O exército chinês enviou esta sexta-feira 18 aviões, incluindo caças, para o Estreito de Taiwan, numa grande e incomum demonstração de força, coincidindo com a visita de um alto funcionário norte-americano a Taipé.

O vice-secretário de Estado Keith Krach reuniu-se já com o ministro dos assuntos económicos e o vice-primeiro-ministro de Taiwan Encontrou-se ainda com líderes empresariais, durante o almoço, e deve jantar com a líder de Taiwan, Tsai Ing-wen.

Em resposta à visita de Krach, o Comando do Teatro Oeste do Exército de Libertação Popular realizou exercícios de combate perto do Estreito de Taiwan, com o objetivo de intimidar a ilha, que Pequim considera território seu, apesar de funcionar como um Estado soberano.

O ministério da Defesa de Taiwan disse que dois bombardeiros e 16 caças da China cruzaram a zona de identificação de defesa aérea de Taiwan.

O porta-voz do ministério da Defesa chinês, Ren Guoqiang, considerou os exercícios uma “ação legítima e necessária, tomada em resposta à atual situação no Estreito de Taiwan, para salvaguardar a soberania nacional e a integridade territorial”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Os Estados Unidos e as autoridades do Partido Democrático Progressista [partido no poder em Taiwan] intensificaram o seu conluio e frequentemente geram problemas”, disse Ren, em conferência de imprensa.

Numa breve mensagem, o Comando do Teatro Oeste disse que os exercícios envolveram unidades navais e aéreas no Estreito de Taiwan, com o objetivo de avaliar a sua capacidade de realizarem operações conjuntas.

O ministério dos Negócios Estrangeiros da China também defendeu a medida.

A China tem uma “vontade firme, total confiança e capacidade suficiente para impedir todas as interferências externas e ações separatistas das forças de independentistas de Taiwan”, avisou o porta-voz do ministério, Wang Wenbin. Em agosto passado, o secretário de Saúde dos EUA, Alex Azar, tornou-se o até então mais alto funcionário do Governo norte-americano a deslocar-se a Taiwan, desde que os dois lados romperam os laços formais, em 1979, quando os EUA aceitaram a “política de uma só China”, que pressupõe que Pequim é o único governo legitimo de todos os territórios chineses. A aproximação a Taipé é altamente sensível para Pequim.

China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. Mas a China considera Taiwan como território sob a sua soberania e opõe-se a qualquer tipo de interação oficial entre outros países e a ilha.

As visitas inserem-se numa série de iniciativas do Governo de Donald Trump para fortalecer as relações com Taiwan, incluindo o aumento da venda de armas e o apoio à participação da ilha em fóruns internacionais. Antes da chegada de Krach, a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Kelly Craft, almoçou com a principal autoridade de Taiwan em Nova Iorque, numa reunião que designou de “histórica”. A delegação norte-americana vai assistir no sábado à cerimónia em honra do ex-presidente Lee Teng-hui, considerado o pai da democracia taiwanesa e recentemente falecido, cujas cinzas vão ser cobertas com a bandeira nacional.

Analistas dizem que a resposta militar chinesa é uma mensagem clara para os EUA, já que o lado chinês tomou ações semelhantes quando o secretário de saúde dos EUA visitou Taipé em agosto.

“Acho que os chineses estão a usar esta ferramenta para tentar impedir esta espécie de relação diplomática entre os EUA e Taiwan”, disse Alfred Wu, professor associado da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew, na Universidade Nacional de Singapura.

As tensões entre Washington e Pequim já se encontram no nível mais alto em várias décadas, face a uma prolongada guerra comercia e tecnológica, o estatuto de Hong Kong ou a soberania do mar do Sul da China.