A jovem sueca Greta Thunberg continua a ser o principal rosto, mas milhares estiveram esta sexta-feira na rua pelo mesmo objetivo de exigir medidas para combater as alterações climáticas em mais de 3.000 protestos pelo mundo.

A partir de Estocolmo, onde encabeçou uma manifestação com dezenas de outros jovens em frente ao parlamento sueco, Greta Thunberg declarou que o movimento de protesto “Fridays for Future” quer “aumentar a pressão sobre quem tem o poder” até que algo mude nas orientações dos países sobre combustíveis fósseis, energias e outros fatores determinantes no combate às alterações climáticas.

Em Berlim, capital da Alemanha, milhares de jovens estiveram junto à Porta de Brandeburgo apesar da chuva, enquanto um cortejo de ciclistas ligou a principal estação de comboios à baixa da cidade. Num contexto de restrições a grandes concentrações de pessoas, a polícia diz que foram 10.000, mas a organização refere mais do dobro, apontando para 21.000, com mensagens como “não me queimem o futuro”.

Frankfurt, Bona e Colónia foram palco de outras manifestações de jovens pelo clima, num total de 450 iniciativas realizadas em cidades da maior economia europeia, em que uma das mensagens foi de crítica ao governo de Angela Merkel, que pretende continuar a explorar minas de carvão por mais quase 20 anos.

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Ao lado, na Áustria, vários milhares juntaram-se na capital, Viena, numa mobilização que resistiu à chuva e em que a organização promoveu o distanciamento físico entre as pessoas. No regresso à rua depois de meses de confinamentos e restrições de movimentos, a sexta-feira de protesto foi também assinalada na Escócia, em Edimburgo, em números mais pequenos, com dezenas de estudantes universitários e da secundária em frente ao parlamento escocês.

Em Bruxelas, capital das instituições europeias, uma centena de pessoas reuniu-se no centro da cidade para marcar o dia das “Sextas-feiras pelo futuro”, apesar das restrições às concentrações que vigoram na Bélgica.

Fora da Europa, milhares marcaram presença em países como a Austrália, Coreia do Sul, Índia ou Japão, apelando para que a assembleia-geral da ONU, que decorre até dia 30, adote medidas urgentes para permitir o cumprimento do Acordo de Paris, para limitar o aumento da temperatura global.

Nas cidades australianas de Sydney, Melbourne e Perth, grupos pequenos de manifestantes exigiram ao seu governo a transição do país para fontes de energia 100 por cento renováveis até 2030 e criticaram a opção pelo financiamento de combustíveis fósseis, que mobilizam o equivalente a cerca de 7,2 mil milhões de euros da receita fiscal australiana.

Na capital japonesa, Tóquio, os jovens da “Fridays for Future” deixaram dezenas de sapatos no chão em frente ao edifício do parlamento com mensagens apelando para ação urgente, uma opção tomada para evitar concentrações de pessoas, ao mesmo tempo que promoveram petições na Internet contra os combustíveis fósseis.

Os manifestantes na Índia, país com o segundo maior número de casos de Covid-19 (5,8 milhões) também apostaram em iniciativas online, como seminários sobre as alterações climáticas, no dia em que o governo indiano e a União Europeia anunciaram cinco projetos comuns no setor das energias “limpas”.

Longe de tudo mas no centro do problema, uma única manifestante, a jovem britânica Mya-Rose Craig, tinha marcado no domingo a sua posição ao colocar-se sobre um pedaço de gelo que se separou da calota polar, a norte das ilhas Svalbard, na Noruega.

Portugal também marchou pelo ambiente

Centenas de pessoas, na sua maioria jovens, iniciaram esta sexta-feira pelas 17h uma marcha no centro de Lisboa a exigir novas políticas para o ambiente.

Com cartazes onde se lê “sobrevivência não é utopia” e “gás, petróleo e carvão debaixo do chão” a marcha iniciou-se na Praça do Marquês de Pombal e vai terminar no Rossio com discursos de várias organização de defesa do ambiente.

Em Coimbra, cerca de 30 a 40 jovens, com máscaras e distanciados entre si, concentraram-se no Jardim Botânico e seguiram até à Praça 8 de Maio, gritando palavras de ordem como “Não há planeta B” e “Mudem o sistema, não mudem o clima”.

Nos cartazes e tarjas que envergavam, podia-se ler “O Capitalismo não é verde”, “Portugal sem furos” ou “Não à mina, Sim à vida”.

No Porto, cerca de 40 jovens concentraram-se na Avenida dos Aliados, no Porto, para “pedir ajuda a salvar o planeta” e, devido às regras impostas pela pandemia, outros tantos se fizeram representar por pares de sapatos espalhados pelo chão.

De todos os tamanhos, géneros e cores, cada par de sapatos, sapatilhas, sandálias ou botas representava uma pessoa e tinha, no seu interior, uma flor e uma mensagem que, embora escrita ou ilustrada de maneira diferente, lembrava o mesmo: “não há planeta B”.

Em Évora, um grupo de sete jovens concentrou-se junto ao Templo Romano. Todos de máscara de proteção, pintaram cerca de uma dezena de cartazes na estrutura metálica que delimita a área do monumento.

“Por uma transição climática justa”, “A terra esgotou a sua paciência e nós também”, “Eco>Ego” e “Keep the earth clean (Mantenha a terra limpa)” eram as frases de alguns dos cartazes de papelão e pano afixados na estrutura.

Ministro diz que mobilização climática dos jovens é a “melhor das causas”

O Ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, classificou como “a melhor das causas” a iniciativa de mobilização climática desta sexta-feira.

Esta é a melhor das causas, esta é mesmo a melhor das causas, devendo todos, e mormente os estudantes portugueses, também saber reconhecer que Portugal foi o primeiro país do mundo que decidiu ser neutro em carbono em 2050 e que, por exemplo, no ano passado Portugal consumou um excelente divórcio, o divórcio entre aquilo que é o crescimento da economia e o crescimento das emissões”, afirmou Matos Fernandes.

Segundo o ministro, em 2019, ano em que a economia portuguesa cresceu 2,3%, “enquanto na zona euro as emissões reduziram em 4,2% em Portugal reduziram-se 8,5%”.

Portugal é, defendeu Matos Fernandes, “um belíssimo exemplo da redução das emissões (…), na introdução da mobilidade elétrica e na parcela de eletricidade que é gerada a partir de fontes renováveis, 57%”, sendo “um dos países que mais se destaca na Europa”.

Não encontro causa mais justa para que os nossos jovens se manifestem do que esta, a de lutar por um mundo hipocarbónico, um mundo que regenera recursos, um mundo e uma economia que caibam dentro dos limites do sistema terrestre”, frisou o ministro.