Depois de Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS, e Rui Rio, líder do PSD, foi a vez do primeiro-ministro visitar a 54ª edição da Capital do Móvel, no Centro de Congressos da Alfândega do Porto. Depois de durante a amanhã visitar uma empresa têxtil em Guimarães, chegou 30 minutos depois da hora marcada e à sua espera tinha já o ministrado da Economia, Pedro Siza Vieira, o socialista e eurodeputado Manuel Pizarro e o empresário Mário Ferreira. Os cumprimentos fazem-se com o cotovelo, mas não com muita distância. “Lembra-se da última vez que veio cá?”, pergunta o empresário portuense, ao mesmo tempo que tira do bolso um frasco de álcool gel e distribui pelas mãos de todos.

Começa a visita pelas três salas da feira de mobiliário e decoração com marcas de Paços de Ferreira. António Costa percorre o circuito e vê de perto um a um todos os stands, das madeiras ao sofás, dos espelhos aos candeeiros, passando pelos matraquilhos e bicicletas sustentáveis. Acompanhado de uma generosa comitiva, o líder do Governo vai perguntando aos empresários sobre as vendas, o número de visitas e as novas gerações de artesãos. “Com o confinamento as pessoas passaram mais tempo em casa, a venda de mobiliário até aumentou”, diz um dos empresários. “Uma consequência positiva dos tempos difíceis que vivemos”, concretiza outro. “A economia não pode parar, em casa não resolvemos nada”, atira outro.

No meio do caminho, António Costa cruza-se com uma menina de 10 anos. Enquanto as aulas do 5º ano não começam, veio de Paços de Ferreira  para visitar a feira com a avó e faz questão de cumprimentar o primeiro-ministro. “Queres voltar para a escola? Já sabes as novas regras?”, questiona Costa. A menina afirma com a cabeça e fala da lavagem das mãos, do uso da máscara e do distanciamento social. “Tem a lição bem estudada”, conclui o primeiro-ministro sorridente.

Já depois da visita, no seu discurso recorda o diálogo com a menina para dizer que tal como as crianças, também os adultos têm que aprender a lidar com o vírus, pois voltar a parar não é uma hipótese. “Todos temos de ter bem presentes que o país não suporta, as famílias não suportam e as empresas não suportam se tivermos que voltar a passar uma situação de confinamento, como aconteceu em março e abril. Esse é um não cenário, não podemos voltar a parar.

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A receita para prevenir “um vírus que não anda sozinho” parece simples: disciplina. “A melhor forma de não voltar a parar, é sermos todos muitíssimo disciplinados no cumprimentos das regras. É mais difícil cumprir regras de trânsito e aprendemos, é mais difícil aprender a ler e a escrever, portanto temos de aprender a viver com estas regras.” O primeiro-ministro não se cansa de alertar para os perigos de uma atitude menos responsável. “Não podemos deixar, porque o sol está a brilhar e o tempo está quente, relaxar os comportamentos. Se o fizermos, arriscamo-nos a perder tudo o que conquistamos ao longo destes meses.”

Uma Europa mais autónoma na produção e uma oportunidade histórica para Portugal

António Costa não tem dúvidas de que este momento crítico para o país e para a Europa também poderá ser um momento de mudança. “Se há algo que a Europa compreendeu de uma forma muito violenta nestes últimos meses é que não podemos ter o grau de dependência que temos tido relativamente as cadeias de valor internacionais. Nós não podemos depender de países tão longínquos para a produção e abastecimento de coisas tão essenciais”, afirma, recordando a falta de máscaras no início da pandemia.

O líder do Governo quer, por isso, uma Europa mais autónoma e independente, sendo esta uma das grandes lições a tirar. “A Europa se quer ser autónoma, tem que ter a capacidade de voltar a produzir bens essenciais, seja no agro alimentar, no vestuário, no calçado ou no mobiliário. Em qualquer um destes setores de atividade, a Europa tem de recuperar a sua capacidade de produção. Portugal tem aqui uma oportunidade histórica que não pode desperdiçar.

O primeiro-ministro partilha que no pedido que o executivo fez a António Costa e Silva para pensar o que deve ser o futuro do país nos próximos 10 anos, “um dos grandes desígnios é que o país tem que se reindustrializar, tem de voltar a ter uma indústria mais forte, com maior capacidade de produzir para si e para a Europa, e da Europa para o mundo”. Mas reindustrializar não significa necessariamente criar industrias novas, mas sim “cuidar da indústria que já temos”. “Tal como não há árvores sem raízes, também não há indústria num país que não assente na indústria que esse país já tem”, acrescenta.

Ao longo da visita, Costa cruzou-se também com uma estreante na feira, empresária de mobiliário habituada a exportar e que por causa da pandemia abriu pela primeira vez os olhos para o mercado nacional. “Para quem exerce as funções de primeiro-ministro, isto é um fator de grande encorajamento, um sinal que o país não se deixou abater por esta pandemia. Temos medo do vírus, com certeza que temos, agora ninguém se deixa vencer pelo vírus.” Perante as dificuldades, para o chefe do executivo, só há uma resposta a dar: “Enfrentar a adversidade e seguir em frente”, porque desta crise “ninguém vai sair sozinho”.

Uma feira que é um lugar de encontro, mas não de contágio

Pedro Siza Vieira destacou que a Capital do Móvel como a “demonstração de que é possível organizar eventos mantendo todas as regras de segurança”, sendo um este “um local de trabalho e de encontro, mas não de contágio”.

O ministro da Economia afirmou que 2021 é o ano para a retoma da atividade económica, apesar de nos últimos meses já serem evidentes sinais de algum crescimento, após a “violentíssima contração dos meses de abril e maio”. “Vimos que em julho as nossas exportações cresceram 17% no seu conjunto relativamente em junho, percebemos que o nossos défice comercial na balança de bens é menor do que aquilo que foi no ano passado na mesma altura e é este percurso que temos de continuar a fazer nos próximos meses.”

Siza Vieira sublinha que no próximo ano, o Governo terá a capacidade de apoiar a economia com “incentivos ao investimento, à modernização, à transformação digital, ao apoio à formação dos nossos profissionais”, ajudando vários setores. É, por isso, necessário continuar a percorrer o caminho que foi suspenso pela pandemia, “um caminho de crescimento em valor e diferenciação pela qualidade, pelo serviço, pelo design e pela construção de uma marca”.