Giuseppe Meazza, 13 de novembro de 2017, Itália-Suécia. O jogo que acabou com Buffon em lágrimas, o jogo em que os transalpinos, aquela equipa que nos últimos minutos tinha sempre aquela estrelinha para marcar, andou 90 minutos num ato de tiro ao boneco, o jogo em que uma seleção chocou contra a realidade em forma de icebergue que todos conseguiam perceber mas poucos queriam “ver”. 60 anos depois, a squadra azzurra falhava a entrada na fase final de um Mundial, Gian Piero Ventura recebeu guia de marcha, Di Biagio ainda esteve à frente da equipa de forma interina em jogos particulares e Roberto Mancini assumiu o comando em maio de 2018. Não foi a melhor entrada, com apenas uma vitória nos seis jogos iniciais, mas assentou após a igualdade a zero com Portugal para a Liga das Nações em novembro desse ano, somando 11 vitórias seguidas até ao último empate com a Bósnia.

60 anos depois, a Itália está fora do Mundial 2018. Suécia apurada

Stade de France, 31 de agosto de 2017, França-Holanda. O jogo que terminou com uma goleada dos gauleses por 4-0, o jogo que quebrou de vez a geração com Robben, Sneijder ou Van Persie, o jogo que confirmou a queda a pique de um projeto futebolístico que deixou de ter pernas para andar. Após três participações consecutivas em Mundiais com uma final perdida pelo meio, a laranja perdeu sumo e nem mesmo as três vitórias que fecharam a qualificação corrigiram um caminho que nascera torto. Dick Advocaat, de forma natural, deixou a seleção e foi substituído por um velho conhecido em campo que assumiu o lugar fora dele: Ronald Koeman. Daí para cá, a Holanda ganhou 18 dos últimos 26 jogos (o último já com o adjunto promovido a número 1, Dwight Lodeweges) e perdeu quatro.

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Quando Itália e Holanda se encontraram pela última vez, em junho de 2018, Turim recebeu o encontro entre as duas melhores equipas do mundo que não estavam no Mundial. Empataram o jogo particular nesse presente, não empataram a projeção do futuro. E hoje começam a subir com novas opções a mandar na equipa.

Apesar de ter perdido o cérebro que foi projetando a revolução da Holanda, os princípios, os jogadores e a ideia continua a ser a mesma: um dos melhores centrais a comandar a defesa (Van Dijk), um dos melhores médios da atualidade a mandar na primeira fase de construção (Frenkie de Jong), um dos box-to-box com maior rendimento nos dois últimos anos (Wijnaldum) e avançados móveis que têm como grande referência Memphis Depay. Não se trata propriamente num regresso à Laranja Mecânica mas foram lançadas as bases para um novo ciclo que teve na ida à final da Liga das Nações um primeiro indicador e que se prolongou com um apuramento seguro para a fase final do Europeu estando no mesmo grupo da Alemanha. Já a Itália, mantendo ainda a experiência de Chiellini, Bonucci ou Immobile, apostou numa nova geração que tem Barella, grande referência do Inter na última época, como um dos destaques a par de outros nomes fortes como Zaniolo, Locatelli ou Moise Kean. É assim que, no plano coletivo, os transalpinos crescem de forma sustentada para voltarem aos grandes palcos e não foi por acaso que, num grupo que no plano teórico era mais acessível mas que se podia complicar, ganhou todos os jogos.

No final, a Itália ganhou bem (1-0) e Nicolò Barella foi o melhor em campo, não só pelo golo marcado mas também pela grande exibição no meio-campo transalpino. Se após o empate com a Bósnia contou um episódio insólito em que Francesco Acerbi jogou a titular em vez de Chiellini porque disse que sim à lista que lhe mostraram quando estava sem óculos, neste caso não houve enganos na equipa nem há enganos em relação ao projeto que está a montar, que tem o jovem médio do Inter como um dos pilares. Mas também a Holanda, apesar da derrota, foi mostrando que, com o que preparou e o que está a preparar, tem tudo para voltar à ribalta do futebol europeu.

O encontro começou com grande intensidade e as duas principais referências ofensivas, Ciro Immobile e Memphis Depay, a deixarem ameaças que passaram ao lado (3′ e 11′). No entanto, e aos poucos, por estratégia adversária e mérito nas zonas de pressão, a Itália foi assumindo mais o encontro do meio-campo para a frente enquanto lá atrás D’Ambrioso, Chiellini e Bonucci, sobretudo estes, deixavam cartões de visita a Depay e companhia com entradas mais duras. Zaniolo, na área, teve a outra boa oportunidade para desfazer o nulo (18′) que se prolongava pelos minutos até a Holanda fazer subir um pouco mais os médios e Wijnaldum, num grande trabalho que deixou Jorginho para trás com um simples toque, ganhar espaço para a meia distância e atirar para defesa apertada de Donnarumma (32′). Insigne ameaçou desfazer o nulo com um remate em arco que passou pouco ao lado (35′) mas o 1-0 chegaria ainda antes do intervalo, quando Zaniolo já tinha saído por lesão: grande jogada na esquerda, Ciro Immobile a ganhar espaço para o cruzamento e grande cabeceamento de Barella na área (45+2′).

Barella era mesmo a unidade em maior destaque, entre as boas exibições de Spinazzola e Immobile, e assistiu nos primeiros instantes do segundo tempo Insigne para grande defesa de Cillessen. Van de Beek, na passada após um cruzamento atrasado de Wijnaldum, obrigou Donnarumma a grande defesa (55′), Memphis Depay teve um tiro forte por cima (61′), mas a Itália foi conseguindo controlar da melhor forma a vantagem, tirando bola à Holanda, ganhando espaço para transições perigosas e mantendo sempre uma grande solidez defensiva também pela influência de Jorginho à frente dos centrais. Só mesmo nos últimos dez minutos houve uma pressão maior dos visitados, com Depay a atirar muito perto num remate acrobático e Van Dijk a acabar na frente sem resultados, o que permitiu à Itália assumir a liderança do grupo A1 da Liga das Nações com quatro pontos, mais um do que Holanda e Polónia e mais três do que a Bósnia, que perdeu em casa frente aos polacos esta noite (2-1).