O golfe mudou, como de resto tudo mudou em tempos de pandemia, com a Covid-19, mas é uma modalidade que, garantem, é segura e transmite confiança, como prova o Open de Portugal, a decorrer no Royal Óbidos Golf Course.

“Nada é 100% seguro, mas não há contacto físico, não há elevados níveis de transpiração, não há partilha de equipamento, o único ponto de contacto comum é a vareta da bandeira e o ancinho [para alisar os ‘bunkers’], que são desinfetados diariamente. Se os jogadores desinfetarem as mãos após cada utilização, penso que uma prova de golfe é bastante segura”, explica à Lusa João Coutinho, diretor técnico da Federação Portuguesa de Golfe (FPG).

O European Tour esteve suspenso cerca de quatro meses e, desde a retoma em julho, só há registo de um caso positivo ao novo coronavírus, detetado no pré-teste, efetuado seis dias antes do início do torneio. Garantido o resultado negativo, os jogadores e ‘staff’ da organização recebem autorização para se deslocarem para o evento, onde é obrigatória nova testagem no camião tir apetrechado com quatro máquinas de PCR, com capacidade para 14 testes ou 28 de cada vez.

Só apurado um segundo teste negativo, que em média é detetado ao fim de quatro horas, é permitida a entrada na bolha do European Tour. E, uma vez dentro da bolha, há uma série de novos procedimentos a cumprir e que rompem com o passado recente.

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“Como tudo, o golfe teve de se adaptar. Mas acho que o golfe é um dos desportos com menos risco e nós tentamos minimizar ainda mais esse risco. Como é ao ar livre, jogado num espaço amplo e cada formação só pode ter três jogadores, uma vez que já não podemos fazer voltas de treino com quatro jogadores, permite-nos uma adaptação fácil”, defende Pedro Figueiredo, profissional português do European Tour.

Os cumprimentos e convívios no ‘clubhouse’ são para manter literalmente à distância, as bandeiras e os ancinhos são desinfetados diariamente e só podem ser tocados por um membro de cada formação, aconselhado a desinfetar as mãos logo após a utilização, o ‘high five’, avisa o ‘starter’, é para esquecer, e os sacos dos jogadores no ‘tee’ têm obrigatoriamente de ser colocados em locais próprios, com uma distância dois metros.

A máscara, essa, faz parte do ‘equipamento’ (seja voluntário, jogador, árbitro ou imprensa) e é para ser usada em todas as circunstâncias, com exceção durante o jogo e às refeições, que preferencialmente são servidas em ‘take-away’. O álcool gel, a julgar pelo exemplo praticado no Royal Óbidos Golf Course, parece ser a companhia perfeita e inseparável das águas e bananas colocadas ao longo do campo.

“É mais seguro jogar golfe nestas condições do que ir ao supermercado nestas condições. As entradas são controladas, todos são testados, há medidas de distanciamento e proteção e estamos ao ar livre”, justifica Coutinho, revelando que em Óbidos foram testadas 319 pessoas e todas entraram na ‘bolha’, tal como no ‘Swing Ibérico’, composto pelo Estrella Damm N.A Andalucia Masters, Portugal Masters e Open de Portugal, onde foram feitos 1.600 testes, todos negativos.

Além das regras restritivas do European Tour, todos os membros envolvidos, acrescenta o diretor da FPG, estão “sujeitos ao plano de contingência de cada país”.

Sinceramente, sinto-me muito mais seguro quando estou em torneio, porque as medidas são tantas, além dos testes, que sentimos que é um ambiente muito controlado e fechado, até mais do que quando estamos em casa, em que saímos para ir ao supermercado, farmácia ou outro sítio qualquer. Aqui não podemos sair para fazer uma refeição fora ou ir ao supermercado. Vivemos durante uma semana entre o hotel e o campo de golfe. Sinceramente, quando me sinto mais seguro é quando estou a jogar torneios”, assegura Figueiredo.

Apesar de admitir não haver, contudo, “uma ‘bolha’ perfeita”, João Coutinho acredita ser o Open de Portugal e o golfe “um excelente exemplo de segurança em tempos de pandemia”.

“As pessoas sentem-se seguras no golfe. Há pessoas a aproximarem-se da modalidade, porque não querem estar fechadas num ginásio ou praticar desporto com contacto físico, mas querem continuar a fazer desporto. Na nossa Academia do Jamor e, em outros sítios, temos vindo a receber pessoas que estão a chegar ao golfe por considerarem que é uma modalidade segura. E se o golfe não for seguro, qual é a modalidade que é segura?”, questiona.

Mas, como a perfeição não existe, Pedro Figueiredo aponta a maior dificuldade dos jogadores em viver na ‘bolha’ “segura” do European Tour

“É o estarmos fechados semana, após semana. Em Inglaterra, por exemplo, tínhamos seis torneios seguidos e ficávamos uma semana, em cada um, fechados num hotel, sem poder ir a um restaurante ou dar um passeio. E isso é complicado, tanto que eu e o Ricardo [Santos, também jogador do European Tour], ao fim de três torneios, decidimos vir para casa antes de voltar a entrar duas semanas na ‘bolha’ em Portugal. Essa tem sido a maior dificuldade para nós, viver quase em clausura”, admite.

A estratégia aplicada no golfe, essa, parece estar a surtir efeito, no que respeita à minimização de riscos de contágio do novo coronavírus, pelo que o European Tour prepara-se para testar no Aberdeen Standard Investments Scotish Open, entre 01 e 04 de outubro, abrir as portas a 650 espetadores por dia nas últimas duas voltas.