Passou cerca de uma semana desde o arranque do ano letivo e o balanço, até agora, é positivo. Foi pelo menos o que transmitiu a diretora-geral da Saúde (DGS) na conferência de imprensa desta sexta-feira. Graça Freitas disse que os “surtos em escolas têm sido de pequena dimensão” e que isso tem permitindo “uma intervenção direcionada”.

“Quando apenas acontece um caso, esse caso pode não vir detetado e sinalizado na grelha de surtos, porque é um caso individual, mas pode originar que alguns contactos vão para casa”, explicou a responsável.

Já sobre a diferença dos critérios usados para responder a casos positivos em estabelecimentos de ensino, Graça Freitas disse que tudo depende de se a escola foi mais ou menos eficaz a implementar as medidas preventivas. Se estiver implementado um sistema de bolhas — em que alunos, professores e funcionários não se cruzam fora da sua bolha —, a existência de um caso positivo só deverá obrigar ao envio de uma turma para casa. Porém, se o sistema de bolhas não for respeitado, um caso positivo poderá obrigar ao envio de toda a comunidade escolar para isolamento.

“Não se trata de não haver uniformização de critérios, trata-se de situações diferentes em que as medidas preventivas não foram tomadas da mesma maneira”, justificou Graça Freitas.

De um ponto de vista mais alargado, há 287 surtos ativos no país neste momento, segundo anunciou a ministra da Saúde, Marta Temido, também na conferência de imprensa. Do total, 124 são no Norte, 31 no Centro, 93 em Lisboa e Vale do Tejo, 17 no Alentejo e 22 no Algarve.

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Boletim DGS. Portugal regista quarto pior dia desde o início da pandemia e o pior de setembro

No Norte e na região de Lisboa, mais de metade das camas nos cuidados intensivos estão ocupadas

Nos últimos sete dias, registaram-se em Portugal uma média de 47,4 novos casos por 100 mil habitantes, detalhou a ministra, salientando a taxa de incidência a 14 dias é 89,8 casos por 100 mil habitantes. O Instituto Ricardo Jorge também atualizou os seus números para a estimativa do risco de transmissibilidade: o valor do “R” para os dias 16 a 20 de setembro é de 1,09 em todo o país — um pouco mais baixo do que nos dias anteriores, salientou Marta Temido.

No SNS existem 21 mil camas de internamento, disse a ministra da Saúde, detalhando que 5.498 são na região Norte e 7.083 na região de Lisboa e Vale do Tejo. Em termos de camas de cuidados intensivos afetas à Covid-19, o Norte tem 41, das quais 26 estão ocupadas. Em Lisboa e Vale do Tejo, 54 das 85 camas de cuidados intensivos destinadas à pandemia estão ocupadas. Temido adiantou que a capacidade pode ser expandida, uma vez que a gestão das camas é flexível entre unidades.

Desde o início da pandemia, 4.914 profissionais de saúde já contraíram o coronavírus, adiantou Graça Freitas, destacando que o grupo mais afetado foi o dos enfermeiros (1.418), seguido dos assistentes operacionais (1.395) e dos médicos (623). “Mais de 4 mil destes profissionais já foram dados como recuperados”, assinalou Graça Freitas, sublinhando a “boa notícia”.

Sobre os lares de idosos, a ministra garantiu que estas estruturas continuam a ser a principal prioridade das autoridades e lembrou que existem 76 lares com casos ativos de Covid-19.

Ministra recusa falar em segunda vaga. E diz que Portugal está numa “terceira fase” da pandemia

A ministra da Saúde destacou que Portugal, ao contrário de outros países europeus, como Espanha, está numa “terceira fase” da pandemia. “Alguns países, como Espanha, enfrentaram uma primeira vaga, depois atingiram um nível perto da base, e agora estão claramente numa segunda fase. A nossa situação portuguesa, pela análise das curvas epidemiológicas, merece outro tipo de análise”, disse Temido.

“Agora estamos num terceiro momento. Não sei se é tecnicamente correto chamar-lhe segunda, eu diria que é uma terceira fase do que nós temos enfrentado no terreno”, afirmou a ministra. Depois da primeira fase no início da pandemia, “a segunda fase foi muito acentuada em junho e julho em Lisboa e Vale do Tejo”, destacou.

Ministra tem reticências quanto do “semáforo de risco” e prefere abordagem “não estigmatizante”

Questionada com a possibilidade da introdução, em Portugal, de um sistema tipo “semáforo” do risco de transmissão do vírus, como foi admitido pelo secretário de Estado António Lacerda Sales esta semana, Marta Temido lembra que a designação “semáforo” é usada em alguns países, mas não está diretamente prevista no plano Outono/Inverno para Portugal.

As cores, como em tudo na vida, têm algumas limitações”, disse a ministra.

“Temos de robustecer essa classificação por outros critérios”, acrescenta, sublinhando que Portugal “se tem destacado”, quer pela proporcionalidade das medidas, quer pela abordagem “não estigmatizante” — e destacou que é preciso evitar outros significados associados às cores.

Como funciona o semáforo para zonas de risco que o Governo admite implementar em Portugal?

A ministra e a diretora-geral da Saúde debruçaram-se também sobre a questão dos tempos da quarentena. Sublinhando que o período base são os 14 dias — o período de incubação do vírus —, as responsáveis referem que o estudo prossegue sobre a possibilidade de baixar, em algumas situações, o período para 10 dias. “Estamos a analisar se aos 10 dias é seguro, mas com várias condições. Uma pessoa que sair de uma quarentena ao décimo dia, ainda vai ter de manter o compromisso social de usar máscara, manter a distância, abster-se de uma série de coisas”, disse Graça Freitas, acrescentando: “Isto não é uma medida que se possa tomar de ânimo leve.”

Instituto Ricardo Jorge está a avaliar nova geração de testes rápidos. Dados preliminares de outros países sugerem que poderão funcionar bem

A conferência de imprensa sobre a pandemia contou com a presença de Raquel Guiomar, perita do Instituto Ricardo Jorge, para apresentar detalhes técnicos sobre os vários métodos de testagem. “O teste de referência, atualmente recomendado pela DGS, é o teste PCR em tempo real, que permite ter um resultado com elevada fiabilidade”, explicou a perita. Raquel Guiomar acrescentou que existem, além destes, testes que medem a presença de anticorpos específicos para a Covid-19 e que devem ser utilizados para avaliar a imunidade nas populações — os testes serológicos.

Estes testes de deteção de anticorpos, nomeadamente em casos de doença mais severa, podem ser um complemento a toda a informação laboratorial e clínica, e permitem fazer a melhor gestão do doente”, explicou a perita.

Já sobre os testes rápidos, Raquel Guiomar diz que está a ser avaliada uma nova geração de testes, depois de os primeiros testes rápidos não terem sido recomendados pelo Instituto Ricardo Jorge na primeira fase da pandemia, por não apresentarem resultados coincidentes com os do método de referência. “Estes novos testes têm vantagens, permitem obter um resultado de forma rápida, são de baixa complexidade de execução e permitem fazer o diagnóstico perto do doente”, explicou a perita. Porém, existem “critérios de utilização e de seleção”, sobre os quais o instituto ainda se vai debruçar.

Estes testes devem ser usados em casos sintomáticos, cujos sintomas tenham começado há menos de sete dias, acrescentou Raquel Guiomar. Dados preliminares de avaliações do desempenho destes testes noutros países indicam que poderão resultar bem, disse ainda a perita.

Graça Freitas diz que não recebeu nenhum pedido de parecer sobre convite do Benfica a sócios para verem jogo na tribuna

A diretora-geral da Saúde disse desconhecer que tenha dado entrada nas autoridades de saúde qualquer pedido de parecer do Benfica relativamente à possibilidade de 20 sócios assistirem ao Benfica-Moreirense deste sábado na tribuna presidencial.

Sobre o caso do Vitória de Guimarães, que recebeu um parecer desfavorável sobre o sorteio de 40 sócios para assistirem nos camarotes aos jogos do clube, Graça Freitas disse não se poder pronunciar pois o parecer foi emitido pela autoridade de saúde regional — que tem competência para avaliar os casos.

Portugal faz em média mais de 18 mil testes por dia. Já foram reportados 76 casos pela aplicação Stayaway Covid

A ministra da Saúde revelou ainda que, no mês de setembro — até esta sexta-feira –, foram realizados uma média de 18.238 testes por dia. “Continuamos a realizar um número crescente de testes”, afirma Marta Temido, sublinhando que o dia 16 de setembro foi aquele em que se fizeram mais testes em Portugal: 23.453. Dos testes realizados, cerca de 48% são feitos em laboratórios públicos, 41% em laboratórios privados e 11% nas universidades.

Graça Freitas apresentou ainda detalhes sobre a vacinação contra a gripe este ano: o país já tem 335 mil doses da vacina para a primeira fase, assinalou a responsável, sublinhando que os residentes em lares de idosos serão vacinados, como tradicionalmente, nos próprios lares pelos enfermeiros do centro de saúde local.

Marta Temido repetiu ainda o apelo ao download da aplicação Stayaway Covid e destaca que já foram reportados 76 casos positivos através da aplicação.