O antigo ministro da Defesa do Mali Ba N’Daou foi nomeado esta segunda-feira Presidente transitório do país pela comissão criada pela junta no poder desde o golpe de Estado, em agosto, anunciou o chefe da junta, coronel Assimi Goita.

O novo Presidente deverá servir o país como chefe de Estado durante vários meses, antes de os civis regressarem ao poder. Já o coronel Goita, o chefe da junta, foi designado vice-presidente de transição, anunciou o próprio num noticiário especial transmitido na televisão nacional.

A cerimónia de juramento [tomada de posse] terá lugar na próxima sexta-feira, 25 de setembro”, afirmou o coronel Goita.

Este anúncio surge após várias semanas de disputas entre malianos sobre a natureza civil ou militar do poder no período de transição, e da pressão recorrente da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) sobre a junta para uma rápida nomeação de personalidades civis.

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Ainda na semana passada, a 16 de setembro, os líderes dos países da África Ocidental aceitaram uma transição política no Mali de 18 meses, em vez de um ano, pedida pela junta militar, que assumiu o poder após o golpe de Estado que ocorreu no dia 18 de agosto, com uma condição: que o presidente e primeiro-ministro fossem civis.

Nós, chefes de Estado e de Governo, tomamos nota de que a duração da transição política será de, no máximo, 18 meses, contados a partir de 15 de setembro de 2020″, lê-se num comunicado da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) divulgado a 16 de setembro.

Além disso, entre as decisões acordadas em Acra, durante a cimeira extraordinária de dirigentes do bloco regional, que contou com a presença do chefe do Comité Nacional de Salvação do Povo (CNSP, militar) do Mali, o coronel Assimi Goita, consolidou-se também a reivindicação, repetida em várias ocasiões, de que os dois chefes da transição seriam civis e que o CNSP “se dissolvia imediatamente após instalado o período de transição”.

O prazo para a junta militar designar os 25 membros que deveriam fazer parte do governo interino, de acordo com o pedido da CEDEAO, terminava a 16 de setembro.

O movimento M5-RFP, o maior grupo de oposição ao regime do agora ex-presidente Ibrahim Boubacar Keita, afastou-se do plano de transição acordado após três dias de diálogo nacional, entre outros motivos, para não limitar a uma personalidade civil os cargos de presidente interino e primeiro-ministro.

Os líderes regionais receiam que o golpe possa abrir um precedente perigoso na África Ocidental e permitir que as forças jihadistas com laços com a Al Qaida e a organização terrorista designada Estado Islâmico tomem mais terreno na região do Sahel.

O golpe de 18 de agosto surgiu após várias semanas de grande instabilidade no país, com protestos em massa e tumultos nas ruas liderados por multidões exigindo a renúncia de Ibrahim Boubacar Keita, no cargo desde 2013.