e Emilio Butrageño.

No entanto, esta seria mesmo a noite de Ansu Fati, que numa jogada individual ainda antes do intervalo puxou a bola da esquerda para o centro, rematou de meia distância e bateu um recorde com 95 anos, tornando-se o mais novo de sempre a marcar pela Espanha aos 17 anos e 311 dias, superando registo que pertencia a Errazquin, que em 1925 estreou-se a marcar com 18 anos. Ao mesmo tempo, o jogador formado no Barcelona tornou-se o mais novo a marcar entre seleções europeias que foram campeãs do mundo, à frente de Wayne Rooney… por seis dias.

Estou muito contente, sobretudo pela vitória. Fizemos um jogo e devemos continuar neste caminho. É um orgulho para mim trabalhar com o Luis Enrique e com todos os jogadores que estão aqui. Desde o primeiro dia que me receberam de braços abertos e com toda a confiança do mundo. Barcelona? Tenho de continuar a trabalhar, com humildade. O mister é que decide. Vou trabalhar todos os treinos ao máximo como sempre e se tiver a oportunidade, vou tentar aproveitar”, comentou na flash interview.

Ainda durante o encontro, Bori Fati, pai do jogador, manifestou o seu orgulho pelo feito da promessa que muitos apontam como um dos melhores para a próxima década. “Estamos muitos emocionados, em casa, a viver o jogo em família. Foi uma festa poder aproveitar este jogo do meu filho. Agora só tem de desfrutar e estar feliz, tem muita coragem. Digo-te do coração, não conseguia imaginar isto, com o Luis Enrique”, salientou em declarações que foram reproduzidas pelo As. “Futuro no Barça? O Ansi só tem de trabalhar e já está. Messi? Messi é o maior jogador que vi em toda a minha vida e está com o meu filho, comigo, com a minha família”, acrescentou.

Ferran Torres, a seis minutos do final, sentenciou o marcador no 4-0 final que colocou a Espanha na frente do seu grupo da Liga das Nações com quatro pontos, mais um do que a Ucrânia e mais dois do que a Alemanha, que não foi novamente além de um empate na deslocação à Suíça. No entanto, é apenas de Ansu Fati que se fala. Dele e de todos os recordes que conseguiu bater no último ano: o mais novo a marcar na Champions, o mais novo a marcar na Liga, o mais novo a marcar dois golos na Liga, o mais novo a marcar e assistir no mesmo jogo da Liga, o mais novo a marcar pela seleção espanhola, o mais novo a marcar por uma seleção europeia campeã do mundo. Se os tempos de Messi no Barcelona e em Espanha estão a acabar, os de Ansu Fati ainda agora começaram.

“É uma alegria ter um perfil de jogadores tão jovens como o Ansu Fati para ir fazendo uma seleção sólida para o que aí vem. Esta nova geração chega com muita ilusão e ganas. Trazem frescura, trazem juventude. E não é apenas o Ansu, são todos os jovens que aparecem e que têm experiência de jogar nos seus clubes”, comentou no final do encontro Sergio Ramos. “Estou muito contente pelo Ansu. Tem apenas 17 anos, devemos ir com tranquilidade. Tem de ir ganhando maturidade para que não lhe suba à cabeça. Estes jogadores mais jovens necessitam de trabalhar, de ter tranquilidade e humildade, e trabalharem como o Ansu”, acrescentou Luis Enrique.