A Hyundai pretende “passar de um fabricante de automóveis para uma empresa de mobilidade inteligente” e isso passa não só por alargar a sua oferta de serviços e de tecnologias para resolver os problemas de mobilidade, como também por um forte investimento no hidrogénio. Como tal, o construtor sul-coreano anunciou que, nos próximos cinco anos, vai destinar mais de 40 mil milhões de euros à mobilidade do futuro, dos quais 6,7 mil milhões de euros serão alocados, até 2030, à tecnologia das células de combustível (fuel cells) a hidrogénio.

A estratégia foi revelada pelo presidente e CEO da Hyundai Motor Europe, Michael Cole, na Convenção de Mobilidade Shift, integrada na Internationale Funkausstellung (IFA), a maior feira de electrónica do consumo da Europa que ocorre anualmente em Berlim e que este ano, fruto da pandemia, se realizou noutros moldes. Aí, Cole assumiu que os planos da Hyundai passam produzir, até 2030, nada menos do que 700 mil veículos a fuel cell por ano até 2030, saltando para a liderança nesta tecnologia.

A meta é ambiciosa, tanto mais que outros fabricantes com maior músculo financeiro – caso da BMW, da Mercedes e do grupo VW, entre outros – já tiveram soluções deste tipo mas deixaram-nas “cair” para se concentrarem na locomoção eléctrica a bateria. Recorde-se que a marca da estrela, por exemplo, cessou a produção do GLC F-Cell em Abril deste ano, cerca de seis meses depois de arrancar com as entregas aos primeiros clientes. E a BMW, que pretende lançar um X5 FCEV, recorreu à Toyota – cujo know-how nesta matéria é reconhecido, nomeadamente com o Mirai – para desenvolver essa versão, que deverá entrar em testes apenas em 2022.

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Comparativamente, a Hyundai está mais adiantada. Desde 2018 que o construtor sul-coreano tem na estrada o Nexo, um SUV com 163 cv e 395 Nm de binário máximo, que anuncia 666 km de autonomia, conseguindo atestar os três tanques de hidrogénio (com 52,2 litros cada) em escassos cinco minutos. Mas, além disso, a marca já arrancou com os testes na Europa ao seu primeiro camião a hidrogénio, um pouco à semelhança do que faz a Toyota, que até fabrica autocarros a fuel cell em Vila Nova de Gaia, atravez da Salvador Caetano, de que é accionista.

Chegam à Europa os camiões a hidrogénio da Hyundai

É precisamente para o cumprimento de distâncias maiores e para actividades que exigem um reabastecimento rápido, que as fuel cells a hidrogénio são encaradas pela Hyundai como a melhor alternativa para deslocações “limpas”, não colidindo assim com os BEV – as propostas eléctricas exclusivamente a bateria concentrar-se-ão nos veículos ligeiros, sob a submarca Ioniq. “Os eléctricos a bateria são a solução ideal para o transporte de passageiros e outras necessidades ‘domésticas’, ao passo que a pilha de combustível a hidrogénio vai operar no transporte de carga e mercadorias”, adiantou o responsável pela Investigação e Desenvolvimento da Hyundai, Albert Biermann, com isso sugerindo que a capacidade de fazer viagens mais longas e reabastecer mais depressa será aproveitada para electrificar os pesados.

Recorde-se que, aquando do arranque dos testes na Suíça do Hyundai XCIENT Fuel Cell, um camião com 9,75 metros de comprimento que demora 8 a 20 minutos a abastecer de hidrogénio e percorre 400 km entre reabastecimentos, o fabricante fez saber que está concentrado no desenvolvimento de um tractor para longas distâncias, capaz de fazer 1000 km com uma só carga.