Os peritos da Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendaram esta quarta-feira a vacinação contra a gripe, cuja época de circulação do vírus se aproxima no hemisfério norte, para melhorar a luta contra a Covid-19 na segunda onda da pandemia.

Os casos mais graves de gripe podem requerer internamento hospitalar, o que sobrecarregaria os serviços de saúde ainda a braços com numerosos casos de Covid-19, e em alguns casos os sintomas das duas doenças podem confundir-se e causar alarme, por exemplo nas escolas, alertam os peritos.

“Apelamos especialmente às pessoas com condições médicas pré-existentes para que se vacinem contra a gripe”, sublinhou esta quarta-feira, citado pela EFE, o diretor de Emergências Sanitárias da OMS, Mike Ryan, numa sessão pública de perguntas e respostas emitida pela agência das Nações Unidas através das suas redes sociais.

A diretora técnica da OMS para a Covid-19, Maria Van Kerkhove, acrescentou que estão a observar-se “tendências preocupantes” na evolução da pandemia em países do hemisfério norte, devido ao aumento de casos de coronavírus ainda antes do início da temporada da gripe.

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Ainda que muitos desses aumentos se devam a que muitos países estejam a melhorar a sua capacidade de diagnóstico, e já não se detetem apenas casos mais graves como na primeira onda da pandemia, “também há uma preocupante subida das hospitalizações e da ocupação de unidades de cuidados intensivos”, referiu a perita norte-americana.

Van Kerkhove mencionou que esta tendência está a ser observada em países como Espanha ou França, no leste da Europa e em alguns estados dos EUA, pelo que pediu maior cuidado, mesmo reconhecendo que o mundo está agora “melhor preparado e não na mesma situação do que no princípio da pandemia”.

Ryan acrescentou que a principal preocupação agora é que o aumento de casos de Covid-19 e gripe aconteça em simultâneo e que isso “dificulte enormemente” o trabalho de médicos e enfermeiros a tratar os casos mais graves.

O responsável adiantou também que continua a não existir provas de que o novo coronavírus SARS-CoV-2, que causa a Covid-19, aumente de virulência com a baixa de temperaturas, como ocorre com a gripe.

O especialista, que afirmou que foram detetados casos de infeção de uma mesma pessoa com gripe e Covid-19, disse que o objetivo agora deve ser “maximizar a taxa de sobrevivência e minimizar o tempo de hospitalização” e para isso há que começar por baixar o número total de contágios.

Van Kerkhove disse que a taxa de letalidade do novo coronavírus desceu para os 0,6%, “uma percentagem que pode parecer baixa, mas que aumenta drasticamente entre os mais idosos”.

Ryan complementou a informação explicando que “se não for encontrada uma vacina e a doença hipoteticamente atinja 60% a 70% da população mundial, isso significaria uma possibilidade de morrer entre 1% e 2%, bastante acima da de ganhar a lotaria”.

O diretor de Emergências Sanitárias da OMS reconheceu que muitos países “encontraram uma maneira de conviver com o novo coronavírus com um impacto mínimo na sociedade”, mas referiu que, ainda assim, a pandemia continua a ser “esgotante para todos, afetando planos, férias e estudos”.

Sobre o possível regresso aos confinamentos em massa, Van Kerkhove manifestou a sua esperança em que um maior conhecimento da doença permita aplicar medidas mais localizadas.

São necessários planos nacionais, mas com uma implementação o mais local possível, em zonas o mais reduzidas possível”, disse.

Sobre a possibilidade de reinfeção da Covid-19, detetada ainda em poucos casos, os peritos sublinharam que por agora não é uma grande preocupação, mas não descartaram, por exemplo, que em caso de se encontrar uma vacina esta tenha que ser inoculada todos os anos, como acontece com a gripe.