O governo venezuelano anunciou esta sexta-feira a ativação de um plano para suprir o mercado de combustível, um produto cada vez mais escasso localmente, e que tem ocasionado longas filas e protestos por todo o país.

Informamos sobre a implementação, temporária, de um plano especial de contingência para o abastecimento de combustíveis, que tenderá a normalizar e regularizar o esquema de distribuição no curto e médio prazo”, refere a empresa estatal Petróleos de Venezuela SA (Pdvsa) num comunicado.

No documento, o governo venezuelano reafirma “o compromisso de produzir (localmente) toda a gasolina e outros produtos necessários para o desenvolvimento energético da Venezuela”.

Nas últimas semanas as filas para obter combustível multiplicaram-se em várias regiões da Venezuela com a população a queixar-se de que, mesmo a preços internacionais, há cada vez mais dificuldades para abastecer.

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É complicado, cada vez mais complicado. No domingo estive num posto de combustível em La Florida (Caracas), desde as 5 horas da manhã. Tinha uns 70 carros pela frente e cinco horas depois informaram que o combustível tinha acabado”, disse um cliente à Agência Lusa.

Fernando Delgado explicou que como a matrícula da sua viatura “termina em seis, teve que esperar até quinta-feira para voltar a tentar conseguir combustível”. De novo na fila, “depois de oito horas, tive que regressar a casa, mesmo com a luz de reserva acesa, porque um familiar precisava de cuidados médicos”.

Na cidade de Caracas, tida como protegida por ser a sede dos principais poderes e do Executivo, a população queixa-se de que há cada vez mais estações de serviço encerradas e que mesmo fazendo filas quilométricas não há garantia de conseguir gasolina porque acaba e as cisternas demoram a chegar com combustível.

O governo venezuelano atribui a situação “às nefastas consequências do vil bloqueio, na forma de sanções injustas, ilegais e unilaterais impostas pelos EUA contra a PDVSA, suas subsidiárias e fornecedores, nacionais e estrangeiros”.

No comunicado divulgado esta sexta-feira, explica que tem denunciado internacionalmente “este deplorável bloqueio”, “como uma flagrante e perniciosa violação dos direitos humanos de todo um povo, que atenta contra o ordenamento jurídico da comunidade internacional, especialmente a Carta das Nações Unidas”.

Este ataque imperial à nossa soberania trouxe graves prejuízos a todo a indústria energética, afetando em maior medida o nosso sistema de refinação e produção de combustíveis”, afirma.

Por outro lado sublinha que “no meio de uma escalada de agressões e da pandemia” da Covid-19, são feitos “grandes esforços para suprir a procura de combustíveis e elevar os níveis de produção, fortalecendo a infraestrutura industrial e tecnológica das principais refinarias”, e desenvolvendo iniciativas “de refinação, para consolidar um esquema eficaz de substituição de importações e proteger a petroleira de ataques ou sanções de qualquer natureza”.

A 1 de junho último, depois de vários protestos e de queixas sobre paralisação de vários setores agrícolas, devido à falta de combustível, o governo venezuelano fixou pela primeira vez o preço dos combustíveis em dólares norte-americanos, com subsídios para alguns setores básicos.

A gasolina aumentou de 0,0002 para 0,50 dólares (de 0,00018 euros para 0,45 euros) por litro e para 5.000 bolívares soberanos (0,022 euros) por litro para os setores subsidiados.

O aumento teve lugar depois de chegarem à Venezuela cinco navios com combustível proveniente do Irão, uma operação que foi questionada pelos EUA, que anunciaram ter apresado, pela primeira vez, quatro petroleiros iranianos que transportavam gasolina para a Venezuela.

Os cargueiros Luna, Pandi, Bering e Bella foram apresados em alto-mar, há alguns dias, depois de uma autorização emitida por um juiz federal, em rota para Houston, no Texas (sul dos Estados Unidos), segundo o diário The Wall Street Journal (WSJ).

Segundo a imprensa venezuelana três barcos iranianos estariam novamente a caminho da Venezuela, com gasolina, usando uma rota alternativa pelo sul do continente africano. Com os GPS apagados deveriam chegar ao país em duas semanas.