“O único arrependimento que tenho é não ter dado na cara desse babaca“. Depois de ter sido expulso, um jogador pode fazer mea culpa, pode falar em injustiça ou pode pelo menos remeter-se ao silêncio. No caso de Neymar, não foi nenhuma das três. E o babaca, para dar contexto, é Álvaro Domínguez, central espanhol do Marselha. O jogo que o conjunto de André Villas-Boas ganhou no Parque dos Príncipes frente ao PSG por 1-0 com golo de Thauvin no seguimento de um livre lateral ainda na primeira parte acabou da pior forma com um total de cinco vermelhos, ameaças, agressões, cuspidelas e tensão nas palavras mas prometer não ter acabado no apito final.

Se no primeiro tempo Neymar, que estava de regresso às opções de Thomas Tuchel depois de ter estado infetado com Covid-19 após a final da Champions (provavelmente contraído nas férias em Ibiza, à semelhança de vários companheiros de equipa), foi o alvo principal da defesa do Marselha, a partir do minuto 36 o duelo centrou-se no brasileiro e no espanhol, depois de uma alegada frase racista do central ex-Villarreal. “O VAR pegar a minha ‘agressão’ é mole… Agora quero ver pegar a imagem do racista a chamar-me de ‘Mono hijo de puta’, isso é que quero ver”, escreveu também nas redes sociais Neymar, que quando se encaminhava para os balneários após a expulsão voltou a dizer ao quarto árbitro de forma percetível “Racismo não, racismo não!”.

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Antes, no início desse lance que terminou com Neymar de dedo em riste para Álvaro, o espanhol queixava-se de ter sido cuspido por Ángel Di María. Com VAR e após consultar o quatro árbitro, o juiz principal mandou seguir. Mas foi essa atitude mais permissiva que levou a que os ânimos se excedessem. No caso do brasileiro e do rival direto em campo, estiveram quase uma hora pegados entre “bocas” e palmadas na cabeça. Quando Paredes perdeu a cabeça num lance com Benedetto, no quinto minuto de descontos, houve batalha campal com murros entre Kurzawa e Amavi, Paredes a ver o segundo amarelo que devia ser vermelho direto e Benedetto a ver o segundo amarelo sem que se percebesse porquê, Neymar a aproveitar a confusão e a descarregar em Álvaro. O PSG acabou com oito, o Marselha com nove e o guarda-redes Mandanda, o melhor em campo, segurou a vantagem para os visitantes, naquela que foi a segunda derrota seguida dos parisienses.

Ainda sem saber ao certo o que se tinha passado, Leonardo, diretor desportivo do PSG, admitiu que terá de haver uma conversa com o grupo. “A equipa fez um bom jogo. Se fosse boxe, tínhamos vencido. Podíamos ter vencido. A culpa também é dos jogadores, vamos conversar sobre isso internamente. Futuro de Tuchel? Depois de um jogo com este, fazer essa pergunta fica complicado… Há muitos fatores: acabámos a Champions, começámos logo o campeonato, depois tivemos o problema da Covid-19… Não podemos esquecer-nos do contexto complicado”, disse o brasileiro. E até os treinadores se pegaram no final do encontro, como admitiu Villas-Boas.

“Ele [Tuchel] disse-me que esperava que eu tivesse jogado na lotaria esta noite e eu respondi-lhe que esperava que ele também tivesse jogado na lotaria contra a Atalanta [quartos da Liga dos Campeões, vitória com dois golos nos descontos]. Álvaro? Espero que isso não obscureça a nossa vitória. O Álvaro é um jogador experiente. Obviamente que não há espaço para o racismo no futebol mas acho que ele não disse nada racista. E houve a cuspidela do Di María, que é de evitar… É uma grande alegria ganhar aqui depois de tanto tempo, dou os parabéns aos jogadores que foram grandes. Eles levam dez anos de domínio mas isso custou-lhes mais de 1.000 milhões de euros. Eles querem é ganhar a Liga dos Campeões mas aí ainda não conseguiram”, comentou na conferência de imprensa o português, após o final do encontro que acabou com um jejum de dez anos em Paris.