Toda a oposição parlamentar açoriana criticou esta terça-feira as políticas do executivo regional socialista no campo da saúde, com o PS a lembrar o “gigantesco desafio” que tem sido a pandemia de Covid-19, um “teste vencido com mérito”.

O parlamento dos Açores está esta terça-feira a debater, a pedido do PSD, várias matérias relacionadas com o estado da saúde na região.

Os sociais-democratas, pela deputada Mónica Seidi, sublinharam que, entre janeiro e agosto deste ano, a mortalidade excessiva na região foi de 5,3%, sendo que, sem os óbitos associados à Covid-19, esse indicador se situa nos 4%.

De acordo com a deputada, este indicador — estabelecido na comparação com a média em igual período nos últimos seis anos — revela que é tempo de “reconhecer devidamente todas as outras doenças não relacionadas com a atual pandemia”, algumas delas “tão ou mais letais”.

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Os profissionais de saúde “não podem ser tratados de forma desigual, quando têm igual esforço e dedicação”, acrescentou ainda Mónica Seidi, lembrando conflitos públicos entre o executivo e quadros da enfermagem ou técnicos de diagnóstico, por exemplo.

No mesmo sentido, o líder do CDS nos Açores, Artur Lima, sustentou que “todos os profissionais de saúde estão em conflito com a tutela, mas, mesmo desconsiderados, dão o seu melhor”. O problema neste setor, advoga o centrista, são os gestores colocados à frente das instituições, formando “administrações políticas, sem competência”.

“A escolha de gente competente para gerir as unidades de saúde é fundamental. E é essa a grande falha que não se conseguiu ultrapassar”, prosseguiu, antes de lamentar que a região não consiga “segurar dezenas e dezenas de jovens quadros açorianos que querem ficar na sua terra” e conseguem inclusive formar-se em especialidades médicas.

O deputado do Bloco de Esquerda (BE) Paulo Mendes defendeu que a pandemia “veio criar um sentimento de unanimidade política sobre a necessidade de se reforçar o investimento no Serviço Nacional e Regional de Saúde”.

Na saúde, assim como nas restantes áreas, não podemos limitar a avaliação da ação governativa aos últimos cinco meses. Há que considerar toda uma legislatura que veio na continuidade de uma ação governativa de duas décadas marcada por uma opção política e, por isso, ideológica, que tem vindo a consolidar a aplicação de princípios neoliberais”, defendeu o bloquista.

Paulo Mendes lembrou ainda a proximidade de eleições na região — marcadas para 25 de outubro — para dizer que “ninguém fora do círculo de boys e girls do PS é capaz de dar a cara por estas políticas”, nem mesmo nos cartazes de promoção política.

Já o PCP, pelo seu deputado único, João Paulo Corvelo, é da opinião que a Covid-19 pôs “a descoberto a fragilidade do Serviço Regional de Saúde” e “os problemas na área da saúde nos Açores agravaram-se, avolumaram-se e pioraram”.

O comunista elencou o aumento de tempos de espera para cirurgias, consultas na especialista e o agravar de carências em recursos médicos nos três hospitais da região como exemplos desses problemas.

E prosseguiu: “Melhor, bem melhor está a prática da medicina privada na região. Não para de florescer e prosperar. Face à não resposta do Serviço Regional de Saúde, resta aos açorianos o recurso à saúde privada. Temos uma saúde para ricos, outra para pobres e muitas vezes com as pessoas a gastarem os últimos tostões ou a pedir emprestado”.

Já o PPM, pelo também deputado único, Paulo Estêvão, abordou também a proximidade eleitoral, valorizando a integração de diversos médicos em “lugares elegíveis” nas suas listas ao parlamento açoriano.

“O PS desvaloriza o parlamento excluindo médicos das suas listas”, acrescentou o parlamentar, lamentando que no maior partido da oposição, o PSD, a situação seja semelhante.

Pelo PS, o deputado José San-Bento disse que a Covid-19 obrigou a um “gigantesco desafio ao nível organizacional e operacional”, e as intervenções da oposição foram, nesse sentido, “desfocadas da realidade” e mais centradas no “período eleitoral” que se avizinha.

“Este foi um teste vencido com mérito e de uma forma absolutamente clara”, acrescentou ainda, referindo-se aos desafios impostos pela pandemia.

A Secretaria Regional da Saúde anunciou, por seu turno, que está em curso a emissão do primeiro lote de 96 Vales Saúde, permitindo que utentes dos três hospitais da região façam a sua cirurgia em entidade privada convencionada, num valor global superior a 185 mil euros.

Até ao momento, foram detetados na região 244 casos de infeção pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, que causa a doença Covid-19, verificando-se atualmente 39 casos positivos ativos, dos quais 32 na ilha de São Miguel, seis na ilha Terceira e um na ilha do Pico.

Desde o início do surto morreram 16 pessoas na região, todas em São Miguel.