O Sevilha levantou o troféu há um mês e três dias. O Bayern tornou-se campeão europeu em Lisboa há um mês e um dia. Uma separação extremamente curta, atipicamente curta, entre as duas finais europeias que consagraram espanhóis e alemães e a Supertaça Europeia que esta quinta-feira os colocava frente a frente. Em Budapeste, o Sevilha de Lopetegui, que respeitou a tradição do clube e não deixou fugir a Liga Europa, encontrava o Bayern de Hansi Flick, que confirmou o estatuto de favorito e voltou a vencer a Liga dos Campeões.

O último mês e três dias, porém, trouxe algumas mudanças aos dois conjuntos. Éver Banega, um dos melhores do Sevilha na final em que os espanhóis bateram o Inter Milão, deixou Espanha e a Europa e abriu as portas de uma reforma dourada na Arábia Saudita, ao serviço do Al-Shabab. Já Reguilón, lateral esquerdo que se tornou indispensável para Lopetegui, partiu para Inglaterra e para o Tottenham e é um dos reforços de José Mourinho em Londres. Por outro lado, Acuña trocou o Sporting pelo Sevilha, o guarda-redes Bono também chegou, Rakitic regressou vindo do Barcelona e Óscar Rodríguez, médio de 22 anos que era da formação do Real Madrid, reforçou o meio-campo.

Ficha de jogo

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Bayern Munique-Sevilha, 2-1

Supertaça Europeia

Puskás Arena, em Budapeste (Hungria)

Árbitro: Anthony Taylor (Inglaterra)

Bayern Munique: Neuer, Pavard, Sule, Lucas Hernández (Alphonso Davies, 99′), Alaba (Boateng, 112′), Goreztka (Javi Martínez, 99′), Kimmich, Sané (Tolisso, 70′), Müller, Gnabry, Lewandowski

Suplentes não utilizados: Ulreich, Nubel, Cuisance, Zirkzee, Fein, Tillman, Richards, Musiala

Treinador: Hansi Flick

Sevilha: Bono, Jesús Navas, Diego Carlos, Koundé, Escudero, Fernando, Jordán (Vázquez, 94′), Rakitic (Óliver Torres, 55′), Suso (Gudelj, 72′), Luuk de Jong (En-Nesyri, 55′), Ocampos

Suplentes não utilizados: Vaclik, Javi Díaz, Sergi Gómez, Munir, Óscar Rodríguez, Acuña, Carlos Fernández, Gil

Treinador: Julen Lopetegui

Golos: Ocampos (gp, 13′), Goretzka (34′), Javi Martínez (104′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Alaba (12′), a Jordán (45+1′), a Koundé (55′), a Sané (70′), a Lucas Hernández (90+1′), a Escudero (119′)

Do outro lado, e depois de marcar dois golos à equipa a que ainda pertencia na escandalosa goleada por 2-8, Philippe Coutinho terminou o período de empréstimo ao Bayern e regressou ao Barcelona. O mesmo destino tiveram Perisic e Odriozola, cedidos por Inter Milão e Real Madrid, que também voltaram ao clube de origem. A saída mais importante, porém, terá sido a de Thiago Alcântara, que — e tal como Banega no Sevilha — foi o melhor em campo na final contra o PSG e rumou ao Liverpool. Por outro lado, o guarda-redes Nübel e o central Nianzou chegaram a custo zero de Schalke 04 e PSG e Leroy Sané, numa transferência mais do que previsível, deixou o Manchester City a troco de 45 milhões de euros e aterrou em Munique.

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Ou seja, e pesando todas as saídas e entradas das duas equipas, Sevilha e Bayern tinham desde logo algo em comum à entrada para esta Supertaça Europeia: ambos perderam os jogadores que estiveram em destaque nas respetivas finais europeias. Banega de um lado, Thiago do outro. E esta quinta-feira tinham o primeiro grande teste sem os dois experientes médios. Na Puskás Arena, que substituía o originalmente agendado Estádio do Dragão depois de a UEFA ter decidido alterar o local do jogo, Lopetegui e Flick olhavam pela primeira vez para as respetivas equipas sem os dois maestros que fizeram a diferença nos últimos anos.

Nos espanhóis, Óliver, Acuña e Gudelj eram todos suplentes, enquanto que o reforço Rakitic era titular no meio-campo; no ataque, Ocampos e De Jong eram os homens em destaque. Do outro lado, Javi Martínez, Alphonso Davies e Boateng estavam todos no banco, com Pavard e Sule a assumirem a titularidade. Os primeiros minutos trouxeram um Bayern algo cinzento e pouco característico, com algumas dificuldades em acertar no posicionamento e nas zonas de pressão à equipa adversária. Do outro lado, e mesmo com menos bola, o Sevilha parecia mais solto e com menos nervosismo, pronto para causar o pânico entre as linhas da defesa adversária.

E ainda antes de estar cumprido o primeiro quarto de hora, os espanhóis colocaram-se em vantagem. Luuk De Jong recebeu um cruzamento na grande área e amorteceu para Rakitic, que estava pronto para atirar à baliza de Neuer mas foi carregado em falta por Alaba. Na conversão da grande penalidade, Ocampos não deu hipótese (13′) e colocou o Sevilha a ganhar na Supertaça Europeia. O golo espicaçou o Bayern, que passou a atuar quase por inteiro no meio-campo adversário, e os espanhóis estavam confortáveis no ato de esperar pela equipa de Hansi Flick sem se comprometerem e lançar-se para o contra-ataque em situação de recuperação de bola. Pelo meio, o Bayern ia criando oportunidades: Müller ia marcando mas a bola desviou num defesa adversário (22′), Pavard rematou ao lado (26′) e Lewandowski permitiu a defesa de Bono (30′). Mesmo com a tranquilidade espanhola, adivinhava-se o golo dos alemães — que apareceu no culminar de uma jogada deliciosa de trabalho coletivo.

Müller apareceu tombado na direita e cruzou de trivela para o coração da grande área. Lewandowski recebeu em andamento, de costas para a baliza, e amorteceu para Goretzka, que de primeira e com um grande pontapé não deu qualquer hipótese a Bono (34′). Na ida para o intervalo, ficava a ideia de que o Bayern só precisava de um impulso e de um segundo de maior inspiração para ser notoriamente superior ao Sevilha; mas por outro lado, também ficava a sensação de que o Sevilha tinha tudo o que era preciso para surpreender o Bayern.

Numa segunda parte que começou sem alterações, Neuer evitou o segundo golo dos espanhóis logo nos primeiros instantes, ao parar um desvio de Sule que quase acabou em autogolo (46′). Apesar disso, foram os alemães a colocar a bola na baliza contrária: Lewandowski e Sané marcaram mas ambos os lances foram anulados, primeiro por fora de jogo do avançado (51′) e depois por falta do mesmo polaco (64′). Lopetegui reagiu à notória superioridade adversária com uma dupla alteração, lançando En-Nesyri e Óliver Torres, e o Sevilha usufruiu de alguns minutos de alívio e maior espaço.

Hansi Flick trocou Sané por Tolisso, o Bayern tinha mais bola e conseguia aplicar períodos de minutos consecutivos no último terço adversário mas o Sevilha mostrava a espaços que poderia chegar ao golo num lance simples de transição rápida. Com o avançar do relógio, a posse de bola dos alemães foi aumentando — enquanto que Lopetegui pedia à equipa que subisse no terreno para não ficar tantas vezes reduzida à própria grande área. O Bayern recuperava a bola numa zona muito elevada do relvado e não se desgastava tanto, enquanto que o Sevilha já optava por defender à zona e não ao homem para não deixar espaços soltos à procura da inspiração alheia. O último quarto de hora pertenceu por inteiro aos vencedores da Liga dos Campeões mas a derradeira grande oportunidade para evitar o prolongamento pertenceu aos espanhóis. Navas comandou um contra-ataque muito rápido, na sequência de um canto na área de Bono, e assistiu En-Nesyri, que permitiu a defesa de Neuer na cara do guarda-redes alemão (87′).

No prolongamento, En-Nesyri ainda voltou a ter nos pés a vitória, ao acertar no poste, mas o golo decisivo estava reservado para um espanhol — ainda que do lado dos alemães. Mesmo na ponta final da primeira parte do tempo adicional, Alaba rematou na sequência de um canto, Bono defendeu por instinto para a frente e Javi Martínez apareceu no coração da grande área a cabecear para o fundo da baliza (104′).

O Bayern chegou ao 23.º jogo consecutivo a ganhar, o Sevilha perdeu pela primeira vez depois de 21 partidas seguidas sem derrotas. Os dois sempre-em-pé europeus defrontaram-se, empurraram-se durante 120 minutos e só um caiu: no fim, os alemães conquistaram a Supertaça Europeia pela segunda vez, depois da vitória de 2013, juntaram o troféu à Liga dos Campeões e voltaram a confirmar que são a melhor equipa a jogar futebol na Europa atualmente.