“Cinco milhões são cinco milhões. Desde o dia 12 de dezembro de 2014”. Marcelo Rebelo de Sousa já vinha com a data na ponta da língua quando chegou, esta quarta-feira, ao Complexo dos Clérigos, no Porto, para assinalar os cinco milhões de visitantes do monumento, contabilizados desde o dia em que terminaram as obras de restauro. O número cinco milhões já estava guardado para o Presidente da República e a data, explicou logo a seguir, não era difícil de memorizar.

– 12 de dezembro é um grande dia. Sabe porquê? Porque é o dia dos meus anos. E sabe que a Igreja dos Clérigos também foi inaugurada a 12 de dezembro de 1749?

– Então o senhor Presidente tem de vir cá festejar o seu aniversário.

O convite estava lançado. Marcelo Rebelo de Sousa entrava para visitar a Torre, a Igreja e o Museu dos Clérigos, um espaço que diz ser “um retrato da evolução cultural do Porto e de Portugal”. A seu lado seguiram Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, o bispo do Porto, D. Manuel Linda, e o presidente da Irmandade dos Clérigos, padre Manuel Fernando.

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A visita e o convite para ser o visitante número cinco milhões, referiu num discurso em plena Igreja dos Clérigos e de máscara colocada, traziam consigo dois “sentidos simbólicos”: a importância deste monumento como património cultural, mas também o contexto de pandemia que levou muitos locais, incluindo o Complexo dos Clérigos, a parar durante o confinamento e a recomeçar com uma nova realidade e novas regras.

O aumento de visitantes nacionais tem marcado este regresso: nos últimos meses, os turistas portugueses que visitaram a Torre dos Clérigos passaram de 15% para 30%. Além disso, desde o dia 30 de maio 145 mil pessoas visitaram este monumento. “Isto significa uma recuperação cuidadosa, respeitando as regras sanitárias. Uma recuperação que mostra que é possível conjugar a preocupação com a saúde pública, com a vida cultural, a vida social, a vida económica no nosso país, sem a qual não é possível garantir a salvaguarda, a defesa da vida e da saúde. Sem uma a outra não é possível“, alerta Marcelo Rebelo de Sousa.

A pandemia de Covid-19 foi, desde o início, um tema que marcou as palavras do Presidente da República esta quarta-feira. Não voltou a lembrar datas específicas, mas deixou um apelo aos portugueses “para que olhem para o futuro mais do que para o presente” e para que sejam “tão resistentes como desde o avanço como nação independente”.

A Torre dos Clérigos — que rearrancou em maio, está a seguir o seu caminho olhando para o futuro, naturalmente muito orgulhosa do seu passado e com a força que o Porto sempre tem e que Portugal sempre mostra — é um exemplo que vale a pena ser seguido”, acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa.

À saída da visita e da cerimónia, não faltou quem esperasse pelo chefe de Estado para deixar uma mensagem ou pedir uma fotografia. Os beijinhos foram substituídos por cumprimentos com o cotovelo — “Dê cá uma cotovelada” — e, no final, o convite para Marcelo passar o aniversário na Torre dos Clérigos voltou a surgir. “E subo à torre”, sugeriu.

Um défice “aquém das piores previsões” e um Orçamento que deve ser viabilizado à esquerda

Das datas para os números, Marcelo Rebelo de Sousa falou, à margem da visita, sobre o défice de 5,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro semestre deste ano. É “um mau resultado” que já se esperava, mas ainda assim, sublinha, fica “aquém das piores previsões” — que apontavam para os 6%. ” É menos mau do que as previsões mais pessimistas”, referiu.

Já sabíamos que ia ser um mau resultado, mas, apesar de tudo, é menos mau do que as previsões mais pessimistas que foram feitas em relação ao primeiro semestre. Vamos ver o que se passa com o segundo semestre”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, lembrando que houve uma paragem de boa parte da atividade económica e, por isso, menos receitas e mais despesas.

OE2020. Marcelo diz que défice de 5,4% é “mau” mas “menos mau” do que as piores previsões

Já sobre o Orçamento de Estado para 2021, Marcelo Rebelo de Sousa nota que o mais “natural” é que este seja viabilizado à esquerda e não por uma solução de bloco central. “O natural é passar à esquerda, a ser viabilizado pelos parceiros que viabilizaram na última legislatura sucessivos orçamentos. É isso que o Governo tem dito e é isso que resulta também da posição do líder da oposição. Espero que isso aconteça e que tenhamos orçamento para entrar em vigor no dia 1 de janeiro de 2021″, referiu, acrescentando que não considera o bloco central como uma boa solução.

Penso que o que é natural é que seja viabilizado à esquerda e não por outra solução. O bloco central nem é uma solução duradoura nem é uma boa solução para o equilíbrio do sistema político português. Para o equilíbrio do sistema político português é bom que haja uma solução de esquerda e uma alternativa de direita”, sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República insistiu que “é muito importante” para o país que o Orçamento de Estado para 2021 não conheça, no momento da votação final global, e desde logo na generalidade, uma “inviabilidade”. “Aquilo que me preocupa mais é que o orçamento seja viabilizado. É preciso que passe”, referiu.