Foi pela admiração a antigas referências como Pete Sampras, Andre Agassi ou Michael Chang que Laura Clark, uma americana de Owensboro, em Kentucky, quis arriscar uma vida na arbitragem ou como juiz de linha no ténis. No entanto, num dos primeiros torneios masculinos que dirigiu em Louisville, as coisas não correram da melhor forma e foi atingida com uma bola após um serviço a mais de 200 km/h. “Abriu-me o lábio por completo”, contou numa entrevista à Living Owensboro Magazine, uma publicação mais regional que provavelmente nunca teve tantas visitadas como esta semana. Estávamos então em novembro de 2014, uma altura em que era apenas e só aquilo que gostava: a juiz de linha. Seis anos depois, pelos piores motivos, tornou-se conhecida. E foi essa “fama” que apareceu por um momento infeliz de Novak Djokovic que acabou por alterar e muito a sua vida normal.

Insólito: Djokovic desqualificado do US Open após atingir juíza de linha com uma bola na garganta

Se da parte da organização e do próprio sérvio não houve qualquer revelação de identidade depois do insólito jogo da quarta ronda do US Open em que o número 1 do ranking mundial atingiu a juiz de linha com a bola na garganta ainda no primeiro set, o que levou à desqualificação de Djokovic do torneio (além da perda de todos os pontos conseguidos até aí e do prize money nas rondas anteriores ganho), um pequeno jornal local nos EUA, o Owensboro Times, publicou uma notícia não muito extensa sobre o sucedido mas com o seu nome. Foi a partir daí que o mundo rapidamente começou a conhecer Laura Clark. Em má altura, pelos piores motivos. 

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“Que sirva de lição para o meu crescimento”. O mea culpa de Djokovic, desqualificado do US Open por atingir uma juíza de linha

Pouco depois dessa revelação, a página pessoal do Instagram da juiz de linha foi invadida por comentários críticos por aquilo que fãs de Djokovic consideraram ser um ato teatral que levou à desqualificação do jogador quando tinha todas as condições para manter a série de 26-0 em jogos em 2020, ganhar o segundo Grand Slam da época e aproximar-se ainda mais do registo de Roger Federer e Rafa Nadal. Isso acabou por não ser o pior que teve de ler antes de fechar a sua conta poucas horas depois: além das ameaças, recebeu comentários que diziam que em breve iria ter com o filho (falecido em 2008, num acidente de mota, com apenas 25 anos) e outros que colocavam em causa a atitude após ser atingida e defendiam que tinha sido um teatro para afastar o jogador.

Queridos fãs, obrigado pelas mensagens positivas mas por favor lembrem-se que a juiz de linha que foi atingida pela bola ontem à noite precisa também do nosso apoio. Ela não fez nada de mal. Peço que estejam ou que se mantenham especialmente a apoiar e a cuidar dela durante este tempo”, pediu nas redes sociais Novak Djokovic depois de saber o que se tinha passado após o encontro.

Na entrevista que dera antes, em 2014, à Living Owensboro Magazine, Laura Clark explicou que até ir com duas amigas a um torneio em Cincinatti, onde viu algumas das principais figuras americanas da modalidade, nunca tinha visto sequer um jogo de ténis. Foi a partir desse momento que começou a ganhar o gosto pelo ténis, fazendo em 2007 o primeiro torneio como oficial depois de ter contactado o coordenador local, de ter descarregado o livro de regras e de ter frequentado vários cursos. Foi árbitra principal, de cadeira, juiz de linha. E ainda hoje usa muitas vezes o fio que comprou há anos, com uma pequena raquete e um diamante em bola. Dois anos depois participou no seu primeiro grande torneio, curiosamente no mesmo em Cincinatti que lhe despertara a paixão pelo ténis. Esteve mais tarde em momentos altos como Taça Davis, Rod Laver Cup ou Grand Slams.

“Se compensa em termos financeiros? Faria tudo isto de borla. Não é algo que faça com que se ganhe muito dinheiro mas simplesmente adoro fazer…”, contou, explicando também a preparação que faz antes de um jogo: “Tento abstrair-me de tudo. Existe uma sala grande para nós, onde todos os árbitros estão juntos, onde se joga às cartas ou assim, mas 15 minutos antes do jogo saio, concentro-me e recordo a mim mesma o que estou ali a fazer. Faço isso para limpar a minha cabeça e fazer o melhor”. “As únicas ocasiões em que somos vistos pelas pessoas é quando fazemos asneira. Ponto. A primeira vez em que entramos num court grande é uma experiência aterradora mas quando o jogo começa os nervos desaparecem – até teres algum erro e ouvires as vozes de fundo que vêm das bancadas depois. E volta tudo”, descreveu à Living Owensboro Magazine. Em 2014. Seis anos depois, sem ter de fazer asneira, tornou-se “vista” pelas pessoas. Como não queria e da pior forma.